Diana Jane Barbosa da Silva e Thayane Rodrigues da Silva

 

ENSAIO SOBRE O ESTUDO DE HISTÓRIA E CINEMA JAPONÊS E COREANO: AS POSSÍVEIS ANÁLISES DOS FILMES ASIÁTICOS COMO DOCUMENTOS HISTÓRICOS

 

O estudo sobre as fontes fílmicas parte da reflexão conhecida de Marc Ferro (1976) da escola dos Annales sobre novos documentos e objetos, que toma o filme como objeto possível de análise histórica.  Sobre a discussão entre Napolitano (2005) (o filme está na sociedade) e Ferro (1976) (o filme é uma contra análise da sociedade), é possível concordar que filmes são feitos na sociedade e para si. Esses autores são importantes de serem lembrados por seu suporte teórico-metodológico de análise do filme como documento histórico na sociedade. A breve exposição também considera outros estudiosos que defendem o filme um documento possível de estudo assim como Michèle Lagny (2009), R. Rosenstone (1997) e Ulpiano T. B. de.S.Meneses (2003).

Além disso, ao lembrar sobre estudos do cinema, há uma necessidade da academia (artistica) em citar o estudo de Walter Benjamin (1936), apesar das dificuldades de inserir este teórico no estudo japonês. Brevemente será delineada a dificuldade da inserção do texto na análise fílmica japonesa. O primeiro e maior problema é a ênfase que o pesquisador faz no caso da reprodução artística européia ocidental, assim como seus exemplos específicos europeus, o que enfraquece a utilização do texto no caso japonês e coreano por possuir outra História artística diferente da europeia, além de ter uma cultura artística própria. Contudo, não invalida, talvez, a noção geral  sobre a reprodução técnica que o texto passa. É possível lembrar, dentro dessa mesma argumentação, que a cultura de reprodução artística japonesa, inspirada na chinesa, tem costumes manuais de reprodução e fabricação ainda atuais, assim como há a hipótese da coreana seguir a mesma cultura. Exemplos seriam: o origami, o shodo (a caligrafia japonesa), taiko (os tambores japoneses), ikebana (arte de organizar as flores), entre outros que podem ser consultados no site do consulado geral do Japão no Brasil. O que não cabe na ideia de reprodução da máquina e da técnica contemporânea que o texto de Walter Benjamin parece enfocar e que por vezes parece hierarquizar.

Outrossim, a história do cinema japonês segue o surgimento mundial do cinema assim como é ressaltado por professores de cinema Alastair Phillips e Julian Stringer (PHILLIPS, Alastair; STRINGER,Julian org. 2007). Os mesmos pesquisadores dizem que o cinematógrafo dos Lumiére e o kinetoscópio da empresa Edison chegaram ao país no século XIX, levando os primeiros filmes curtos. Também dizem que no mesmo século o artista Shibata Tsunekichi  utilizava cenas do cotidiano japonês para fazer seus primeiros filmes (PHILLIPS, Alastair; STRINGER,Julian org. 2007). Esse primeiro cineasta pegou cenas do teatro japonês kabuki como lembra os dois professores, semelhantemente ao processo de desenvolvimento posterior de temas no cinema japonês percebido nos cineastas do século XX. Ainda com os mesmos pesquisadores é possível compreender que  coincidentemente os espaços de teatro foram tomados por exibições de filmes estrangeiros, que eram “traduzidos” culturalmente por um narrador que mesmo depois do cinema mudo continuou nessa função. Ou seja, a relação teatro e cinema nesse momento se tornaram próximas naquela cultura em mais de uma forma, tanto no tema que poderia ser do kabuki quanto no espaço que era exibido, podendo ser compartilhado o mesmo do teatro como é acentuado nesse texto do cinema japonês de A.Philips e J.Stringer (PHILLIPS, Alastair; STRINGER, Julian org. 2007). Que também apontam que o primeiro cinema (sala de cinema específico) foi em 1903, em Tokyo. Outro apontamento importante de ser dito desse texto Japanese cinema: Text and Contexts (PHILLIPS, Alastair; STRINGER, Julian org. 2007) é que com a abertura da primeira companhia de filmes Yoshizawa e com a produção do cinema doméstico, foi possível desenhar as duas tendências que em geral separam os gêneros dos filmes japoneses, uma de base tradicional e antiga ou dos filmes de época chamados de “jidaigenki” (com o destaque para a figura de samurai) e os com temas mais contemporâneos o “gendai genki”. E dessa forma no início do século XX um dos mais conhecidos cineastas foi Ozu Yasujiroo (1903-1963) produzindo de filmes mudos aos com som. Uma das suas obras conhecidas é “filho único” de 1936.

Prosseguindo nessa História do cinema japonês, na década de 40 no Japão, houve a estreia de Akira Kurosawa (1910-1998) no cenário cinematográfico com  o filme “A saga do judô” (Sugata Sanshiro). Akira Kurosawa passou a ser um dos cineastas japoneses mais conhecidos do mundo com a estreia do filme Rashomon em Cannes (1950) na França. É considerado a sua estreia mundial na área do cinema (YOSHIMOTO, Matsuhiro. 2000). A partir daí mundialmente ficou conhecido por seus filmes de samurai (os jidaigenki) de obras que já tinham sido produzidas e que o ocidente passaria a ter contato. São em torno de trinta filmes produzidos na sua carreira (sem contar as obras póstumas e as contribuições isoladas de roteiro). Madadayo é um dos últimos trabalhos do cineasta, o que marca seu amadurecimento como pessoa e como cineasta, no qual contextualiza na guerra e na ocupação americana a história de um professor idoso e seus alunos. O penúltimo  filme “Sonhos” consegue ser um filme que sintetiza o estilo estético do produtor, adiciona uma visão mais diversa e cultural do japão por possuir lendas japonesas, e ir desde um Japão tradicional(das lendas, do campo, do kimono) e antigo à dilemas contemporâneos (ciência, radiação, ecologia, o terno e a gravata), nesse penúltimo filme o diretor japonês posiciona sua crítica contra a guerra, as mortes e a questão atômica em dois dos oito curtas que fazem parte do todo  filme “Sonhos”.

Por outro lado, o cinema coreano tem uma longa jornada desde a libertação da península em 1910, deixando de ser uma colônia para se tornar um país independente. De acordo com Marc Raymond (Professor da Universidade de Kawngwoon, em Seoul, Coréia do Sul) ao BBC News, o cinema coreano iniciou seu desenvolvimento ainda no inicio do século XX e teve sua era de ouro nos anos de 1950. Nesse período a Península Coreana já havia sido dividida em dois, como podemos verificar no livro a Era dos Extremos de Eric Hobsbawn, sua separação transformou a península em dois países com desenvolvimento e estilos de vida distintos, isso também ocorreu com o cinema.

A Era de Ouro do cinema sul coreano não trouxe reconhecimento internacional, mas trouxe grande desenvolvimento e reconhecimento nacional, isso ocorreu também devido às questões da Guerra Fria. A ditadura que se instaurou no território sul coreano durante a década de 1960, ainda de acordo com Raymond, afetou drasticamente a produção cinematográfica do país. Durante 26 anos o cinema sul coreano foi censurado, teve seus investimentos voltados para o cinema de propaganda, estilo de produção que emergiu nos anos de 1920/1930 na Alemanha como afirma Wagner Pinheiro Pereira em seu livro o Poder das Imagens.

No final da década de 1980 iniciou-se o movimento de redemocratização do país e a participação de partidos de esquerda nos setores de poder do estado gerou um maior interesse pelas artes e cinema, como afirma Raymond, o que levou a criação de um novo cinema nacional com maiores investimentos e com novos enfoques como questões sociais, história e questões culturais do país. O crescimento do cinema sul coreano e seu reconhecimento internacional foi gradual e os grandes investimentos na indústria, criação de leis para investimento que favoreciam diversos setores culturais usando a política de Soft Power e transmitindo a cultura coreana mundialmente através da “onda coreana” (hallyu).

A “onda coreana” gerou grande inserção da cultura coreana no mundo e fez com que o cinema também tentasse transmitir coisas que as novelas e a música não eram capazes. Além das questões sociais e políticos trazidos nas produções cinematográficas a Guerra da Coréia se tornou um tema bastante explorado no século XXI, isso ocorreu devido a reaproximação dos governos Norte e Sul coreano no início dos anos 2000.

Essa reaproximação refletiu nas produções cinematográficas e a Coréia do Sul passou a investir na temática da Guerra da Coréia. O primeiro filme a ser lançado nesse período é Irmandade de Guerra (Taegukgi hwinalrimyeo dir: Kang Je – Kyu, Coréia do Sul, 2004) e o último é A Melody to Remember (2016). Como filme de memória, o cinema passa a relembrar toda a dor da Guerra exatamente nos momentos que ambos os países se reencontram no decorrer dos anos 2000.

Brevemente será feito uma pequena análise sobre o enredo e o filme coreano Irmandade de Guerra (Brotherhood of War, em inglês; Taegukgi hwinalrimyeo, em coreano) foi produzido por Je Kyu Kang em 2004. O filme traz a história de dois irmãos que foram inseridos numa guerra de repente. Jin-Tae (Jang Dong-Kun) é um sapateiro que trabalha duro para pagar os estudos de Jin-Seok (Jang Dong-Kun), seu irmão mais novo. Mas os dois homens são obrigados a se alistar no exército e lutar na Guerra da Coreia. Distante da família, Jin-Tae jura proteger Jin-Seok de qualquer perigo. Quando o mais velho descobre que, ao conseguir uma medalha de honra em batalha, poderá ter a chance de enviar seu irmão de volta para casa, ele vai pagar qualquer custo pela segurança de Jin-Tae. Enquanto isso, o caçula não entende o motivo por trás das atitudes do irmão, que são cada vez mais violentas, o que começa a colocar em teste os laços de amor e confiança dos dois.

É iniciada uma escavação e descoberta de destroços da Guerra em 2003. Essa escavação é feita no lugar que posteriormente será criado o memorial da Guerra. O filme apresenta o Jin-Seok idoso recebendo uma ligação da equipe de escavação buscando por alguém com o mesmo nome que ele. Jin-Seok acredita ser seu irmão Jin-Tae, morto em combate, e decide e até a zona de escavação. Em determinado momento ele para em frente a uma foto antiga dele com seu irmão e sua mãe, a seguir ele pega um sapato em uma caixa antiga e em meio aos seus pensamentos o filme retorna para 1950. Esse início demonstra que o filme é um filme histórico, feito para representar um evento/fato histórico do passado e transmiti-lo para o presente. É considerado um filme de memória, onde um personagem relembra um fato do passado.

Quando o filme volta para a Coréia do Sul de 1950, mostra uma população alegre e sem preocupações. Logo nas primeiras cenas os dois personagens principais, Jin -Tae e Jin-Seok, são apresentados. Suas feições mostram as despreocupações da Coréia recém liberta do Japão. Nas primeiras cenas de Jin-Tae e Jin Seok juntos, eles estão correndo por Seoul brincando. Jin-Tae é um engraxate que sonha em ser um sapateiro, mas não pode correr atrás de seu sonho visto que precisa ajudar sua mãe a criar seus irmãos mais novos e dedica seu trabalho a incentivar Jin-Seok a buscar uma vida melhor através dos estudos.

No momento que a Guerra estoura Jin-Tae estava com um amigo se Jin-Seok, também um engraxate, conversando sobre ensinos. Jin-Seok ensinava seu amigo, Yong-seok, e seu irmão nas horas vagas. Jin-Seok chega com a notícia da Guerra e alguns momentos depois, eles observam que a cidade está tomada por soldados. O caos começa e as famílias começam a fugir da cidade. Incluindo Jin-Tae e sua família. Em pouco tempo o exército norte coreano se aproxima de Seoul fazendo com que as famílias tenham pouco tempo para fugir. Eles ficam presos na estação de trem, os trens param de servir aos civis e passam a seguir para o front com soldados convocados. Jin-Tae está à procura de uma farmácia e encontra com militares convocando novos recrutas. Nesse momento podemos ver o jogo ideológico e patriótico. O comunicador está em um carro de som gritando:


“-Vamos para o front e destruir os comunistas. Nós precisamos proteger nosso país!” (Filme Irmandade de Guerra, 2004)

 

Nessa cena é percebido o quanto o conflito ideológico externo (EUA e URSS) afetou a comunidade coreana. Além da separação forçada da Península coreana, a comunidade sul-coreana passa a lutar contra o comunismo, passam a enxergar todos os norte-coreanos como comunistas sem distinção.

Com o início da guerra todos os jovens com menos de 30 anos começam a ser recolhidos de suas famílias a força para integrarem o exército sul coreano. Jin-Seok é convocado a força e seu irmão interfere com medo de que seus problemas de saúde se agravam. Assim, Jin-Tae se oferece para entrar no exército e proteger Jin-Seok ao mesmo tempo. Ambos são enviados para o front e sempre que Jin-Seok é convocado para uma missão, Jin-Tae se oferece para ir em seu lugar evitando assim que seu irmão seja afetado pelos horrores da Guerra.

O filme traz todos os horrores da guerra, cenas de luta, trincheiras, feridos e mortos. O jogo de cortes de cenas com foco nos olhares dos personagens traz uma emoção estilo “O Resgate do Soldado Ryan”70, faz com que o espectador crie empatia pelos personagens. Jin-Tae começa a se destacar em seu pelotão para tentar enviar Jin-Seok para casa como troca por seus trabalhos.

No decorrer do filme Jin-Seok começa a questionar as atitudes de seu irmão, Jin-Tae se torna uma pessoa violenta de cedente de ódio, essas brigas abalam a relação dos dois. Sua expressão facial muda no decorrer do filme, como pode ser visto nas imagens abaixo:

 


Fonte: Irmandade de Guerra (Taegukgi hwinalrimyeo dir: Kang Je – Kyu, Coréia do Sul, 2004, DVD)


Nas imagens acima vê-se como Jin-Tae mudou do início para o meio do filme, na primeira imagens ele está se divertindo com seu irmão e possui uma feição de felicidade e paz; já a segunda imagem remete ao momento em que seu pelotão cai em uma armadilha durante uma missão. Pode-se perceber que ele não é mais apenas afetado pelo que acontece com seu irmão, mas com todos a sua volta.Contudo, Jin-Tae é criticado por sua violência excessiva, porém ao mesmo tempo é condecorado por seus superiores dando a entender que a violência pode ser justificada, em especial quando se trata de defender seu país contra os comunistas.

Assim, tem-se uma clara visão de como os norte coreanos eram vistos pelos soldados sul coreanos. Jin-Seok continua confrontando seu irmão e colegas alegando que irá reporta-los por matarem sul coreanos desarmados, os compara com os comunistas e assim consegue salvar Yong-seok.Os comunistas tomaram conta de Seoul, a mãe de Jin-Seok está doente e sua cunhada é forçada a participar de comícios para conseguir comida e cuidar dos irmãos menores dos meninos, segundo a informação que Yong-seok passa.

Enquanto a guerra avança e cresce, a situação da população sul coreana se agrava. Eles tentam fugir do país através de navios, tentam se afastar das zonas de confronto que até o fim de 1950 estavam concentradas em boa parte da Coréia do Sul. Além disso, a população estava faminta, a comida se tornou escassa e o acesso a ela por parte do povo mais pobre também. Nesse momento pode-se perceber que o cenário da guerra atingiu além das zonas de confronto, que esse jogo político entre URSS e EUA afetaram pessoas que inicialmente não tinham relação, mas devido a situação do Japão e a separação da Península coreana em 1945, passaram a ter.

Jin-Seok e Jin-Tae são presos por traição, e Jin-Seok acusa o irmão pela morte de sua cunhada. Enquanto Jin-Tae é convocado para uma ação disciplinar e tenta convencer a cumprirem a promessa de seu comandante de enviarem seu irmão para casa como pagamento pela medalha de condecoração por matar comunistas. A prisão ,que eles estão, sofre um ataque e Jin-Seok é considerado morto. Com isso, Jin-Tae se torna um traidor e vai para o exército da Coréia do Norte. Ele acusa os sul coreanos de tirarem as únicas coisas que ele amava, a noiva e o irmão. Jin-Tae se torna o monstro comunista que sempre criticou, um assassino sangue frio. Quando Jin-Seok reencontra Jin-Tae que acha que está tendo uma alucinação e o ataca, nesse momento percebe-se que Jin-Tae não possui mais sua sanidade mental. Ambos os irmãos foram colocados em uma luta que não era deles, mas virou. Eles passaram a lutar para cuidar da família, para se defender e Jin-Tae para cumprir a promessa feita ao pai falecido, de que iria mandar o irmão para a Universidade.

A forma como os norte-coreanos são representados no filme é bem marcante, pois eles são retratados de forma extremamente negativa e inferior. O filme traz o fator ideológico como determinante para esse tratamento, os norte-coreanos são tratados assim porque são comunistas e estão associados a URSS. Percebe-se com isso que a definição de ser humano nas produções e durante a Guerra da Coréia é pautado em confrontos políticos e não em opiniões pessoais ou de relações pessoais.

Assim, como podemos perceber nas informações acima o cinema vai muito além do entretenimento. Ele é capaz de enaltecer representar e até divulgar uma determinada cultura ou sociedade. As produções cinematográficas coreanas nos últimos anos tem ganhado os palcos internacionais e mostrando que investimento em cultura é importante para a sociedade e a prova disso foi o OSCAR de melhor produção internacional para o filme PARASITA e os outros prêmios que o elenco e diretor ganharam durante a premiação, sendo essa a maior premiação cinematográfica do ocidente e do mundo.

 

Referências

Diana Jane Barbosa da Silva é Graduada em Bacharelado e licenciatura em História na UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro) fez parte do Lhisca (laboratório de história, cinema e audiovisualidades) do Instituto de História.

Thayane Rodrigues da Silva é Graduada em Bacharelado e licenciatura em História na UFRJ(Universidade Federal do Rio de Janeiro) fez parte do Lhisca (laboratório de história, cinema e audiovisualidades) do Instituto de História.

 

Referências

Irmandade de Guerra (Taegukgi hwinalrimyeo dir: Kang Je – Kyu, Coréia do Sul, 2004, DVD.

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12 comentários:

  1. Olá! Gostei muito de achar um ensaio que trate sobre as Coreias, gratidão por ele.

    Algo me chamou a atenção: apesar dos filmes em suma terem sido usados como fins propagandistas durante a Ditadura na Coreia do Sul, como era vista essa mesma ditadura? Existem hoje ou até mesmo durante o processo, filmes, desenhos, algo ligado a cultura pop que mostra resistência? Levando em conta que o Japão foi sujeito do processo Imperialista, a Coreia do Sul foi objeto do Imperialismo e o que é pop para nós pode não ser para eles. É interessante pensar como que a Coreia do Sul, nos dias de hoje, consolidou-se como sinônimo de "asiazidade", tendo em vista que os filmes de Hong Kong iniciaram em termos de diferenciação com essa ideia.

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    1. Olá. Muito obrigada pelas perguntas e comentário.Sobre sua primeira questão :o golpe militar na coreia do sul foi depois das guerras das coreias, vai um pouco fora do nosso recorte. No entanto, esse golpe aconteceu em 1961 por militares e ficou conhecida como a Terceira República. Na época também houve manifestações estudantis incessantes, assim como antes e depois continuaram havendo. Um texto que pode encontrar algumas informações (não epecífico ) sobre é "economia coreana-caracteristicas estruturais" de G. Masiero (2000) que tem no site da puc-sp. No âmbito do audiovisual há alguns doramas (séries) conhecidos que mais ou menos tocam no assunto: Love Rain ( que os primeiros episódios dizem bem alguns detalhes sobre o toque de recolher, as manifestações estudantis, a presença dos militares), tem o Reply 1988 que faz algumas poucas referências a época anterior. Mas o mal estar da sociedade é perceptivel. No momento não lembro mais de algum explícito que tenha chegado até nós( mas se houver a lembrança entrarei em contato). Mais uma vez obrigada por comentar.

      Diana Jane Barbosa da Silva/Thayane Rodrigues da Silva

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  2. Diana e Thayane, primeiramente gostaria de parabenizar pelo excelente texto, muito gostoso de ler e aprender. Quando li logo no início sobre a não valorização dos filmes coreanos, me veio a memória a grande conquista deles no Oscar desse ano com o filme "Parasita", que saiu sendo vencedor, o qual trouxe belas críticas, sendo aclamado pelo mundo inteiro, e quando acabei de ler, vi que vocês citaram isso no fim, e meu deus, que belo fim para o texto, muito bom saber que os filmes coreanos estão ganhando destaque no mundo, pois são muito bons! Mas enfim, a minha pergunta é, se fôssemos trabalhar sobre esses temas dos filmes referentes a história deles em sala de aula, vocês poderiam me indicar algum livro, artigo ou mangá que poderiam ser utilizados de forma crítica e construtiva?
    Desde já, grata! E novamente, parabéns pelo texto, foi tão bem inscrito que me senti lendo aqueles livros que são tão bons que não queremos deixar de ler.

    Cristielle Reis Santos.

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    1. Olá , muito obrigada pelos elogios. Estamos muito gratas, felizes pelo retorno e comentário. Sobre sua pergunta na sala de aula é possivel sim, mas seria para público dos anos finais do ensino fundamental e médio, devido aos filmes serem legendados e terem por vezes o viés mais político e mais de ação.Esse filme "Irmandade de Guerra" poderia ser visto para uma atividade ligada a época contemporânea e Guerra Fria. Em partes que poderiam se destacar tanto o horror da guerra em plena "Guerra Fria" quanto a relação entre as Coreias. De manhwa sobre o tema desconhecemos por ora. De artigo tem um que é sintético sobre a história em geral que seria bom para a sala de aula :" Os coreanos na história segundo Bruce Cumings" de A. Oliveira (tem no site scielo). Livro teria o "crimes de guerra" de Omer Bartov que possui um interessante artigo sobre a Guerra das Coreias, contudo não recomendo o livro todo aos alunos mais novos de fundamental. Talvez, para o ensino médio somente. Mais uma vez agradecemos as palavras. Muito obrigada.

      Diana Jane Barbosa da Silva/Thayane Rodrigues da Silva

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  3. Parabéns pelo artigo, é bom ver que cada vez mais pessoas se interessam em esclarecer certas visões distorcidas que o ocidente recebe sobre o conflito coreano, fiquei curioso quanto aos filmes e vou procurar para assistir.
    Acho importante, através dos filmes abordar esse tema e mudar a imagem quase religiosa de bem contra o mal criada pela mídia, nessa perspectiva como você vê a possibilidade, de abordar esse assunto que se faz tão atual em nosso país, ou seja, essa criação do inimigo, como o outro que deve ser destruído, e demonstrar as consequências que estas criações ideológicas podem acarretar?


    Fernando Müller

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    1. Boa tarde,
      Obrigada por seu comentário no nosso texto , assim como sua pergunta. Contudo, nosso conhecimento sobre essa parte não é específica e não é muito. Vamos tentar responder refletindo com que temos até aqui, e nos desculpe se tiver algo errado: Esse não dualismo das culturas em questão tanto da coreana quanto da japonesa, tem uma "raiz" (talvez) na religião budista, xintoista (japão)e confucionista(mais)coreia. Contudo, é bem diferente da ocidental(brasileira colonizada por europeus) com "raizes" de povos colonizadores (europeus) com ideais cristã-greco-romanicos que crescem ouvindo e vendo o bem completamente bom e o mal sendo ruim por completo. Essa diferente abordagem, menos maniqueista, é possível também, e interessante de ser observada e estudada partindo do nosso "lugar social" (assim como disse Michel de Certeau), para ver as representações disso no nosso país. Mas lembrando ainda de annales esse campo das mentalidades que seria uma longa duração (parafraseando Braudel) é dificil de ver o fim, do ponto de vista individual assim como as consequencias, mas sabemos que possui uma origem cultural. Mas cocodarmos que o diálogo com o outro(não-ocidental) nesse caso, favorece uma visão mais plural dessas ideias e perspectivas. Isso foi o que pensamos aqui.

      Obrigada

      Diana Jane Barbosa da Silva/ Thayane Rodrigues da Silva

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  4. Boa tarde, professoras Diana e Thayane!

    “O primeiro e maior problema é a ênfase que o pesquisador faz no caso da reprodução artística européia ocidental, assim como seus exemplos específicos europeus, o que enfraquece a utilização do texto no caso japonês e coreano por possuir outra História artística diferente da europeia, além de ter uma cultura artística própria.”

    “A “onda coreana” gerou grande inserção da cultura coreana no mundo e fez com que o cinema também tentasse transmitir coisas que as novelas e a música não eram capazes.”

    “Assim, como podemos perceber nas informações acima o cinema vai muito além do entretenimento. Ele é capaz de enaltecer representar e até divulgar uma determinada cultura ou sociedade.”

    São muitos os pontos que chamam a atenção no presente texto. O meu questionamento é: Frente às muitas exigências do ensino de história, dada às muitas vertentes que ela abrange, como favorecer as questões de equidade e subjetividade em sala de aula?

    Parabéns pelo texto e obrigada.
    Celiana Maria da Silva

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    1. Obrigada Celiana. Muito bom seus apontamentos e lembranças e obrigada por seu comentário. Na sala de aula o ensino da cultura asiática pode favorecer uma outra visão, assim como dizia a professora Cinthia Araújo "por outra história possível" (2013), a subjetividade nisso seria relativo a uma reflexão sobre identidade ( ainda sob a pesquisa de Araújo) , quando relacionamos identidade a uma história fora do dominante europeu causa estranheza, mas usando ainda as palavras da professora Araújo seria a importância do estudo de "identidade e diferença" ( ARAUJO, 2013). Com isso, espero que tenhamos respondido. E muito obrigada por sua presença aqui nos comentários.

      Diana Jane Barbosa da Silva/Thayane Rodrigues da Silva

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  5. Olá! Gostei muito! Parabéns as autoraas! Gostaria de saber quais são as dificuldade de estudar história e cinema asiático?

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    1. Obrigada, estamos muito felizes. E obrigada pelo seu comentário. Podemos dizer que as dificuldades existentes poderiam não existir nesse século. Mas esperamos que nas próximas gerações de pesquisadores e historiadores da área de Ásia diminuam. Mas no nosso caso foram: 1)pensar a Ásia ainda é visto como complexo ou impossível ; 2)achar material sobre filmes asiáticos em idiomas mais acessíveis ou numa escrita mais acessivel (sem ser preciso demorar pra entender e traduzir) é algo mais diferente do que estudar sobre o próprio país ;3)Estar entre um conteúdo sensacionalista e outro sério é uma atividade que leva muito tempo de triagem; 4)pesquisar textos que contenham referências a documentos, com bibliografia, de preferência vindas de universidades ou de instituições de pesquisa é o mesmo que estar perdida num mar de textos e informação e estar em dúvida sobre a veracidade de cada informação. Além disso, refletindo sobre as principais abordagens históricas de cinema. A história do cinema, a história no cinema (referindo-se as diferentes abordagens que são melhor trabalhadas pelo pesquisador Marcos Napolitano da Usp) tem sua própria " briga" de espaço no âmbito acadêmico, mas a menos famosa dessas já citadas é a história e cinema, ou seja, uma pesquisa que o filme é o próprio documento a ser analisado considerando que foi produzindo dentro de um tempo, uma sociedade e cultura. E essa perspectiva parece , (mesmo depois de toda a discussão francesa de Annales na década de 1950 sobre isso) pouco vista no Brasil, e esta foi uma das maiores dificuldades que tivemos em geral, porque quisemos considerar o filme o próprio documento histórico. Explicar e mostrar essa abordagem foi um desafio junto com o detalhe do filme-documento pertencer a uma nacionalidade asiática. Enfim, é uma longa lista. No entanto, outras áreas que não sejam também dentro do padrão dominante de pesquisa acreditamos que também possua seus caminhos rochosos. obrigada por seu comentário e participação aqui.

      Diana Jane Barbosa da Silva/ Thayane Rodrigues da Silva

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  6. Parabéns pelo artigo. Qual seria a melhor forma de usar filmes orientais em sala de aula para o Ensino fundamental? Na sua visão, os jovens estão começando a assistir mais filmes desse género influenciados pelos animes ou pelos prêmios que esse gênero de filme está ganhando na atualidade?

    Att,

    Cristiano Rocha Soares.

    Cuiabá MT

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    1. Obrigada, obrigada por sua participação e comentário aqui. Tivemos um pouco de dificuldade em pensar na questão.Mas escrevemos. As autoras passaram por algumas experiências sobre apresentações de filmes em sala de aula durante nossa graduação, uma das conclusões dos nossos trabalhos foi: é preciso planejar assim como qualquer outro tipo de aula. Com isso, uma adição ao planejamento seria discutir o preconceito cultural e as diferenças previamente, a contextualização é uma via interessante antes de se passar um filme na sala de aula. Sobre o interesse do público jovem brasileiro temos uma hipótese que é um processo de décadas. Há um" percuso" histórico que explicaria o nosso caso, se considerarmos desde a década de 1960 com os tokusatsu (em preto e branco), e então aos poucos até os fãs de pokemon de 2000(a socióloga Celia Sakurai trabalha um pouco sobre isso em "os japoneses").Assim, podemos perceber que há uma rota histórica dos fãs atuais. Enquanto isso, nos filmes há uma longa inserção(e aceitação) mundial asiática desde Rashomon (1950) de Akira Kurosawa e seu oscar. Agora na nossa percepção enquanto sujeitas históricas comuns: a Coreia do sul em 2009-2010 no Brasil já estava com muitos fãs, devido a popularização brasileira da internet banda larga na época. E o restante seria as reflexões sobre relações internacionais.
      Esperamos que mesmo com a nossa dificuldade tenhamos respondido.
      Obrigada

      Diana Jane Barbosa da Silva/Thayane Rodrigues da Silva

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