Arthur D´Elia

 

BREVE ANÁLISE ACERCA DOS PRECONCEITOS SOFRIDOS PELOS ASIÁTICOS NO BRASIL PARA UMA CRÍTICA AO ANTIUNIVERSALISMO


 

 

Para poder entender o que tornou possível as imagens em torno dos chineses e japoneses no Brasil durante o século XIX, é preciso primeiro demonstrar como surge o racismo e em que contexto. Os estereótipos e preconceitos presentes no território brasileiro não retratavam apenas um etnocentrismo, mas sim uma questão que envolvia raça. Após tal investigação acerca do racismo será exposta uma perspectiva que visa entender a história asiática a partir de uma perspectiva universalista.

Por conseguinte, na etapa imperialista do capital, em que tem como grande marco a partilha da África e Ásia no fim do século XIX, havia a necessidade de justificar ideologicamente o domínio europeu sobre outros países, principalmente os dos continentes mencionados. A partir disso, se inicia em vários ramos, como na criminologia, justificativas para uma suposta superioridade racial [Carli, 2014].

Desde 1831, a Inglaterra em busca de um maior mercado consumidor havia aprovado uma lei proibindo o tráfico de escravos, mas o Brasil continuou com o contrabando de africanos até meados do século XIX; sob justificativa de que a economia brasileira dependia do trabalho escravo. Em 1850, percebendo a inevitabilidade da abolição de mão-de-obra escrava, os fazendeiros das áreas cafeeiras se interessaram pela imigração para promover postos de trabalhos antes ocupados por escravos [Oliva].

A partir da transição do trabalho escravo para livre, começam debates no Brasil com o objetivo de conseguir novos trabalhadores [Bueno, 2018]. O incentivo à imigração chinesa e japonesa tem seu nascimento. Primeiramente serão expostas as errôneas caricaturas em torno dos chineses.

Desde o fim do tráfico de escravos em 1850, as oligarquias agrárias passaram a descartar a mão-de-obra negra, esta era vista como ultrapassada. O trabalhador nacional também possuía avaliação negativa, pois era sinônimo de preguiça. Como resposta, imigrante chinês apareceu como solução, este era considerado como dócil e barato [Dezem, 2005]. Entretanto, a ida de chineses para o Brasil não se constituía como uma unanimidade.

Outros estereótipos, visões preconceituosas, permeavam no imaginário brasileiro. O estigma em torno da China como um país derrotado pelas potências européias contribuiu para tal fator. Além disso, adjetivações sobre chineses existiam, tais como: fraco, indolente, sujo e inferior [Dezem, 2005]. Eles também eram enxergados como atrasados e civilização a ser refutada, considerando-a não-cristã [Bueno, 2018]. Ainda com relação ao imaginário que se tinha:

“Dessa forma, o debate acerca da possibilidade de utilização da mão-de-obra asiática envolvia a discussão sobre seu grau de assimilação e sua contribuição para a construção da identidade nacional. Temia-se que os asiáticos fossem agravar ainda mais a degeneração da nação, "mongolizando-a"” [Portugal, 2013, p.44].

Uma das grandes preocupações nesta época foi com a hipótese de que o chinês por ser acostumado a ganhar pouco, iria afastar a mão-de-obra dos operários e impediria a entrada dos imigrantes ideais, os quais seriam principalmente alemães e italianos que “branqueariam” a raça [Oliva]. Outro exemplo seria a visão de Eça de Queirós, com a mestiçagem oriental e com perigo que seria o chinês por ser um trabalhador mais resistente. Assim o indivíduo “amarelo” que se contenta com baixos salários, tomaria o lugar do europeu no posto de trabalho [Oliva]. Acerca dos japoneses, a imigração também esteve associada à substituição da mão-de-obra escrava. Para tanto:

“A partir da década de 1880, a maioria dos imigrantes foi absorvida pelo estado de São Paulo para substituir a mão-de-obra escrava nas plantações de café, então em franca expansão. No fim da mesma década, no entanto, a superprodução do café causou a queda do preço e a consequente crise econômica. A condição de trabalho nas fazendas se deteriorou e diminuiu sensivelmente o afluxo de imigrantes” [Suzuki, 1995, pág. 57].

Neste contexto citado, tem-se a crise econômica pela qual passou o estado de São Paulo. O que também gerou redução de imigrantes. A superação desta crise está relacionada aos seguintes fatores:

“Quando, no começo deste século, a crise foi superada graças à política de “estabilização de preços” (aquisição do produto pelo governo) e a cafeicultura voltou a se expandir, esta teve de enfrentar a aguda falta de mão-de-obra e a introdução de japoneses foi cogitada como solução de emergência. Na mesma época, recrudescia o movimento dos sindicatos operários americanos contra a imigração japonesa e as companhias de imigração japonesas procuravam novos mercados. A coincidência dos interesses dos dois lados resultou na vinda da primeira leva de imigrantes japoneses que chegaram ao porto de Santos em 18 de junho de 1908” [Suzuki, 1995, pág. 57].

Com a confluência dos interesses de cafeicultores e japoneses, tem início a marcha japonesa para o Brasil em 1908. As condições econômicas impuseram essa necessidade. Mais adiante serão explicitadas algumas das imagens em torno do japonês que estavam presentes em território brasileiro.

Respectivamente, este era visto como sinônimo de inumano, insetos, microorganismos e resultado de uma política imperialista do Japão. Os problemas populacionais do país da Ásia eram resolvidos, entre outras estratégias, pela emigração. Tal fluxo de saída em busca de novos países possuía o estigma de uma ameaça ao cristianismo e à raça branca.

Os japoneses comumente eram descritos como sendo agressivos, fanáticos e responsáveis pela desvalorização dos salários dos trabalhadores dos países para onde se dirigiam [Nucci, 2006]. Há de se notar que tal visão vai de encontro à própria cultura japonesa. É como demonstra Nakagawa, a primazia não está no “Eu”, no indivíduo, mas sim nas circunstâncias que englobam um contexto coletivo. É o chamado “lococentrismo” [Nakagawa, 2008]. Sérgio Bath também ressalta essa característica quando afirma o já mencionado papel das normas sociais. O predomínio é sempre da sociedade diante do fator individual [Bath, 1993].

Diante de toda essa problemática envolvendo os dois mencionados povos asiáticos, pode-se concluir que estão associadas, antes de tudo, à etapa imperialista do capital que para tal se utilizou de uma suposta superioridade racial advinda dos europeus para justificar seus domínios sobre outros países.

Nessa esteira, tem-se no fim do século XIX e início do XX (no caso dos japoneses) toda uma visão negativa e racista com relação às chegadas dos imigrantes japoneses e chineses. No interior da imagem de mundo adotada pelas elites da época para tamanha recusa da imigração asiática, é notável a influência do darwinismo social e outras correntes que ligavam aspectos culturais e biológicos de uma maneira falsa com relação às características humanas. Acerca disto, importante notar que: 

“[...] o Brasil passava por um período de formulação da identidade nacional, uma questão presente nos debates da intelligentsia brasileira e das elites econômicas, influenciadas pelas correntes europeias da biologia cultural e da antropometria, nas quais questões culturais estavam intimamente relacionadas às biológicas. Além dessas correntes, o darwinismo social, que era uma adaptação das teorias biológicas evolucionistas de Darwin para a esfera social, também exercia grande influência sobre o pensamento ocidental, o que se refletia no Brasil” [Portugal, 2013, p.43].

Tais concepções que tinham pretensões científicas hierarquizavam as raças de modo que os negros estariam na base de uma suposta escala “evolutiva”, os asiáticos estariam no meio e os Europeus, os quais foram os grandes impulsionadores do movimento imperialista em direção à África e Ásia a partir do final do século XIX, no topo. Destas noções viria a ideia de que os negros seriam mais “selvagens” e por isso os melhores para trabalhos mais pesados, os “amarelos” (asiáticos) seriam os dóceis e os brancos o ápice da humanidade [Portugal, 2013].

No entanto, as necessidades de ordem econômica para ocupação dos postos de trabalho por vezes possibilitavam uma razão para a aceitação dos asiáticos no território brasileiro, mas também carregava consigo o medo da mestiçagem de um povo que deveria, acreditam eles, passar por um branqueamento. Neste sentido, tem-se que:

“Para as elites, um país que já contava com grande quantidade de negros e índios em sua constituição necessitava um processo de "embranquecimento", que apenas seria alcançado por meio da inserção de europeus, cuja miscigenação paulatinamente produziria uma nação melhor e mais branca” [Portugal, 2013, p.44].

Partindo deste problema envolvendo a questão racial é possível também realizar uma tomada de posição com relação ao modo como se deve entender o arcabouço histórico, social e cultural dos indivíduos de origem asiática. Por vezes é encontrado algum resquício de etnocentrismo ou até eurocentrismo no interior da análise histórica. Então neste sentido se faz necessário pensar de que maneira é possível ressaltar grandes avanços, retrocessos e as particularidades de determinadas civilizações que, assim como os africanos, historicamente estiveram à mercê da supremacia europeia.

É aqui preciso esclarecer que o eurocentrismo se caracteriza pela consideração da Europa ou como centro ou como superiora [Hui, 2005]. O processo de constituição dessa perspectiva se evidencia com a lógica expansionista e colonialista advinda do imperialismo [Hui, 2005]. O nacionalismo geralmente é a forma pela qual os colonizados encontram de preservação de sua cultura, bem como luta contra os dominantes europeus.

Entretanto, o nacionalismo se constitui ainda como uma “particularidade”, não abrangendo assim a totalidade do gênero humano. Ele também pode dar início às tendências que devido ao extremo apego à identidade nacional, cai no etnocentrismo ou assumem posições “autoritárias”.

Outra faceta a ser analisada é o etnocentrismo. Este se caracteriza pela consideração de que o grupo étnico ao qual se pertence, é o grande “centro” [Goody, 2008]. O exemplo a seguir pode ser bastante elucidativo: um pastor que, ao ganhar um arco e flecha de um índio como presente, o pendura em sua parede como se sua função fosse estética. Nesse exemplo, ainda que expresse uma forma “branda”, é uma manifestação de etnocentrismo, pois o pastor não observa o outro em sua respectiva localidade e contexto, mas sim sob a lente de sua cultura que dá um trato diferente àquele objeto.

Cabe mencionar que contra estas duas lógicas citadas é completamente fútil o ponto de vista com base no relativismo.  O relativismo incorre em um problema frente às questões éticas. Como o de uma determinada cultura que tem uma prática “desumana”. A complexidade se mostra quando dentro do crivo do relativismo não é possível julgá-la, visto que o critério para o que é “desumano” também seria relativo (pois na cultura que pratica não é desumano). A problemática em torno da construção de uma nova história asiática para além do nacionalismo, eurocentrismo e etc., tem de lidar com as questões já expostas. Sendo assim, qual seria a saída para um novo tratamento com relação à Ásia ou “Oriente”?

De início, é preciso primeiro pensar no que “une” ou é “comum” a todos os seres humanos. O ponto de partida universalista é capaz de lidar com dilemas éticos colocados; porque parte da essência humana, do que é comum a todo ser humano, rejeitando qualquer coisa que a denigra. Para entender o solo sob o qual está de pé tal essência, é necessário saber como o ser humano surge.

O trabalho, ou intercâmbio consciente com a natureza que visa garantia de meios de subsistência, é a categoria fundante da humanidade [Lukács, 2018]. O presente texto não tem a pretensão de expor a miúdos esse processo, mas apenas ressaltar a questão. Geralmente se define o homem como “animal racional” ou aquele que possui razão, sem antes se perguntar da onde vem a razão. A resposta: trabalho. Ele marca o surgimento da humanidade mediante salto do ser orgânico ao ser social, efeito da necessidade de se adaptar ao meio [Lukács, 2018]. Porém, as demais categorias envolvidas não serão expostas.

Com o que foi considerado anteriormente, tem-se que a humanidade não existe sem transformar a natureza de modo consciente para garantir sua subsistência. Desse modo, tanto o asiático, como europeu, “trabalham”. Ao longo da história existiram diferentes formas de organizar a produção, como mencionado por Wang Hui [Hui, 2005].

Todavia, dentro de um modo de produção específico, ainda que superior em termos qualitativos pela sua complexidade com relação aos modos de produção anteriores como feudalismo, se inicia, como foi enfatizado anteriormente, o processo de imperialismo. Que seria a grande alavanca da expansão territorial, ainda que já no século XV, XVI, com as grandes navegações, o contato com o “outro” teve início [Chicarino, 2014].

Nesse estágio de acumulação primitiva capitalista, “particularismos” comparecem, tornando os interesses genéricos mais distantes. Particularismo seriam as diferenças entre raça, nação, a própria dicotomia entre Ocidente e Oriente, todas são barreiras para os interesses do gênero humano.

Considerando o que foi expresso anteriormente, importante notar que Wang Hui não está equivocado ao afirmar que: “Para dar sentido à identidade asiática, é preciso transcender o nacionalismo e superar a dicotomia ocidente versus oriente, numa nova visão da história mundial” [Hui, 2005]. Mas, ainda que seja necessário o debate, disputas entre os círculos de historiadores, campanhas; é preciso também enxergar que tais problemas envolvendo a visão que se tem da “Ásia”, só serão superados efetivamente com o advento de uma nova forma de organização da humanidade, em que não tenham distinções de classe, raça, gênero e etc. [K.,Marx; F., Engels, 2007]. Esta forma é o comunismo.

Significa reconhecer que determinadas formas de preconceito como o racismo são condicionadas por maneiras histórico-sociais de existência. Até porque antes de qualquer outra coisa a humanidade precisa garantir seu sustento. Para isso necessita do estabelecimento de um modo de produção e, posteriormente, de um modelo para distribuir a riqueza produzida. Neste sentido, partindo de que seres humanos são essencialmente “trabalhadores”, a economia será sempre a atividade que exercerá certo condicionamento sobre as demais esferas sociais como a religião, arte, etc. [K., Marx; F., Engels, 2007].

Portanto, para que seja possível vislumbrar a beleza de cada uma das produções humanas no que se chama “Oriente” ou “Ocidente” ou até mesmo “Ásia”; sem incorrer em particularismos ou hierarquias, é necessária uma modificação da situação econômico-social que se faz presente. Somente assim será possível a construção de uma nova história “asiática” ou uma nova forma de convivência com indivíduos desta origem. Ressaltando, sem lentes europeias, etnocentrismo ou relativismo cego, suas peculiaridades, modos de ser e rejeitando as produções e costumes “ocidentais” ou “orientais” que aflingem o gênero humano.

Seria, então, considerar que todo o arcabouço do que atualmente se denominam de origem “asiática”, “europeia”, “ocidental”, “oriental”, etc. É unicamente criação humana, não fazendo sentido a divisão do gênero humano em subgrupos para afirmar o particular, impedindo assim o voo em direção à universalidade e uma correta compreensão de como deve ser olhada a história humana. A defesa destas identidades particulares somente colabora com a reprodução do preconceito.

 

Referências:

Arthur D´Elia é estudante de graduação de filosofia na UERJ.

 

BATH, S. Japão: Ontem e hoje. São Paulo: Ática, 1993. [livro]

BUENO, A. Caminhos para uma sinologia brasileira. Diversos Orientes. Rio de Janeiro: Sobre Ontens, 2018. [artigo]

CARLI, R. Comportamento ético e crítica ao preconceito burguês. N. 27. P. 141-157/Jan.Jun. Brasília: Temporais, 2014. [artigo]

CHICARINO, T. Antropologia social e cultural. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2014. [livro]

DEZEM, R. Matizes do ‘amarelo’: Elementos formadores do imaginário sobre o japonês no Brasil. Universidade de São Paulo: Projeto integrado. [artigo]

GOODY, J. O roubo da história. São Paulo: Contexto, 2008. [livro]

HUI, W. A reinvenção da Ásia. Le monde diplomatique, 2005. [artigo]

LUKÁCS, G. Para a ontologia do ser social. Maceió: Coletivo Veredas, 2018. [livro]

MARX, K.; ENGELS, F. A ideología alemã. São Paulo: Boitempo, 2007. [livro]

NAKAGAWA, H. Introdução à cultura japonesa: Ensaio de antropologia recíproca. São Paulo: Martins Fontes, 2008. [livro]

OLIVA, Osmar Pereira. Machado de Assis, Joaquim Nabuco, Eça de Queirós e a imigração chinesa – Qual medo? [artigo]

PORTUGAL, G. A comunidade chinesa em Curitiba. Curitiba: Universidade Federal do Paraná, 2013. [monografia]

SUZUKI, T. A imigração japonesa no Brasil. Ver. Inst. Est. Bras., SP, 39: 57-65, 1995. [artigo]

27 comentários:

  1. Bom dia!

    Podemos perceber, com seu texto, que o advento dos estados nacionais implicou numa separação da humanidade, o que ocasionou "etnocentrismo"" eurocentrismo" e tantas outras formas de separação da huminidade,ocasionando guerras e tantos outros problemas da sociedade capitalista. E para pôr fim a todas essas problemáticas do Estado nacional, para você, seria necessário pôr fim ao sistema capitalista e instaurar o comunismo? Para você, os movimentos identitários atrapalham uma revolução? Se sim, como implicam nesse processo revolucionário?

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  2. Comentário acima de Yasmin Ribeiro de Carvalho. Meu nome não saiu. Perdão!

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  3. Boa tarde, cara Yasmin! Importante lembrar que ao mesmo tempo em que o capitalismo propiciou essa divisão da humanidade em Estados nacionais, ele também unificou a humanidade em torno mercado mundial. Sim, seria necessária uma revolução comunista. Isto porque somente em determinada forma de produzir e distribuir a riqueza que a humanidade poderia se tornar consciente de si.

    Em minha opinião, movimentos identitários atrapalham sim. Aliás, são largamente financiados por grandes empresas. Basta lembrar as famosas Think Thanks. Os movimentários identitários simplesmente ignoraram que problemas como racismo ou opressão da mulher estão associados à etapa imperialista do capital e à propriedade privada. Destinam a toda uma prática militante, que no fim das contas tem como propósito, a introdução destes oprimidos ao sistema desconsiderando os problemas do sistema.

    É inegável a importância de combate ao racismo, opressão da mulher, etc. Mas é preciso saber dos limites que o capital impõe ao combate delas.

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  4. Muito obrigada pelo esclarecimento, caro Arthur!
    Parabéns pelo excelente texto!

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  5. Olá!

    Interessante reflexão seu texto traz.

    Recentemente as redes sociais foram inundadas por uma série de falas eivadas de preconceito e xenofobia em relação à milenar cultura oriental. Notadamente, tais opiniões refletem uma visão míope que boa parte do "mundo ocidental" (e o Brasil incluso, claro) tem em relação ao extremo Oriente.

    Hoje em dia, com tantas opções e ferramentas para se buscar o conhecer, tal prática pejorativa é ainda mais inaceitável.

    Questiono: de que forma o historiador, professor ou qualquer outro profissional pode contribuir para que isto possa ser superado? O que a atuação docente pode fazer para que os jovens percebam que tal distorção ótica é uma falha homérica?

    Grato pela atenção.

    Saudações!

    Willian Spengler

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    1. Boa tarde! Agradeço pelo interesse e reflexão posta no texto. Bem, com relação ao que você falou antes da pergunta, eu concordo inteiramente.

      Sobre sua pergunta, acredito que aí entra uma questão pedagógica. Eu diria que o professor ou historiador ou qualquer outro profissioanal pode contribuir para a superação desses entraves ao desenvolvimento humano mostrando que esses processos de preconceitos, racismo, estão ancorados numa forma de sociedade específica. Mostrar os limites da luta contra tais problemas dentro da atual sociedade capitalista e falar em prol de sua superação. A humanidade só conseguirá se desenvolver plenamente de modo humano sob uma sociedade que propicie isso. Uma sociedade que não seja dominada pelos Imperativos do capital. Seria, então, a sociedade comunista.

      Desse modo, mais do que conscientizar as pessoas sobre tais problemas, é preciso conscientizá-las de modo a apontar a necessidade de uma transformação social. A prática pedagógica não deve estar separada da prática revolucionária.

      Grande abraço.

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  6. Olá! Parabéns pelo texto, muito boom!
    Como você discute a questão do preconceito... Gostaria de saber quais são os futuros desafios que o ensino de história terá de enfrentar enquanto a isso no pós pandemia... Vemos o quanto os povos orientais, sobretudo os chineses tem enfrentado uma repressão muito forte nos últimos meses... Como proceder ? Sobretudo com o avanço dos discursos de ódio e as chamadas fake news...

    Att

    Andresa Fernanda da Silva

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  7. Boa tarde! Muito obrigado! Fico feliz que tenha gostado. Com relação à sua pergunta, acredito que os educadores da área de história devem sempre buscar trazer a verdade para aqueles a que ensina. Nesse sentido,é crucial desfazer esses mitos em torno dos povos do Oriente e explicar que o grande motivador da pandemia está longe de ser um povo A ou B, mas sim fruto do aumento da exploração desenfreada do meio ambiente em busca de lucro. É preciso conectar o momento histórico que vivemos agora com a forma de sociedade na qual estamos inseridos. E, é claro, mostrar uma alternativa à sociedade atual. Baseada não na reprodução de capital ou lucro, mas sim no desenvolvimento pleno da humanidade.

    Abraço.

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  8. Só acrescentar que o atual momento de preconceito para com os povos asiáticos é fruto de disputas imperialistas. Basta ver as acusações do Trump para com os chineses. Há uma disputa pela hegemonia mundial no momento...

    Abração.

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  9. Ivanize Santana
    Boa-noite, Arthur! Parabéns pelas suas ideias expostas, externadas nesse artigo muito preciso nesse momento! Percebo que ele traz um recorte do século XIX a respeito da superioridade racial da Europa e ao mesmo tempo, a realidade brasileira com a presença dos imigrantes...que vieram também "BRANQUEAR" o Brasil -preto! E que, como você bem cita, chineses e japoneses não estiveram imunes aos ataques de preconceito! Ainda hoje eles têm São Paulo como o seio que lhes acolheu, contudo, creio eu que, neste contexto pandêmico, as ofensas, as injúrias, os maus julgamentos, têm maltratado as comunidades orientais, que com certeza, sentem pelos irmãos de lá!

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    1. Boa noite! Eu concordo imensamente com sua fala. A demonização dos orientais (primordialmente a China) também se dá principalmente pelas políticas imperialistas. Sobretudo entre a disputa entre China e EUA. Os EUA obviamente farão de tudo para culpa a China por conta da pandemia, etc.

      Abraço.

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  10. Boa tarde, Arthur D´Elia. Parabéns pelo trabalho. Essa contextualização do texto possibilita a criação de nova visão sobre as civilizações do Oriente. Nesse contexto, o debate acerca da história dos povos do Oriente (chineses e japoneses) e das suas contribuições para o desenvolvimento, especialmente, do Brasil na educação básica constitui uma ferramenta para o combate ao racismo e a xenofobia para com os povos do Oriente?

    Maurício José Quaresma Silva

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    1. Boa tarde! Agradeço pelos elogios. Acredito que contribui sim para o combate ao racismo e à xenofobia. Assim como também é importante falar da questão envolvendo pessoas de origem africana que ainda sofrem com o racismo.

      Mas, não podemos,nestes debates, esquecer as limitações impostas pela sociedade Capitalista para o combate a tais problemas. É preciso falar da necessidade de superar a sociedade atual.

      Abração.

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    2. Boa noite. Obrigado pelas considerações. Abraços!

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  11. Boa tarde, gostaria de primeiramente dar parabéns pelo excelente trabalho. E perguntar, se durante a pesquisa você percebeu se algum aspecto cultural da sociedade brasileira, foi assimilado pelos imigrantes japoneses para facilitar sua integração?

    Pergunta de Matheus Henrique da Silva Alcantara.

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  12. Boa tarde, gostaria de primeiramente dar parabéns pelo excelente trabalho. E perguntar, se durante a pesquisa você percebeu se algum aspecto cultural da sociedade brasileira, foi assimilado pelos imigrantes japoneses para facilitar sua integração?

    Pergunta de Matheus Henrique da Silva Alcantara.

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  13. Boa tarde, gostaria de primeiramente dar parabéns pelo excelente trabalho. E perguntar, se durante a pesquisa você percebeu se algum aspecto cultural da sociedade brasileira, foi assimilado pelos imigrantes japoneses para facilitar sua integração?

    Pergunta de Matheus Henrique da Silva Alcantara.

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    1. Boa tarde! Muito obrigado pelo elogio! Sua pergunta é muito boa. Nos textos que li não focaram muito nessa parte, mas sem dúvidas esses imigrantes assimilaram algo de nossa cultura. Eu diria que tiveram de desenvolver diferentes costumes para se adaptar ao nosso clima e às nossas "manias". Mas isso de que falo não é muito exato , eu precisaria estudar algo a respeito especificamente disso.

      Abraço.

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  14. Olá Arthur! Gostei do seu texto mas confesso que fiquei com algumas duvidas quanto a relação que você estabelece com a acumulação primitiva do capital se possível poderia me esclarecer este ponto. Outro elemento que me deixou em duvida foi quanto ao final de seu texto onde você afirma que "a defesa destas identidades particulares somente colabora com a reprodução do preconceito", deste modo o preconceito tem sua gênese quando o sujeito afirma suas características diferentes das consideradas "normais"?

    Guilherme Augusto Pereira Barbosa

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    1. Boa tarde! Fico feliz que tenha gostado do texto. Quanto à primeira questão, mencionei a acumulação primitiva para falar do processo de etnocentrismo, que está ligado às grandes navegações e desenvolvimento da colonização aqui na América, por exemplo. Basta citar o choque que foi o encontro entre portugueses e índios aqui no Brasil quando os primeiros chegaram. A subjugação de outros povos pelos Europeus foi necessária para o posterior estabelecimento do capitalismo.

      Quanto à segunda questão, o preconceito não surge exatamente da afirmação por parte de um sujeito de suas particularidades, mas sim de um não reconhecimento do outro como igualmente humano, independentemente das suas características específicas. Trata-se de um fato que ocorre devido à não integração do gênero humano por meio de um modo de produzir e distribuir a riqueza que viabilize o desenvolvimento das faculdades humanas. Quando as relações interhumanos são mediadas unicamente pelos costumes, tradição (basta citar as relações de rivalidade entre indígenas aqui) ou pelo capital, surge uma submissão das particularidades do outro às particularidades de meio povo. Seja pela concorrência, seja pela disputa cultural, territorial, de alimentos. Isso acontece devido a uma não consciência da humanidade de si mesma.

      Ainda com relação às particularidades, tal como já mencionei, é importante que colhamos aquilo que de cada povo benèfico para o devir humano do ser humano. Por exemplo, algumas tribos na Nigéria decepam o hímen da mulher. Temos nesse caso um claro exemplo de desumanidade e que só atrapalha o pleno desenvolvimento da humanidade. Eu poderia citar também a subjugação da mulher em sociedades "civilizadas" como a europeia nesse contexto de acumulação primitiva.

      Portanto, minha defesa é de pegar tudo aquilo que contribua para o pleno desenvolvimento do ser humano é rejeitar o contrário. Independentemente da cultura que for.

      Obviamente que também é preciso reconhecer os limites impostos pelo atual sistema capitalista para esse pleno desenvolvimento humano. Uma sociedade baseada na reprodução de capital, lucro e individualismo está longe de ser aquilo que a humanidade precisa para se reproduzir. É preciso, então, uma revolução comunista e o estabelecimento da autogestão dos trabalhadores para depois, gradualmente,abolirmos (isso se daria "naturalmente" na medida em que a humanidade não visse mais necessidade da existência de tais fatores) até mesmo as classes sociais, etc. Que seria o momento em que a humanidade teria consciência de si (gênero humano para-si) e se desenvolveria sem a mediação do dinheiro, capital, classes...

      Abração. Espero ter ajudado😅😅

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  15. caro autor boa noite gostei muito do seu texto e quero fazer a seguinte indagação por que os japoneses não foram para outras regiões do Brasil para trabalhar em outras lavouras em vez de diminuir o fluxo imigrantes, durante a crise do café.
    Jorge José De Lira

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    1. Boa noite! Fico feliz que tenha gostado do texto. Bem, eu diria que o processo não foi feito de modo mais "dividido" devido aos interesses da elite brasileira da época. Mas é preciso averiguar se foi de fato assim. Confesso não ter lido muito a respeito dessa divisão dos imigrantes pelo Brasil.

      Abraço.

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  16. Excelente texto e referências, Arthur D´Elia, parabéns!!!

    Ótima reflexão acerca do tema, até a forma que somos ensinados nas escolas contribui para esse pensamento Eurocêntrico. Na escola não nós contamos sobre essa situação da “substituição” dos escravos africanos/afro-brasileiros por orientais, apenas falavam que começaram a vir estrangeiros livres para trabalhar assalariado. Como você acha que podemos mudar essa situação no ensino escolar e reverter o preconceito que se estende até os dias de hoje?
    Izabela Ramos Bispo.

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    1. Boa tarde! Obrigado pelo elogio. Fico feliz que tenha gostado do texto.

      Bom, com relação à situação descrita, acho que podemos revertê-la mostrando as fontes, revelando o que de fato aconteceu.

      Com relação ao preconceito, precisamos trabalhar para tirar isso da forma como nossos educandos veem o mundo, mas não só isso, lutar também para revolucionar a sociedade atual em busca de uma outra que privilegie o pleno desenvolvimento das capacidades humanas. A sociedade atual tem como único mote a reprodução do capital. Não dá mais!! É necessário lutar contra o preconceito, mas ele realmente só vai acabar quando chegarmos numa sociedade comunista. Como diz Marx: nela, não haveria diferença de classes, raça, gênero...é preciso saber das limitações postas pela atual sociedade para o desenvolvimento humano.

      Grande abraço.

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  17. Parabéns pelo artigo. Na sua opinião esse tipo de racismo/xenofobia com os orientais entre os jovens na atualidade se devem as quais motivos? Será que o uso das redes sociais servem como meio manipulador dos nossos jovens contra os chineses, por exemplo? Parabéns novamente pelo artigo.

    Att

    Cristiano Rocha Soares
    Cuiabá MT

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    1. Boa noite! Muito obrigado pelo elogio! Bom, sobre a primeira pergunta, acredito que tem a ver com esse período histórico do qual falo no texto, século XIX para o XX. Muita coisa desse contexto influencia ainda hoje. Eu também posso colocar as disputas imperialistas como entre China e EUA, além de uma carência de um debate sério que vise problematizar o etnocentrismo, eurocentrismo, etc.

      As redes sociais contribuem muito. Basta ver o quão foram difamados os chineses e quantas fake news se criaram em torno de sua cultura devido ao escapamento do vírus da Covid de um laboratório. Escapamento que foi muito mais fruto de acaso, estrago do meio ambiente pelo capitalismo. Apesar de ter algumas fontes dizendo que esse vírus da Covid veio a tona a partir de outro local. Mas aí é um outro debate.

      Abraço.

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