Gabriel Silvestre Ferraz e Vanda Fortuna Serafim

 

BREVES CONSIDERAÇÕES SOBRE PRÁTICAS DE CONSUMO E LEITURA DE MANGÁS NO BRASIL (1988-2019)

 

O presente artigo está vinculado com a pesquisa de iniciação científica com o título de ‘Práticas de consumo e leitura de mangás no Brasil (1988-20190’, que tem como objetivo realizar um mapeamento sobre o consumo e leitura de mangás no Brasil, no período que vai de 1988 até 2019. O recorte espacial e temporal delimitado é o Brasil de 1988 [ano em que é publicado o primeiro mangá por uma editora nacional] até 2019 [data de início da pesquisa]. Objetivamos mapear as práticas a fim de pesquisar um histórico do consumo de mangás licenciados no Brasil, entender a dinâmica da publicação de mangás no país e a relação das editoras com o seu público, além de investigar como se dá o consumo de mangás em território nacional e os impactos desse consumo nos grupos sociais que utilizam o produto. Desse modo, esse trabalho tem o intuito de apresentar considerações iniciais sobre a referida pesquisa.

Inicialmente, foi realizado um levantamento bibliográfico a respeito do tema, com trabalhos realizados por pesquisadores brasileiros das diversas áreas do conhecimento. Podemos citar, por exemplo, os trabalhos de Pedro Vicente Figueiredo Vasconcellos [2006] e Victor Wanderley Corrêa [2013] que contribuíram para o conhecimento do processo histórico do desenvolvimento do mangá. Outros trabalhos são o de Simonia Fukue Nakagawa [2016], que possui uma elaboração das características constitutivas do mangá enquanto linguagem e desenho, e Victor Eiji Issa, [2015] que realizou uma análise sobre os impactos do consumo de mangás e animes [nome dado aos desenhos animados japoneses] nos fãs desse tipo de produto.

Como base teórica e metodológica corroboram para esse trabalho autores como Paul Ricoeur em História, Memória e esquecimento [2003], Roger Chartier, com Práticas de leitura [2001], e Michel de Certeau com a Invenção do cotidiano [2014]. A utilização desses autores insere a pesquisa no campo de discussão historiográfica na área de história, cultura e narrativas. Diante do caráter interdisciplinar que assume a produção e abordagem do nosso objeto, a História Cultural surge como caminho viável para tratar o tema das práticas de consumo dos mangás no Brasil.

Ricoeur [2003] reforçou que, o mundo cultural e pessoal do autor de alguma obra impacta em sua produção, portanto, os elementos presentes nas obras são seletivos. Pelo fato do mangá ser escrito por autores japoneses, o universo cultural distinto dos autores com relação ao nosso precisa ser considerado, mas, a análise principal desta pesquisa se dá na leitura e o consumo dos leitores brasileiros da obra, a leitura e o consumo que visamos analisar na pesquisa é a de leitores brasileiros, questão importante de ser apresentada.

Já com a argumentação de Chartier [2001] de que toda obra possui, além de um produtor, os leitores, que usufruem da obra, nos torna possível buscar entender não apenas o contexto de produção de algum mangá, mas sim, como, no Brasil, num período de 30 anos, leitores consumiram e se apropriaram de recursos presentes nos mangás. A constituição ele uma escala ele diferenciações socioculturais exige, portanto, paralelamente às sinalizações das frequências de tais ou tais objetos, em tais ou tais meios, sejam encontradas, em seus desvios, as práticas de sua utilização e consumo [CHARTIER, 2001].

Por se tratar de um estudo do consumo, não apenas o consumo em si deve ser analisado, mas os consumidores também. Com isso, a argumentação de Michel de Certeau [2014] com relação aos “usos” e “consumo” nos possibilita analisar e buscar compreender qual é a utilização desse produto por parte dos consumidores, e como essa utilização se amplia e se transforma em outras práticas:

“Depois dos trabalhos, muitos deles notáveis, que analisaram os ‘bens culturais’, o sistema de sua produção, o mapa de sua distribuição e a distribuição dos consumidores nesse mapa, parece possível considerar esses bens não apenas como dados a partir dos quais se pode estabelecer os quadros estatísticos de sua circulação ou constatar os funcionamentos econômicos de sua difusão, mas também como o repertório com o qual os usuários procedem a operações próprias. Sendo assim, esses fatos não são mais os dados de nossos cálculos, mas o léxico de suas práticas. Assim, uma vez analisadas as imagens distribuídas pela TV e os tempos que se passa assistindo aos programas televisivos, resta ainda perguntar o que é que o consumidor fabrica com essas imagens e durante essas horas [...]" [CERTEAU, 2014. p. 93].

Consideradas a abordagem teórica e metodológica, é necessário estabelecer o que é um mangá. Conforme Pedro Vicente Figueiredo Vasconcellos [2006], mestre em Design pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, com atuação nos temas de design gráfico, mídia e quadrinhos, o mangá pode ser entendido como as histórias em quadrinhos japonesas, com características e peculiaridades próprias [VASCONCELLOS, 2006]. Para o autor as origens do termo mangá se encontram nos trabalhos do artista Katsushika Hokusai, que criou uma série de livros ilustrados nomeados de Hokusai manga nos anos de 1814 a 1878. Esses livros continham uma série de representações de movimentos do corpo humano e movimentos musculares, e ilustrações que retratavam a vida cotidiana japonesa.

Outro autor que elucida a discussão é Victor Wanderley Corrêa [2013], mestre em comunicação pela Universidade São Caetano do Sul, com experiência em jornalismo, contato publicitário, comunicação interna e empresarial, elaboração de campanha publicitária. Conforme Corrêa, [2013] a origem e desenvolvimento do mangá é algo fruto de hibridismos de características artísticas históricas do Japão com elementos do mundo ocidental:

“Quando tratamos de histórias em quadrinhos no Japão, falamos de Mangá. Conforme Alfons Moliné (2006), os caracteres man significam involuntário e gá, desenho e/ou imagem. A palavra foi associada a histórias em quadrinhos no próprio Japão, considerada como arte desde seus tempos de criação. Suas origens referenciam a tempos passados, artes e culturas japonesas em hibridismo com elementos da cultura ocidental” [CORRÊA, 2013. P. 26].

Portanto, a partir da argumentação de Vasconcellos [2006] e Corrêa [2013], o mangá pode ser entendido como a história em quadrinhos produzida no Japão, que se desenvolveu no passado com características artísticas próprias do país em conjunto com uma série de fatores que o ocidente proporcionou para o Japão.

No que tange a circulação dos mangás no Brasil, conforme Nathália Marques de Nóbrega e Pedro Paulo Procópio [2017], o primeiro mangá traduzido de forma oficial foi o Lobo Solitário, de Koike Kazuo e Kojima Goseki, em 1988, pela editora Cedibra, seguido por Akira, de Otomo Katsushiro, em 1990, pela editora Globo. Essas datas, mais precisamente a data da publicação do Lobo Solitário, marcam os primeiros momentos de uma publicação oficial de histórias em quadrinhos japonesas para o Brasil.

Sonia Maria Bibe Luyten, [2003] Doutora em Ciências da Comunicação pela Universidade de São Paulo, com atuação focada nos seguintes temas: Comunicação, Histórias em Quadrinhos, Charge, Cartum e Cultura Pop Japonesa, argumentou que o mangá já era presente no Brasil antes dessas datas, mas sua circulação era restrita em regiões da comunidade japonesa, e eram trazidos diretamente do Japão, ou seja, eram em japonês:

“No Brasil, no entanto, muito antes de Frank Miller, ’descobrir’ os mangás, estes já eram fartamente lidos pela comunidade dos descendentes de japoneses. Eles eram importados e distribuidoras especializadas – normalmente localizadas no bairro da Liberdade na cidade de São Paulo – enviavam para o interior quer do Estado de São ou Paraná para as colônias nipônicas”  [LUYTEN, 2003. p. 8].

Diante de tais questões, a pesquisa parte da análise das práticas de leitura e consumo de mangás no Brasil, a partir do ano de 1988, pois é a data do primeiro mangá lançado aqui com uma tradução para o português, ou seja, disponível ao leitor brasileiro de forma mais ampla. Os mangás que circulavam anteriores a essa data, não traduzidos, não serão considerados para o desenvolvimento do trabalho.

A relevância da pesquisa se dá pois, por 30 anos, o mangá é um produto que é publicado e vendido no país, e se, por todo esse tempo, as publicações continuam, é possível concluir que a demanda do material existe e continua. Essa pesquisa busca em seu primeiro momento compreender essa demanda, quais os motivos da mesma, além de entender quais as estratégias de publicação por parte das editoras.

Um assunto importante para compreender a fixação dos mangás no Brasil é com relação a formação da Associação Brasileira de Desenhistas de Mangá e Ilustrações [ABRADEMI], uma associação formada em 1983 com estudiosos e desenhistas profissionais no Brasil. A atuação da ABRADEMI é algo que se encontra com maior acesso, no site oficial da associação, por exemplo, no texto introdutório, o incentivo e valorização do mangá e cultura pop japonesa no geral são exaltados:

“Em 1983, numa época em que ninguém acreditava que o mangá faria sucesso, um grupo de idealistas decidiu trabalhar e criar a ABRADEMI. Desde a aprovação do seu Estatuto Social, e a efetiva fundação da ABRADEMI, ocorrida em 03/02/1984, já se passaram 35 anos. Muita coisa mudou, mas a ABRADEMI pode se orgulhar do seu pioneirismo no Brasil em todos os aspectos. Por exemplo, a ABRADEMI  ministrou a primeira aula de mangá do Brasil, fez o primeiro fanzine de mangá, o primeiro concurso de cosplay, o  primeiro evento de mangá e animê, a primeira exibição de animê, a primeira exposição, o primeiro Anime kê, o primeiro AnimeDance, o primeiro concurso de mangá, o primeiro debate, etc. A lista é enorme”. [www.abrademi.com – Homepage - autor: desconhecido].

Tendo em vista que o consumo de mangá é uma prática consolidada no Brasil, e tendo em vista que o trabalho procura abordar tais questões pela perspectiva histórica, para realizar um mapeamento dos mangás no Brasil, é necessário compreender como o ambiente acadêmico se utiliza do mangá. Quais áreas do conhecimento utilizaram esse objeto em suas pesquisas, como geralmente ele é utilizado nos trabalhos, quais as possibilidades do uso acadêmico do mangá, etc. São questionamentos importantes para se elaborar os critérios de mapeamentos que serão utilizados posteriormente na pesquisa.

A já citada Luyten [2003] é uma das principais referências para compreender o histórico e desenvolvimento de pesquisas com o mangá no brasil, Luyten [2003] destacou o primeiro trabalho de nível acadêmico com relação ao mangá no Brasil, nos finais da década de 1970:

“Também na década de 1970 surge a primeira pesquisa sobre mangá no Brasil coordenada por mim publicada na revista Quadreca, órgão laboratorial da cadeira de Histórias em Quadrinhos da ECA/USP: ‘O fantástico e desconhecido mundo das HQ japonesas’. ‘A idéia de se estudar as histórias em quadrinhos japonesas surgiu no segundo semestre de 1974 na cadeira de Histórias em Quadrinhos ministrada na Escola de Comunicações e Artes da USP O que pretendemos com nosso trabalho é incorporá-lo a essa galeria de publicações, lidando com um assunto não muito investigado no Brasil”  [LUYTEN, 2003. p. 10].

Por fim, a pesquisa também procura realizar o realizar o mapeamento em si dos mangás publicados oficialmente no Brasil. Para recolher o número de mangás publicados, além da utilização de um acervo próprio, também buscamos por títulos em livrarias, sebos, e sites de venda online. Também é importante também citar a utilização de 2 sites, a biblioteca brasileira de Mangás e o Guia dos Quadrinhos. Ambos, são blogs, nos quais quadrinhos no geral são catalogados e listados por moderadores, os Blogs são dedicados ao contexto brasileiro de publicação das obras, ou seja, as informações são majoritariamente relacionadas com a edição nacional dos títulos.

A Biblioteca brasileira de Mangá, é um lugar específico para o mangá, lá são encontradas diversas informações com relação aos títulos presentes aqui no Brasil, assinaturas, editoras, lançamentos futuros, entre diversos outros temas, estão incluídos, além deles disponibilizarem links para compra e acesso dos títulos para os usuários. O Blog serve muito como um portal de notícias do universo das publicações de mangás no Brasil, informações das editoras e do mercado de mangás no geral.

Já o Guia dos quadrinhos é de certa forma similar, mas, o Mangá não é o único foco, os quadrinhos brasileiros e os americanos, por exemplo, também são listados. Na Guia dos quadrinhos, que se apresenta como um ‘’banco de dados’’ existe um acervo dos quadrinhos no Brasil, no qual os usuários do blog, fãs dedicados ao universo dos quadrinhos, contribuem com fotos e informações de suas coleções e edições, algumas difíceis de encontrar informações sem serem dessa forma hoje em dia.

Um possível caminho com relação ao mapeamento dos títulos é uma separação dos mangás por editoras, e por ano, acreditamos que essa separação seja útil pois com ela pode se tornar possível perceber um perfil de cada uma das diferentes editoras que publicam mangás no Brasil. Outra possibilidade, é separar os títulos por estilo da obra, útil para avaliar quais os tipos de mangás que são mais trazidos para nosso território.

 Antes de concluir, é importante destacar também a existência de um outro tipo de leitura de mangás no Brasil, os que circulam na internet, provenientes das scanlations.  Conforme Sabrina Moura de Aragão [2016], Doutora em comunicação pela Universidade de São Paulo com atuação focada nos processos de tradução diversos, a scanlation seria uma prática de tradução não oficial digital, feita na maioria das vezes por fãs e sem fins lucrativos, de mangás que não se encontram disponíveis para serem adquiridos em algum determinado país. A existência das scanlations pode servir como reforço para entender a demanda de mangás no Brasil, mas, por se tratar de um mundo diferente do mundo dos mangás licenciados, com questões próprias e distintas, optou-se por trabalhar esse assunto em um outro projeto de pesquisa.

O presente artigo buscou apresentar algumas considerações iniciais da pesquisa de iniciação científica intitulada de ‘’Práticas de consumo e leitura de mangás no Brasil (1988-2019)’’ que atualmente encontra-se em desenvolvimento. Em um primeiro momento, optou-se por trabalhar com o processo de chegada do mangá no Brasil e sua estabilização. E nos momentos seguintes, reunir informações sobre os trabalhos acadêmicos que discutem o tema, além de reunir dados com relação aos títulos que foram publicados de forma oficial no Brasil.

 

Referências:

Gabriel Silvestre Ferraz é graduando de Licenciatura em História pela Universidade Estadual de Maringá. Membro do Laboratório de Estudos em Religiões e Religiosidades (LERR/UEM) sob orientação da professora doutora Vanda Fortuna Serafim. E-mail: ra108359@uem.br

Vanda Fortuna Serafim é professora e doutora Adjunta na Universidade Estadual de Maringá, atua nos cursos de graduação em História (presencial e EAD) e Pedagogia (EAD); é docente do Programa de Pós-graduação em História (PPH-UEM). Atua como pesquisadora/docente do Núcleo de Pesquisa em História Religiosa e das Religiões (CNPQ), no Grupo de Trabalho em História das Religiões e das Religiosidades (ANPUH) e no Laboratório de Estudos em Religiões e Religiosidades (UEM). E-mail: vandaserafim@gmail.com.

 

ARAGÃO, S. Scanlation e o poder do leitor-autor na tradução de mangás. Tradterm, v. 27, p. 75-113, 4 out. 2016. Disponível em: < http://dx.doi.org/10.11606/issn.2317-9511.v27i0p75-113> Acesso em: dezembro de 2019.

CERTEAU, Michel De. A invenção do cotidiano. Petrópolis, Vol. 1. Ed. 22. Editora Vozes, 2014.

CHARTIER, Roger. Práticas de Leitura. São Paulo, Estação Liberdade, 2001.

CORRÊA, Victor Wanderley. Inovações no Mangá Brasileiro Moderno. 2013. Dissertação de Mestrado – Universidade Municipal de São Caetano do Sul, 2013. Disponível em: < http://repositorio.uscs.edu.br/handle/123456789/351> Acesso em: 1 de outubro de 2019.

ISSA, Victor Eiji. Otaku: um sujeito entre dois mundos. Refletindo sobre o diálogo existente entre ficção e realidade. 2015. Dissertação (Mestrado em Antropologia Social) - Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2014. Disponível em:<https://teses.usp.br/teses/disponiveis/8/8134/tde-01062015-154037/pt-br.php> Acesso em: abril de 2020.

LUYTEN, S. M. B. Mangá produzido no Brasil: pioneirismo, experimentação e produção. In: XXVI Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação. Belo Horizonte/MG: INTERCOM (Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação), 2003. Disponível em:<http://www.portcom.intercom.org.br/pdfs/168852646868454336879017132244134098721.pdf> Acesso em: abril de 2020.

NAKAGAWA, Simone Fukue. Apropriação de elementos constitutivos no mangá: investigando Murakami e Nara. 2016. Dissertação de Mestrado – Universidade de São Paulo, 2016. Disponível em: <http://www.teses.usp.br/?lang=pt-br> Acesso em: 10 de agosto de 2018.

NÓBREGA, Nathalia Marques de; PRÓCOPIO, Pedro Paulo. Mangá e Cultura Pop Japonesa no Brasil: Impactos dos Scanlators e Fansubs no Mercado Editorial do País. 2017. Conferência Brasileira de Folkcomunicação - Universidade Federal Rural de Pernambuco, 2017.Disponível em:                                                                                                               < http://anaisfolkcom.redefolkcom.org/index.php/folkcom/article/view/71> Acesso em: outubro de 2019.

RICOUER, Paul.  História, Memória e esquecimento. Conferencia ‘’Haunting Memories? History in Europe after Authoritarianism’’, 2003. Disponível em:< http://www.uc.pt/fluc/uidief/textos_ricoeur/memoria_historia> Acesso em: 7 de novembro de 2018.

VASCONCELLOS, Pedro Vicente. Mangá-do, os caminhos das histórias em quadrinhos japonesas. 2006. Dissertação de Mestrado – Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, 2006. Disponível em: <https://www.maxwell.vrac.puc-rio.br/8973/8973_1.PDF> Acesso em: 10 de agosto de 2018.

 

24 comentários:

  1. Primeiramente gostaria de parabenizar pela iniciativa da pesquisa que corrobora para compreensão de como se deu a prática de consumo e de leituras de mangás no Brasil. Sabendo que essa pesquisa se iniciou no ano passado, acredito que algumas questões já foram observadas por vocês no decorrer do processo desse estudo no que reflete a difusão desse material no cenário brasileiro. Diante disso, como a popularização dos animes japoneses e das séries de gênero Tokusatsu e Super Sentai nos anos 1980 na tv brasileira, alavancou o interesse pelas editoras nacionais em adquirir a licença para distribuir os mangás em solo brasileiro? E de que maneira o sucesso de um Anime contribuía para uma maior aquisição desse produto em nosso território? Compreendendo que no Japão, comumente o mangá vem primeiro que o anime, aqui no Brasil ocorria o inverso devido ao tempo que esses produtos demoravam para chegar aqui em décadas passadas.

    Ronyone de Araújo Jeronimo

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    1. Olá, agradeço aos comentários.

      Com relação ao seu primeiro questionamento, hoje em dia é quase um consenso entre os pesquisadores da temática a colaboração de outras formas de mídia como os animes, séries japonesas e também os videogames para a propagação e difusão do Mangá no ocidente nos anos finais do século passado.

      O pesquisador Fusanosuke Natsume, professor da universidade de Gakushuin no Japão, em um artigo de 2001 intitulado de ‘’Japanese Manga: Its Expression and Popularity’’, inclusive acrescentou que para compreender o avanço e popularização do Mangá é de suma importância que se considere esse avanço em conjunto a um chamado ‘’mix de mídia’’, que incluí tanto os animes, como os videogames, seriados e outros produtos provenientes desse universo, como brinquedos inspirados nas personagens dos mangás, cartas colecionáveis, etc. De forma breve, no ‘’míx de mídia’’, o consumo de um produto impulsiona o consumo posterior de um outro produto relacionado com o primeiro.

      Em um cenário nacional, demarcado a partir das décadas de 1980 e 90, a professora citada em meu texto Sonia Maria Bibe Luyten (2003) indicou no mesmo artigo utilizado, de que de certa forma dos animes foram os responsáveis por uma difusão no ocidente da cultura japonesa, ou seja, nesse momento, para além de entretenimento, os animes também serviam como agentes expositores de produtos diferentes, e posteriormente alavancariam no maior interesse por outros materiais, dentro esses o Mangá incluído.

      Portanto, com base nas leituras que venho realizando no decorrer da pesquisa, acredito que a popularização dos animes e séries de televisão japonesas nos anos de 1980 e 1990 alavancou no interesse editorial de Mangás por uma dinâmica similar ao míx de mídia. Ou seja, a partir dos primeiros contatos que os brasileiros tiveram com as obras japonesas provenientes do contato através de exibições na televisão, que se intensificou o interesse em consumir o material originário, portanto o interesse das editoras em trazerem o material para o território nacional.

      Agora, em relação a contribuição do sucesso de algum Anime para o maior acesso ao seu mangá no ocidente, tenho observado ser um tema bastante discutido entre os pesquisadores da área. Ao longo da pesquisa, em conjunto com as leituras, também está sendo realizado um recolhimento de dados relacionados as publicações de Mangá no Brasil no período demarcado.

      Através desses dados, é possível perceber que os primeiros mangás de maior sucesso no Brasil foram Cavaleiros do Zodíaco e Dragon Ball, ambos publicados pela editora Conrad e pela primeira vez aqui no ano de 2000. É interessante notar que ambos os títulos também tiveram suas adaptações em animes exibidas na televisão brasileira na década de 1990.

      De forma breve, com os dados até então recolhidos, é possível inferir que o sucesso de algum anime na televisão brasileira indicava para as editoras o que estava no gosto do público, uma aposta mais segura com relação a quais materiais poderiam ser portados para nosso território.

      Se analisarmos algumas das primeiras publicações de Mangá no Brasil nos fins da década de 1980 e início de 1990, citadas no artigo, Lobo Solitário e Akira, é possível reforçar os apontamentos. O Lobo Solitário, publicado em 1988 pela editora Cedibra, foi cancelado e não concluído, já Akira, em um intervalo de 2 anos após a publicação do Lobo Solitário, foi iniciado e concluído em 1998. Akira teve sua adaptação cinematográfica exibida no Brasil em 1991, já o Lobo Solitário não teve nenhum outro meio de comunicação em circulação no período senão o próprio Mangá.
      São questionamentos interessantes, espero ter respondido suas dúvidas, grato novamente.

      Gabriel Silvestre Ferraz

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    2. Respondeu sim Gabriel, foi muito esclarecedor para mim, espero ver em breve os resultados de sua pesquisa.

      Ronyone de Araújo Jeronimo

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  2. Olá Gabriel Silvestre e Vanda Fortuna, tudo bom? Primeiro parabéns pelo excelente texto. Souberam trabalhar bem a temática do mangá e sua relevância sobre as práticas de consumo e leitura em solo brasileiro.
    Como citado no decorrer do texto, o mangá possui uma grande relevância como produto comercializado em nosso país, principalmente, entre 1988 e 2019, como bem mencionados por vocês. De modo bem particular, eu fui um colecionador nato desse material durante a infância, sempre passava pela única banca de revista da cidade e olhava todos aqueles livrinhos com olhares admirados. Contudo, observo atualmente pouco interesse pelos mangãs impresso e forte procura pelos games relacionados aos animes provenientes dos quadrinhos, por exemplo, Cavaleiros do Zodíaco, Pokémon Go e outros. Partindo desse contexto, vocês acreditam que as grandes empresas largaram mãos destes métodos para aventurarem nos meios digitais? Ou ainda há espaços para esse material em pleno século XIX?

    Kleitson Emanuel da Silva

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    1. Olá, agradeço aos comentários.

      Como mencionado em minha resposta anterior, os Mangás, animes e jogos eletrônicos de fato possuem uma relação midiática misturada, não é incomum encontrar fãs de algum Mangá que também consomem as adaptações da obra para a televisão e para o videogame, e vise e versa.

      Não acredito que o consumo de um limite o alcance de outro, na prática, o que se vê é um consumo interligado, dou um exemplo: Frequentemente, a empresa de streaming de animes no Brasil, Crunchyroll, faz propaganda de diversos jogos eletrônicos e Mangás em suas redes sociais que a mesma disponibiliza as versões animadas em seu catálogo.

      Limitando minha resposta para o caso brasileiro, não acredito que a popularização dos jogos e de edições digitais dos Mangás pode influenciar em uma queda do consumo de Mangás físicos por aqui. Primeiramente, apresento um caso de uma das editoras de Mangá mais populares do Brasil, a JBC: No ano de 2005, 7 Mangás foram publicados pela editora, já no ano de 2015, 10 anos depois, a Editora publicou 32 Mangás diferentes no Brasil. O aumento do número de publicações pode indicar um maior interesse e busca, no espaço de 10 anos, dos leitores para com os Mangás.

      A mesma editora, a JBC, também vem lançando seus títulos para os meios digitais. Apesar de não haver algum dado exato que compare o consumo de um mesmo título no meio digital e físico, se analisarmos as edições físicas mais atuais da mesma, é possível perceber um aumento na qualidade dos materiais, dos papéis, das capas, etc., ou seja, a demanda do material físico, por mais que também exista o digital, ainda é algo presente.
      Agradeço ao seu questionamento, espero ter respondido suas questões.

      Gabriel Silvestre Ferraz

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    2. Agradecido pela sua resposta, foi um debate muito esclarecedor. Abraços.

      Kleitson Emanuel da Silva

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  3. Este comentário foi removido pelo autor.

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  4. Primeiramente quero te parabenizar pelo texto e pela pesquisa Gabriel Silvestre e Vanda Serafim. Sou professor de História no Ensino Fundamental e nos últimos anos venho trabalhando e inserindo quadrinhos na sala de aula, entre estes quadrinhos também incluí mangás. Acredito que o mangá também pode servir como um recurso pedagógico para o ensino da História, das culturas, para aproximar produções distantes (oriental) no universo da sala de aula no Brasil. Assim sendo, te pergunto: você concorda com o uso dos mangás na sala de aula como um recurso pedagógico? E, caso você conheça, teria alguma sugestão de mangá vendido no Brasil (em idioma português) que trabalhe ou aborde aspectos culturais do oriente e que possam ser utilizados em sala de aula no Ensino Fundamental séries finais. Desde já agradeço e novamente parabéns pelo texto e pela pesquisa.

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    1. Olá, agradeço aos comentários.

      De forma rápida, concordo sim com a utilização dos Mangás no ensino brasileiro. O uso de quadrinhos no geral em sala de aula é algo costumeiramente associado para as aulas de Língua Portuguesa, porém, acredito que algumas obras possuem potencial para outras disciplinas, inclusive não apenas para com os conteúdos de História. Ao longo de minha graduação, desenvolvi alguns trabalhos nos quais tentei buscar a aplicabilidade dos mesmos nas salas de aula. No levantamento bibliográfico para a iniciação científica, trabalhos de diferentes áreas do conhecimento foram elencados, inclusive trabalhos da área da educação.

      Com relação a recomendações, são vastas, irei indicar algumas:

      Com relação a figura dos samurais japoneses, recomendo os relançamentos atuais por parte da editora Panini dos Mangás ‘’Vagabond’’, de Takehiko Inoue, e ‘’Lobo Solitário’’ de Kazuo Koike e Goseki Kojima.
      Dentro de outra temática, um Mangá que recomendo com relação a conteúdos relacionados com o Japão na Segunda Guerra Mundial, é ‘’Gen Pés Descalços’’, de Keiji Nakazawa, relançado pela editora Conrad em 2011.

      É interessante reforçar que a aplicabilidade dos Mangás para com o ensino de História nas escolas não se restringe apenas para os conteúdos relacionados com o Oriente. O mangá ‘’A Rosa de Versailles’’, da editora JBC, 2019, de Riyoko Ikeda, por exemplo, contem uma representação da França anos antes da Revolução Francesa.

      O catálogo da editora L&PM contém uma série de obras históricas reescritas e desenhadas por artistas de Mangá, como por exemplo ‘’Hamlet’’, ‘’A arte da Guerra’’, ‘’O Manifesto do Partido Comunista’’, ‘’O contrato Social’’ e ‘’Os irmãos Karamázov’’.

      Adiciono a sua pergunta que, uma das problemáticas de se trabalhar com Mangás em sala de aula é a acessibilidade dos mesmos. As edições mais atuais de custam mais do que R$ 20,00 cada volume, além de que algumas mais antigas são de difícil acesso por não terem sido relançadas ou reimprimidas.

      Agradeço aos seus questionamentos.
      Gabriel Silvestre Ferraz

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    2. Obrigado Gabriel pelas valiosas dicas de mangás. Vou procurá-las. Desejo-lhe sucesso.

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  5. Olá!
    Parabéns aos autores pelo ótimo trabalho de pesquisa!

    Este ano, algumas das principais livrarias brasileiras foram atingidas por uma grave crise, que se deve a diversos fatores, mas que no geral afeta também os leitores. Nos EUA, o mercado de comics também enfrenta dificuldades para renovar seu público, o que levou a DC a adotar novas formas de distribuição de seus títulos, na esperança de alcançar um público maior. Diante dessa crise das livrarias no Brasil, sobretudo em tempos de pandemia, e da diminuição dos leitores de quadrinhos de heróis, quais seriam os “segredos” dos mangás, na perspectiva dos autores, para permanecer com alto consumo e ampliação do seu público leitor no Brasil?

    Dalgomir Fragoso Siqueira (UPE)

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    2. Olá, agradecemos aos comentários.

      Apesar do ano de 2020 e do contexto de Pandemia não serem tópicos da pesquisa devido ao limite temporal de 2019, seu questionamento é interessante. A primeira resposta, mais rápida, seria a ampliação do mercado de mangás em formato digital, tanto no mundo, como no Brasil.

      No mundo, as editoras veem crescentemente aumentando seus catálogos para o formato digital, apesar de isso já ser algo que ocorria anteriormente ao caso de 2020, essa questão só se ampliou. Dou um exemplo: Diversos títulos, tanto de Mangás como de outras formas de quadrinhos estão disponíveis para serem lidos completamente para assinantes do serviço de assinatura da Amazon, em inglês.

      No Japão, através de uma postagem em rede social oficial da franquia, o título internacionalmente popular ‘’One Piece’’, foi disponibilizado gratuitamente para a leitura digital dos volumes de 1 até 61, em japonês, (atualmente, o Mangá está com cerca de 95 volumes no Japão).

      As editoras Panini e JBC, aqui no Brasil, por exemplo, ampliaram seu catálogo de Mangás digitais (que inclusive, é mais barato e mais acessível), a JBC já está nesse mercado a algum tempo e possui um catálogo bem grande disponível, já a Panini entrou nessa tendência esse ano, em abril, com uma ‘’aposta segura’’: Trouxe para formato digital o Mangá de já sucesso ‘’Naruto.’’

      Apesar de eu não considerar que o aumento do consumo digital impacte negativamente a venda dos volumes físicos, como mencionei em respostas anteriores, nesse contexto específico, a ampliação da acessibilidade digital dos Mangás pode ser visto como uma das principais tendências tanto no mundo como aqui no Brasil.

      Agora, em contextos anteriores, vamos considerar a título de exemplo o período de 2015 até 2019, se observarmos os títulos publicados pelas editoras Panini e JBC nesse espaço de tempo encontraremos algumas tendências. Nesse período, maioria dos títulos que foram licenciados pelas editoras tiveram suas versões animadas na mesma época, exibidas no Japão, e consumidas pelo público brasileiro, maioria por meio da prática das fansubs (similar a prática das scanlations citada no artigo, porém a fansub consiste na prática nesse caso de legendar animes de forma não oficial), ou seja, maioria dos Mangás publicados no período já continha uma base de público interessado na obra, devido ao contato que tiveram na internet com a versão animada da mesma.

      As editoras, na maioria das vezes, publicam obras nas quais os fãs já estão interessados primeiramente, e que já possuem uma tendência a adquirir o material. Acredito que isso possa ser um dos motivos que o Mangá se manteve forte nos últimos anos, antes mesmos das obras chegarem para nós, em nosso território já existe uma base de ‘’fãs’’ que consome e divulga a obra para as outras pessoas.

      Apesar de não ser um tema que eu tenha estudado muito, espero ter respondido seu questionamento, agradeço novamente.
      Gabriel Silvestre Ferraz
      Vanda Fortuna Serafim

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  6. Boa tarde Gabriel e Professora Vanda!
    Primeiramente, gostaria de parabenizar ambos pelo belo texto e como é gratificante ver essa temática sendo amplamente discutida no meio acadêmico. Dessa forma, gostaria de levantar alguns questionamentos e comentários que possam, de alguma maneira agregar em sua pesquisa.
    Um deles diz respeito a uma de suas falas ao abordar que se deve manter um olhar para além do consumo, ou seja, seus consumidores no geral. Sendo assim, acredito que vocês consideram esse consumo de mangás ou animes como um ato cultural, portanto, ao tratar desses consumidores, podemos dizer que os mesmos podem contribuir para um processo de comunicação de determinada cultura, como uma espécie de códigos? Se sim, como você entende essa simbologia?
    Vi também que você fez uso da Luyten, a qual eu conheço o trabalho. É notório, segundo a própria autora, que essas produções a respeito desse aparato o qual trabalhamos é um reflexo de nossa sociedade que não é restringido apenas a algo estético. Posto isto, é correto afirmarmos que esse consumo pode demonstrar também, uma mudança de ideias políticas e culturais do Oriente para o Ocidente? Gostaria de saber a opinião de vocês a respeito.

    Alexia Henning

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    1. Olá Alexia, agradeço aos elogios e comentários.

      Já existem alguns trabalhos acadêmicos brasileiros que se voltaram para a análise, não dos mangás ou animes, mas sim de seus fãs e consumidores. Te dou o exemplo dos trabalhos de Antropologia de Victor Eiji Issa que contém uma análise mais extensa dos ‘’Otakus’’, o termo dado aos consumidores da cultura pop japonesa no ocidente. A partir das minhas leituras dos trabalhos de Issa, em conjunto com a minha vivencia pessoal própria por mais de 10 anos nas comunidades de fãs de mangás e animes, acredito que sim, os consumidores podem contribuir para o processo de comunicação de uma determinada cultura.

      Issa indicou em sua dissertação de mestrado ‘’Otaku: um Sujeito entre Dois Mundos - refletindo sobre o diálogo existente entre Ficção e Realidade’’, de 2014, que as comunidades de fãs de animes e mangás, os Otakus, para além de suas particularidades que os distinguem de outras tribos urbanas, como vestimentas e formas de interação, também possuem certos códigos comunicacionais próprios, que os mesmos extraem de seu consumo e adaptam esses códigos.

      Eu vejo essa simbologia, essa espécie de códigos, como uma apropriação específica de algumas palavras e expressões e ressignificações das mesmas. Não apenas Issa, mas Luyten também indicou em seus trabalhos que é bastante comum que essas expressões nas comunidades de fãs brasileiras tenham um sentido diferente do que o seu sentido original. O próprio termo ‘’Otaku’’, carregado por um sentido negativo no Japão, indicado por Issa, no Brasil, foi e ainda é visto como uma intitulação própria, na maioria das vezes dada até com orgulho pelos fãs do material.

      Como indiquei em outra resposta, Luyten argumentou que, a partir da década de 1990, os animes passaram de material de entretenimento para também uma ferramenta de propagação da cultura e história japonesa para o ocidente. Apesar de maioria dos mangás que vieram nos anos iniciais do mercado aqui no Brasil serem os materiais de animes que fizeram sucesso na televisão brasileira, acredito que sim, principalmente mais no âmbito cultural.

      A exemplo, o livro ‘’Mangá: Na anthology of Global and Cultural Perspectives’’, editado por Toni Johnson-woods, de 2010, contém uma série de artigos com relação as questões culturais do mangá ao longo do globo. Em um dos artigos, N.C. Christopher Couch, PhD em história da arte pela universidade de Columbia, indicou, nos Estados Unidos, o aumento no interesse acadêmico pela cultura japonesa no geral, idioma e literatura anos depois da estabilização do mercado de mangás no país.

      Agora, no quesito político, não possuo a leitura necessária para te responder de forma satisfatória, por ser uma área na qual eu não tenho me enfocado até então.

      Agradeço suas perguntas, espero ter conseguido responde-las.
      Gabriel Silvestre Ferraz

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    2. Respondeu sim Gabriel, foi muito esclarecedor, espero ver em breve os resultados de sua pesquisa para me auxiliar, como também poder participar e contribuir de alguma forma nela. Abraços!

      Alexia Henning

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  7. Olá, primeiramente gostaria de parabenizá-lo pela pesquisa!
    Foi citado no texto que o mangá está circulando no Brasil por cerca de 30 anos. Nesse intervalo de tempo, é possível perceber alguns padrões de publicações? Se sim, quais chegam para nós?
    Desde já agradeço!

    Giovanna Tolomeotti Pereira

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    1. Olá, agradeço aos comentários.

      Primeiramente, é importante ressaltar que os estudos em maior quantidade com um enfoque nas publicações datam dos períodos de chegada e estabilização do material no Brasil, ou seja, nos anos de 1988 até 2000. Depois dessa data, ainda existem trabalhos, mas não temos conhecimento até então de algum que contém uma análise mais aprofundada do assunto.

      Conforme mencionado em respostas anteriores, os mangás que vinham para cá nos anos de 2000, na maioria das vezes eram os materiais originais de animações exibidas na televisão brasileira anteriormente. Já nos períodos mais atuais (a partir de 2010), com o advento da internet, é possível perceber a relação entre o mangá publicado aqui e sua animação ser algo atual e popular entre os consumidores do conteúdo, ou seja, o que está sendo comentado por fãs e possui um publico pré-estabelecido, tende a ser publicado aqui.

      Em ambos os casos, no Brasil, o padrão é o mesmo: o contato primordial é com a animação de um mangá, que posteriormente incentiva as editoras a lançarem os materiais em nosso território.

      Grato pelo questionamento.
      Gabriel Silvestre Ferraz
      Vanda Fortuna Serafim

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  8. Olá, em primeiro lugar parabéns pela pesquisa!
    É dito no texto que o mangá circula pelo Brasil a 30 anos aproximadamente e que tal consumo causa impacto. É possível dizer se o impacto já foi maior ou menor em comparação com o cenário mais recente da pesquisa?
    Perdão se a pergunta não for boa, nunca fiz esse tipo de coisa.

    Renan Moreno Fraga Alvarez

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    1. Olá, agradeço aos comentários.

      Apesar dos dados estarem em análise ainda, é possível sim. De forma rápida, caso comparemos os números totais de publicações em diferentes anos do recorte temporal selecionados, sua dúvida se torna mais clara:

      Em 2001, tivemos 13 mangás publicados no Brasil.

      Em 2011, o número subiu para 46.

      Se analisarmos a elevação da quantidade de publicações por ano, é possível perceber uma constante elevação, que tem se acalmado desde 2015 mais ou menos, atingindo números de publicações anuais muito próximos. Acredito que, portanto, o impacto teve um crescimento ao longo dos últimos anos, e vem recentemente encontrando números mais próximos uns dos outros.

      Espero ter respondido seu questionamento.
      Gabriel Silvestre Ferraz
      Vanda Fortuna Serafim

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  9. Boa Noite à Todos.
    Esse crescente fascínio pela Cultura Pop Oriental vem ganhando adeptos a cada dia.
    Vemos a todo momento influências dos mangás e animes e também em produções mais longas como as de Hayao Miyazaki em jogos como Ori and the Blind Forest e CupHead ( Jogos que tenho e joguei e considero muito bem feitos).
    Particularmente prefiro quadrinhos e produções ocidentais.
    Parabéns por nos trazer esses dados relacionados aos Mangás e Animes.
    Quanto à questão é se os mangás influenciaram os quadrinhos Ocidentais ou foi o contrario. Pq Mangás e alguns "animes" da década de 80 eram ocidentalizados por assim dizer.
    Com base em pesquisas qual a opinião de vcs sobre essa questão?
    Obrigado.
    Valmir da Silva Lima.

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    1. Olá, boa noite.

      Atualmente, eu venho realizando uma série de leituras sobre essa questão. Apesar do meu estudo não ser tão amplo, eu considero que, até certo ponto, um influencia o outro.

      Apesar de serem muito similares, os mangás e os quadrinhos ocidentais (considerados aqui apenas os originados nos Estados Unidos) possuem cada um suas particularidades próprias. No quesito artístico, de traços, por exemplo, eu não tenho leituras e aprofundamento suficiente para te responder.

      Porém, nas questões narrativas e formas de publicações, o livro, de 2010, ''Mangá: An anthology of Global and Cultural Perspectives’’, editado por Toni Johnson-woods, contém um capítulo no qual N.C. Christopher Couch argumentou com relação as relações entre os quadrinhos americanos, europeus e japoneses. No capítulo, Couch (2010) indicou as adaptações que o mercado americano realizou com a chegada do mangá, principalmente com os formatos de publicações. Além disso, diversos pesquisadores da área, até mesmo dentro do mesmo livro citado, argumentaram que o Mangá tem muitas referencias mais próximas ao mundo da animação (Disney principalmente) do que dos quadrinhos americanos.

      Como leitor de mangás, eu consigo te indicar algumas questões estéticas, mas que não são tão marcantes. O mangá ''JoJo no Kimyou na Bouken'', de Hirohiko Araki, de 1986, por exemplo, contém uma série de traços e coloração que são de fácil assimilação para com os quadrinhos americanos, assim como o mangá ''Boku no Hero Academia'', de Kouhei Horikoshi, 2014, que possui um universo montado muito similar dos universos de super-heróis dos quadrinhos. Já no lado do ocidente, diversos personagens famosos dos quadrinhos foram adaptados para mangá, te indicarei alguns exemplos, dos quais acredito serem os mais famosos: Batman (Bat-Mangá!), de Jirou Kuwata, 1966; Spider-Man, de Ryoichi Ikegami e Kazumasa Hirai, 1970


      Essa questão das similaridades, particularidades e as influencias dos mangás para com as outras formas de quadrinho é a principal questão que venho estudando no atual momento, espero ter conseguido responder sua questão.
      Gabriel Silvestre Ferraz
      Vanda Fortuna Serafim

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    2. Obrigado pelos comentários.
      Dá pra notar q vc é um leitor de Mangás e consequentemente assiste Animes.
      Interessante fica uma pesquisa ainda melhor e mais interessante ainda a questão essa dos traços e características próprias de cada um.
      Mais uma vez obrigado.
      Valmir da Silva Lima.

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