Allef Gustavo Silva dos Santos

 

UMA BREVE DISCUSSÃO SOBRE ORIENTALISMO EM EDWARD SAID

 

O presente trabalho, de natureza histórico-epistemológica, é fruto de indagações a respeito do tema orientalismo, tentando compreender o que está por trás de uma escrita sobre o Oriente a partir do Ocidente. Nasceu esta ideia, sobretudo, da particular falta de compreensão do autor a respeito do assunto e sua necessidade peculiar em buscar a fonte das ideias e causas a que os indivíduos se submetem em prol do interesse comum. Toma-se como ponto de partida as reflexões contidas em “Orientalismo” cuja autoria pertence a Edward Said, e literatura auxiliar em Certeau, A escrita da História, Momigliano, As raízes clássicas da Historiografia Moderna. Pautando-se, a escrita deste artigo, pela metodologia bibliográfica, com a análise textual crítica motivada pelos questionamentos que fundamentaram o nascimento do trabalho ora escrito.

 

Introdução

É um tanto difícil, para o autor, trabalhar uma análise epistemológica da escrita de Edward Said em “Orientalismo”, pela particular complexidade da mesma, no entanto, aprouve-se depois da leitura da obra e textos auxiliares, definir as categorias pelas quais o artigo deveria ser tecido, de maneira a tender uma gradação desde os temos ou o termo específico orientalismo até sua implicação nas correntes de pensamento que influenciam a cultura e as ideias no meio científico. Aliás, esta parece ser a linha do autor do livro, pois entende uma narrativa científica sobre o Oriente a partir do Ocidente, com pé nas “autoridades” do conhecimento científico, seja ele historiográfico, antropológico, linguístico, sociológico, biológico, entre outros, que formam uma teia de poder no discurso, sem deixar de sair deste, para tomar forma material na visão e representação dos pesquisadores posteriores sobre o mesmo ambiente geográfico, que por séculos rivalizou com o Ocidente em termos de cultura.

Desta maneira, compreendemos por orientalismo, primeiramente uma necessidade histórica ocidental de representar a parte oriental do globo, sob sua ótica. E em segundo lugar, sua institucionalização no meio acadêmico, conferindo ares de autoridade científica a esta narrativa. O meio no qual a comunidade acadêmica esta inerida, acaba por torna-la um ciclo vicioso de interpretações ocidentais sobre o oriente, na medida em que revisamos mais a literatura de “nossos” cânones do saber científico, sem percebermos que o discurso como representação, fica distante da realidade a qual queremos descrever e, a utilização de uma visão já pré-moldada, sobre um indivíduo de cultura diferente, torna essa distância, entre a representação discursiva e a realidade, muito maior, e carregada, como veremos na obra, de uma necessidade de poder sobre o outro. Encontrando em Momigliano [2004], uma base historiográfica para a compreensão do nascimento da historiografia moderna, e sua estreita relação com o Oriente antigo. Já em Certeau [1982], busca-se fundamentação epistemológica da ciência História, seu lugar, seus métodos e sua institucionalização, no meio acadêmico-científico.  

Por fim, o que este trabalho visa, é uma reflexão objetiva sobre a escrita científica do outro, a fim de considerar as relações de poder presentes no discurso, seja ele acadêmico ou não, no que diz respeito a uma temática ligada a visão do Ocidente encima do Oriente. Destacando e, não desmerecendo a literatura oriental de viés ocidental, como fonte, mas não como descrição intrínseca do que seja o Oriente, pois para isso, compreende-se aqui que seja mais proveitoso uma visão do mesmo, contada por ele próprio.

 

Orientalismo como visão histórico-antropológica

Comecei com a suposição de que o Oriente não é um fato inerte da natureza. Não está meramente lá, assim como o próprio Ocidente não está apenas lá. Devemos levar a sério a notável observação de Vico segundo a qual os homens fazem sua própria história, e que só podem conhecer o que fizeram, e aplicá-la a geografia: como entidades geográficas e culturais - para não falar das entidadeshist6ricas - lugares, regiões setores geográficos tais como o “Oriente" e o "Ocidente” são feitos pelo homem. [SAID, 1990, p. 16].

Desde Heródoto temos uma visão do oriente, com tentativa de submeter ao conhecimento ocidental, uma representação histórico-antropológica dos homens e mulheres da banda leste do globo terrestre. Não só especificamente dos indivíduos em si, mas de sua cultura, prodígios sociais, políticos, econômicos e linguísticos, fazendo com que percebamos uma lógica narrativa no intuito de dissecar minuciosamente um “objeto”, sem lhe conferir no âmbito do discurso, uma existência física independente, o que só seria possível, se o objeto fosse tratado como ente dinâmico, com autoridade sobre si, trazendo para a discursão sua própria fala.

Perpassando por estudos das civilizações ao desenvolvimento da língua e os meios pelos quais se torna presente na estrutura do desenvolvimento humano e social, tais bases lançam uma fala sobre o Oriente, o representando no âmbito histórico. Sem desmerecermos os avanços do conhecimento historiográfico e de demais ciências sobre os povos orientais, fundamenta-se a noção de um modelo representativo para estes povos, com a sistematização do conhecimento Ocidental. Edward Said estuda o orientalismo de uma perspectiva cultural crítica, buscando entender, pelos meandros do discurso científico, a impossibilidade de se ouvir a voz do outro neste mesmo discurso.

O modelo histórico-antropológico existe possivelmente desde o século II a.C., com ancoragem nas memórias deixadas pelas imagens de Heródoto e Alexandre. Um e outro com projetos para o Oriente tecidos na área cultural, por isso segundo o autor, ambos se tornaram modelos, e quem quer que passasse ao leste via a figura dos dois, pois “haviam estado no Oriente antes”. [SAID, 68] Isso é importante para conceber a o desenvolvimento do discurso voltado para os estudos orientais, embasando o nascimento de uma espécie de cientificismo orientalista numa perspectiva de modelos antropológicos e históricos de acordo com uma visão ocidentalista de mundo. O que para Said nas entrelinhas reforçaria uma espécie de submissão em relação ao Ocidente. Mas diante de sua defesa do orientalismo por estudiosos orientais, busca reformular este modelo, sem perder de vista os métodos próprios das ciências, o autor primeiramente analisa a lógica de uma gama de produções caracterizadas como orientalistas, no intuito de perceber a composição como uma autoglorificação, ou seja, há medida em que os ocidentais descrevem o Oriente, e isto cabe também os orientais, revela-se uma reafirmação dos valores tidos como ocidentalizantes, como liberdade e racionalidade, dentre outros, suscitando os questionamentos que nortearão o desenvolvimento de sua pesquisa:

De um lado estão os ocidentais, do outro os orientais-árabes; Os primeiros são (sem nenhuma ordem em especial) racionais, pacíficos, liberais, lógicos, capazes de ter valores reais, sem desconfiança natural; os últimos não são nada disso. De que visão coletiva e, no entanto, particularizada, do Oriente surgem essas declarações? Que técnicas especializadas, que pressões imaginativas, que instituições e tradições, que forças culturais produzem tal semelhança nas descrições do Oriente encontradas em Comer, Balfour e nos nossos estadistas contemporâneos? [SAID, 1990, p. 59].

Convém agora, para uma familiaridade maior com as suscitações trazidas diante deste fragmento, recorrermos ao livro de Michel de Certeau, A escrita da História, para fundamentar as conjecturas do autor acerca dos dados do “fazer historiográfico”, pois compreendemos a historiografia enquanto ciência na medida em que a abordamos como objeto de análise epistemológica. Um dos aspectos que mais chama atenção no fragmento retirado do livro de Said, é a ideia de instituição. Neste caso uma instituição formadora e fundamentadora do pensamento da ciência que nos ocupa. Instituição em primeira medida com um corpus doutrinário, ou diretrizes que seguem uma linha específica. É nesta medida em que se processa a institucionalização do saber historiográfico, aliás, de qualquer ciência moderna, onde, no caso da História “supondo-se um distanciamento da tradição e do corpo social, a historiografia se apoia, em última instância, num poder que se distingue efetivamente do passado e do todo da sociedade. O `fazer história" se apoia num poder político que criou um lugar limpo (cidade, nação, etc.)” [CERTEAU, 1982, p. 13].

Assim, não é por acaso que autores ocidentais ou mesmo orientais, em alguns casos, mergulham nos estudos orientalistas, já com algumas diretrizes do pensamento definidas pela normatização de uma ciência que tem um lugar de nascimento e uma instituição, que regula seus métodos, fornecendo inclusive modelos pelos quais seus filiados embasarão suas teses.

O homem oriental seria uma espécie de oposto ao homem ocidental, mas o segundo necessita de seu domínio sobre o primeiro, na medida em que faz a sua imagem a partir da descrição do outro, pelos seus termos. Caso interessante, é que a historiografia moderna busca problematizar estes modelos, cientificamente concebidos, como sendo passíveis de erros e também como uma ideia de controle ideológico da fala ou do discurso.

Neste caso, o modelo histórico-antropológico é aqui definido como uma visão de termos científicos ocidentais sobre o Oriente, auxiliando a produção do conhecimento acadêmico de cunho orientalista. Quais termos? podem perguntar os leitores. Em sua maioria termos de oposição, como modelos pelos quais tentam enquadrar a visão oposta: liberdade e democracia, se ajustam na assertiva. Tratando-se o Oriente como fonte de estudos, as pesquisas não fariam outra coisa a não ser “enrobustecer”, a já enorme gama de escrita Ocidental sobre seu vizinho do leste, e mesmo que um legítimo oriental resolvesse desenvolver suas pesquisas sobre o Oriente, teria que se desvencilhar da estrutura normatizadora do conhecimento científico histórico com seus métodos e lugar no Ocidente e “Hoje em dia é menos provável que um orientalista chame a si mesmo de orientalista que em qualquer época à Segunda Guerra. Mas a designação continua sendo útil, como no caso das universidades que mantêm programas ou departamentos de línguas orientais”[SAID, 1990, p. 63].  

 

A produção acadêmica no orientalismo  

Pela primeira vez, o Oriente era revelado à Europa na materialidade dos seus textos, línguas e civilizações. Também pela primeira vez a Ásia adquiriu uma dimensão histórica e intelectual precisa, com a qual podia escorar mitos da sua distância e vastidão geográficas. Por uma dessas inevitáveis compensações abreviantes de uma súbita expansão cultural, os trabalhos de Anquetil foram sucedidos pelos de Willian Jones, o segundo dos projetos pré-napoleônicos que mencionei acima. [SAID, 1990, p. 86] 

Não se pode fazer neste minúsculo artigo, menção a todas as obras das quais Said fundamenta suas teses em Orientalismo, porém, é possível desenvolver pequenas compreensões interpretativas à medida em que os fragmentos de seu texto nos impõem uma gradação. Neste, em específico, é interessante observar uma quebra de paradigma nos estudos orientais. O de fundamentação teórico metodológica a partir de um escrito produzido por um oriental sobre o Oriente. E como complemento a esta breve discussão, pretende-se recorrer agora a Momigliano, As raízes Clássicas da Historiografia Moderna, como ponto fundamental para compreendermos que a historiografia como a conhecemos hoje, vem de bases metodológicas aperfeiçoadas que remontam às civilizações do Oriente antigo.

Aprofundando Momigliano sobre a historiografia judaica e grega, conjectura a possibilidade de influência persa, seja no modelo da escrita ou modelo narrativo, caracterizado pela cultura específica. Nesta medida, a história se aproxima da tradição literária. Uma tradição que mistura mitos ou uma narrativa próxima da mitológica para lançar as bases do nascimento de sua civilização. Basta recorrermos às várias obras historiográficas de fundação dos estados nacionais, para compreendermos que este fator ainda predomina. Observa ainda o autor, a necessidade já no tempo do império persa, de buscar separar as ações humanas e as ações míticas reputadas aos deuses, a ideia de perspectiva, de olhar sobre o conjunto do que se escreve e domínio da escrita:

“O rei da Pérsia confia em seus próprios deuses, mas as intervenções divinas de forma miraculosa não são mencionadas. A perspectiva é aristocrática e não teológica. O orgulho que os aquemênidas tinham de seus ancestrais é evidente. Dario enfatiza a sua superioridade física e moral: seus inimigos representam a mentira e ele a verdade”[MOMIGLIANO, 2004, p. 25].

Se os gregos desenvolveram as bases da historiografia ocidental não foi sem estudar os métodos orientais antigos, sobretudo os do antigo império Persa e da literatura síria. Mas o que isto tem a ver com a abordagem do trabalho ora escrito? Muita coisa, a primeira é a compreensão de que a escrita historiográfica compreende domínios alheios a institucionalização do saber historiográfico. A segunda, que nós ocidentais sofremos influência do oriente sem nos darmos conta, desde os fundamentos de nossa ciência até a maneira como a colocamos na observância dos fatos concretos. Cabe também aventar ao leitor, que o Oriente não é um lugar inerte, sem produção cultural, pelo contrário, de lá vieram tratados filosóficos formidáveis (Oriente árabe islâmico), pelos quais se serviram durante a Idade Média muitos monges católicos, além da rica literatura e epopeias. Desta maneira, deixemos os preconceitos de lado, e nos dediquemos ao que Edward Said diz sobre a produção acadêmica dentro do orientalismo.

Das páginas 82 a 101, o autor se dedica ao que compreende como projetos operacionais do orientalismo, moldados pelas visões ocidentais atuando pelos meios, cultural, militar e religioso. De Napoleão aos eruditos estudiosos da historiografia oriental lotados nos departamentos das universidades ocidentais. O orientalismo torna-se característico da narrativa historiográfica que estuda o Oriente, sem perceber a dialética presente no ato da construção teórica de um oposto. E à medida em que se fundamenta, esconde em si os “sonhos”, “imagens” e “vocabulários” [SAID, 1990, p. 82], atuando como um dicionário para os vários tipos de técnicas da escrita, a fim de servir a quem deseje falar sobre o Oriente.

Em um primeiro momento, antes das especializações sobre o conhecimento oriental, o vocabulário era um tanto homogeneizante sobre o que se poderia dispor no Oriente. Ásia, extremo Oriente, e médio Oriente se confundiam. Mas com a materialização a partir das pesquisas aprofundadas, sobre as civilizações antigas, sua escrita, sua língua, suas construções e religiões, o oriente deixou de ser homogêneo e passou a representar fonte. Fonte dos recursos empregados no desenvolvimento de suas próprias sociedades e do Ocidente próximo:

“[...] quando repositórios de conhecimentos orientais como a Bibliothéque orientale de D’Herbelot deixaram de significar primariamente o islã, os árabes ou otomanos. Até essa época, a memória cultural dava uma compreensível proeminência a acontecimentos relativamente distantes como a queda de Constantinopla, as cruzadas e a conquista da Sicília e da Espanha, mas, se isso significava o ameaçador Oriente, nem por isso apagava ao mesmo tempo, o que restava da Ásia” [SAID, 1990, p. 84].

Possivelmente fruto da divisão tradicional da historiografia ocidental, as temáticas também correspondem a uma melhor divisão dos acontecimentos históricos, o que não significa esquecimento de outros que acontecem á sua margem ou até mesmo em paralelo. Mas pelo que podemos observar, o autor nos indica que isto correspondia exatamente ao modus operandi da produção de conhecimento sobre o Oriente. Homogeneizando o desenvolvimento histórico das sociedades orientais a partir de marcos históricos ocidentais, ou de importância para o Ocidente.

É extensa a bibliografia analisada por Said, o que se torna um problema repeti-la de maneira categórica aqui, mesmo que o trabalho não pretenda ser um resumo das primeiras páginas da obra, convém reconhecer a falta de altura intelectual do autor, para reavaliar toda esta gama de autores das mais variadas nacionalidades, e ainda tentar acompanhar a discussão tecida pelo próprio Edward Said em Orientalismo. Contudo, parece que no foco em que diz respeito exatamente à produção acadêmica, podemos ter chegado ao âmago de seu desfeche, por exemplo: é uma produção gradativamente especializada; que tem interesse objetivo e subjetivo; e forma o pensamento ocidental acerca do oriente.

 

Considerações finais

Longe está, das pretensões do autor deste artigo, indicar o que é melhor para a produção orientalista e muito menos esvaziar as interpretações da obra de Edward Said. O que se propôs, e a particular crença indica ter sido alcançado, foi chamar a atenção da produção intelectual e acadêmica para a necessidade de se trabalhar com uma bibliografia produzida por orientais sobre o Oriente, e não o contrário. Plantar os questionamentos a respeito da fala e do discurso como mecanismos ideológicos.

O “Orientalismo” de Edward Said, é uma porta excelente para compreender os estudos orientalistas de uma perspectiva epistemológica, sem desmerecer tais estudos, e fundamentar uma análise crítica a respeito do Oriente com as articulações metodológicas presentes na própria obra.

 

Referências

Allef Gustavo Silva dos Santos é graduando do curso de História na UEMA. [http://lattes.cnpq.br/8644310344679645].


CERTEAU, Michel de. A escrita da História. Trad. Maria de Lourdes Menezes. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 1982.

FOUCAUT, Michel. A ordem do discurso: aula inaugural no Collége de France, pronunciada em 2 de dezembro de 1970. Trad. Laura Fraga de Almeida Sampaio; 5º ed. São Paulo: Edições Loyola, 1999.

MOMIGLLIANO, Arnaldo. As raízes clássicas da historiografia moderna. Trad. Maria Beatriz Borba Florenzano. Bauru, SP: EDUSC, 2004.

SAID, Edward W. Orientalismo: o Oriente como invenção do Ocidente. Trad. Tomás Rosa Bueno. São Paulo: Companhia das Letras, 1990.

31 comentários:

  1. Olá, Allef. Parabéns pelo texto. Ao fim do artigo você fala em estudarmos o Oriente tendo em vista, também, autores que falam de si e por si, ou seja, asiáticos. Como você acredita que as academias/escolas/instituições de ensino podem mudar essa realidade? Dado o currículo (revestido em relações de poder) eurocentrado, o etnocentrismo e a dificuldade acadêmica em falar sobre a Ásia para além de períodos ou civilizações específicas (sempre como uma espécie de apêndice da Europa), além de que raramente se fala em Índia, China, Oriente Médio e Japão, por exemplo, de maneiras mais dinâmicas, como se faz com a Europa, por exemplo?! É um exemplo do Egito, que dificilmente vemos para além do Egito Antigo, ou dos países da Indochina, que só aparecem por estarem em guerras, ou seja, envolvendo o Ocidente.



    Att,
    Kelvin Oliveira do Prado.

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    1. obrigado pelo comentário e observação Kelvin. eu apenas discorri sobre as pesquisas no âmbito da academia, nós pesquisadores, quando escrevemos trabalhos sobre esses assuntos, de maneira que não saberia analisar o caso específico das salas de aula, no entanto, diria que é um caso muito complexo, pois hoje em dia a história local tende a ganhar mais espaço, o que traria dificuldade na ampliação do currículo do aluno para o estudo do oriente, trazendo como perspectiva, as discussões tecidas no artigo.
      não sei se foi um bom esclarecimento esta minha resposta, mas agradeço sua colaboração.

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  2. Parabéns pelo texto Allef, há boas discussões e fundamentações. Farei um breve comentário e uma pergunta no final. Embora Certeau e Momigliano, partam de caminhos distintos e rejeitem, cada um ao seu modo, uma historiografia fundada no cientificismo de Vico, não há em ambos olhares interepistêmicos, apenas o reconhecimento do outro que se "ajustou" a ontologia européia como indicou Said. Pois, há muito nos dois historiadores reflexões através da "universalidade", da "objetividade" e da "neutralidade" que alheiam o que não é europeu, como por exemplo a "nós ocidentais sofremos influência do oriente sem nos darmos conta, desde os fundamentos de nossa ciência até a maneira como a colocamos na observância dos fatos concretos". Diante disso, te pergunto a leitura de Said não seria uma contraposição ao enunciado da história científica, singular e eurocentrada de Certeau e de Momigliano?
    Álvaro Ribeiro Regiani

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    1. olá professor Alvaro. Agradeço o comentário.
      na verdade não busquei aprofundar esta arte do leque de possibilidades, a serem discutidas em Said. no entanto, fundamento que longe de ser uma contraposição ao cientificismo europeu, é uma releitura do que e científico e para que serve este ser científico, na produção acadêmica principalmente. o autor, não desmerece nenhum conceito criado pelo Ocidente, mas insinua que é preciso se apropriar dos meios que formulam os conceitos e construir com propriedade a própria história. para Said, o Oriente esteve sempre na condição de objeto passivo, servindo como referente oposto, para a construção e hegemonia cultural do Ocidente, simplesmente pela supressão bibliográfica do Oriente, lavada a cabo pelos intelectuais das instituições ocidentais.
      Contudo, sua observação é muito pertinente. Obrigado mais uma vez.

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  3. Olá Allef! Parabéns pelo texto
    A obra de Said é maravilhosa para compreender essa relação e o impacto que se tem entre o mundo oriental e ocidental. Meu comentário vai no seguinte sentido, você enfatiza ao final que é preciso conhecer o oriente pelos próprios orientais, me vem muito a cabeça o livro de Spivak " Pode o subalterno falar?" Acho que valeria a leitura pra compreender o impacto do discurso nessas análises.... Você considerou o discurso na pesquisa?

    Att

    Andresa Fernanda da Silva

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    1. Brigado pelo comentário Andresa.
      Ressalto primeiro que não foi exatamente uma pesquisa, mas uma "breve discussão". segundo, considerei sim o discurso como fator ideológico de manipulação da produção intelectual e, da fala do outro.

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  4. Parabéns pelo texto, uma discussão realmente importante. Você pode indicar autores orientais que podemos utilizar em sala de aula no ensino básico? Porque os alunos costumam perguntar sobre o motivo de quase não abordarem o Oriente nos livros didáticos e acho importante trabalhar isso com eles, como você mesmo disse, da perspectiva dos próprios orientais.

    Att,
    Ana Paula Sanvido Lara

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    1. Ana Paula, muito obrigado.
      Não saberia mencionar, pois a discussão que coloco é sobre os estudos orientais, no âmbito da academia, dos quais, os autores citados por Said são bons exemplos.

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  5. Pertinente o seu texto, uma vez que representamos o homem do Oriente, criados em um imaginário muitas vezes midiático. Como você percebe que o Oriente possa ser visto pelos Ocidentais para além de Said?
    Att,
    Lidiane Álvares Mendes

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    1. Brigado pelo comentário Lidiane.
      Devemos primeiro, deixar o exotismo de lado e, conceber mais sobre bibliografia produzida nas universidades orientais, pelos próprios orientais. Mesmo estudos de África, hoje já são pautados em cima de estudiosos africanos.
      E deixar de conceber uma homogeneidade em relação ao Oriente.

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  6. Parabéns pelo trabalho Allef. Muito interessante para pensarmos em como a historiografia, influenciada pelo pensamento eurocêntrico, afeta o estudo das mais diversas culturas. Uma dúvida, você acredita que com nossa formação acadêmica podemos tentar ajudar a diminuir o preconceito aos orientais instalado na sociedade brasileira contemporânea?

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    1. Olá Ana Paula. Brigado pelo comentário e pelo questionamento.

      Acredito sem sombra de dúvidas, mas é preciso nos desvencilharmos (SEM DESMERECER), O CABEDAL BIBLIOGRÁFICO CONSTRUÍDO NO OCIDADENTE PARA REFERENCIAR O ORIENTE.

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  7. Muito bem Allef. Seu trabalho me trouxe algumas outras óticas de análise e de pensamento.
    Vou ser direta em minhas colocações. Você comenta que "sofremos influencia do oriente sem nos darmos conta". Poderia, por favor, dar alguns exemplos disso?
    Por sua vez, citando Said, menciona a Bibliothèque Orientale de D´herbelot. Gostaria de saber mais sobre o potencial dessa fonte - o que pode compartilhar a respeito?
    Grata,
    Vanessa Bivar

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    1. Olá Vanessa Bivar. Obrigado pelo comentário e pelas perguntas.
      Primeiramente, sobre a influência: eu quis intencionar que seria muita pretensão do pensamento científico eurocêntrico, desmerecer o Oriente, uma vez que a estrutura historiográfica foi construída por lá e Momigliano aponta isso, trago até uma citação dele; outro ponto seria na linguagem: de onde vem o termo "arrouba", "alcunha", "entre outros?
      a biblioteca é citada por Said e, representa para os estudos orientalistas, a meu ver, uma fonte com potencial muito grande, que deve ser popularizada entre os pesquisadores, mas em fim, é uma instituição num dos locais que mais contribuíram para a "colonização" do pensamento europeu sobre o oriente. é um cuidado que devemos ter.

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  8. Entrei agora com o meu perfil, seguem novamente os apontamentos.
    Muito bem Allef. Seu trabalho me trouxe algumas outras óticas de análise e de pensamento.
    Vou ser direta em minhas colocações. Você comenta que "sofremos influencia do oriente sem nos darmos conta". Poderia, por favor, dar alguns exemplos disso?
    Por sua vez, citando Said, menciona a Bibliothèque Orientale de D´herbelot. Gostaria de saber mais sobre o potencial dessa fonte - o que pode compartilhar a respeito?
    Grata,
    Vanessa Bivar

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  9. Parabéns pela pesquisa, é fundamental para servir de introdução sobre História Antiga, ter essa visão de um acadêmico palestino americano e Orientalismo de Edward Said é sua obra mais conhecida e um dos livros acadêmicos mais influentes do século XX. Nele, Said examinou os estudos ocidentais do "Oriente", especificamente do mundo árabe islâmico e discute que os primeiros estudos dos ocidentais naquela região eram tendenciosos e projetavam uma visão falsa e estereotipada de alteridade no mundo islâmico que facilitou e apoiou a política colonial ocidental. Como você pensa a respeito de propostas de maior inserção de histórias orientais com embasamento neste âmbito de pensadores orientais em livros didáticos de História?

    Att.
    Anderson Andryolly da Silva Macedo

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    1. Anderson, obrigado pelas considerações.
      Não foi meu objetivo tecer uma argumentação a respeito do ensino, mas posso indicar que a metodologia didática é o caminho e, a história em quadrinhos o meio. inclusive temos trabalhos aqui que falam sobre isso. Muito obrigado.

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  10. Excelente texto, você abordou muito bem as entrelinhas do orientalismo e demarcou as mazelas na historiografia. Acrescento que, a própria ilustração de estereótipos já diz muito sobre os efeitos de um olhar ocidental, pois, tanto Said, como Achille Mbembe e outros estudiosos pós colonialistas vem promovendo uma reflexão a cerca de rupturas e permanências.
    Além de Said, você poderia me indicar outro teórico sobre orientalismo?
    Estou iniciando uma imersão no tema, e seria de grande ajuda.

    E por fim, acredito na necessidade de inserir essas discussões no currículo de História, e não limitado apenas no ensino regular, como também na graduação com aspectos de Ensino Superior.

    Att, Talytha Cardozo Angelo.

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    1. Olá Talytha. Muito obrigado pelos comentários e observações.

      "Orhan Pamuk"

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  11. Este comentário foi removido pelo autor.

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  12. Boa noite Allef!
    Ainda não li a obra completa de Said, mas fiquei totalmente instigada após ler seu excelente trabalho. É interessante pensar em como a historiografia e assim como tudo que nos cerca tem essa influência do pensamento eurocêntrico.
    Meu questionamento diz respeito a essa reflexão que Said propõe, ela pode ser entendida como um processo de aculturação? Levando em consideração essa projeção ocidental sobre um oriente nas mais diversas áreas da sociedade.

    Alexia Henning

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    1. Olá Alexia Henning. Muito obrigado pelo coméntário e questionamento.
      Não. Não é aculturação. Eu definiria como um processo educacional dialético, partindo de uma auto reflexão, sobre os fundamentos de seu cabedal de conhecimentos a cerca do outro. E ao final se perguntar: de onde vem? para que serve? o que está fazendo?

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  13. Boa tarde. Ótimo texto e excelente escrita. Gosto muito de usar a discussão do orientalismo quando ministro a disciplina de História do Mundo Contemporâneo mais principalmente em História da Antiguidade, visto que a análise os discursos produzidos não são produto do colonialismo europeu do século XIX.
    As. Talyta Marjorie Lira Sousa Nepomuceno

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    1. Olá professora Talyta Marjorie... Nem precisaria dizer que gosta de exemplificar as ações do processo histórico, a partir de realidades concretas, sei bem, fui seu aluno e, agradeço muito os comentários.
      Resolvi partir de uma análise do discurso, por que longe do que todos pensam, ele tem um peso muito importante no seio acadêmico. O povo não consome um discurso lógico, bem arrumado, consome cultura, oriunda de um processo lento de incorporação do tal discurso. Mas conjecturo que não pode sempre ser assim também, pois o mito de que a raça ariana era superior às demais raças, já existia desde a idade média e, a organização científica da teoria racial só surge no século XIX, por tanto muito tempo depois da existência do tal mito, o que me faz pensar na cultura também como processo impar na formação ideológica das atitudes humanas.
      Em fim. Resolvi estudar Said por que penso que ele é um marco na discursão sobre a epistemologia historiográfica, da metodologia de análise do discurso acadêmico científico, entre outros.

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  14. Boa noite, Allef Santos. Parabéns pelas reflexões acerca do conceito de Orientalismo em Edward Said. Após a leitura do texto, eu questiono o seguinte: de que maneira a obra de Edward Said auxilia no Ensino de História das civilizações do Oriente a partir da historiografia oriental, uma vez que os livros didáticos, muitas vezes, abordam a questão oriental sob a perspectiva do Ocidente?

    Maurício José Quaresma Silva

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