Janaina Cardoso de Mello

 

EDTECHS E E-LEARNING MADE IN CHINA. UMA HISTÓRIA DO ENSINO ANTES E DURANTE A COVID19

 

As empresas que direcionam suas atividades (ou parte delas) às Tecnologias na Educação são denominadas “EdTech”. Muitos atribuem a nomenclatura às startups, mas não somente o empreendedorismo fez emergir esse nicho de serviços, produtos e empregabilidade atuais, pois grandes empresas como a Google (Google Education) e a Lego (Lego Education) desenvolveram plataformas digitais para oferta de cursos, sequências didáticas e materiais aliando universo digital e virtual ao analógico com aplicação de robótica.

Tais iniciativas cresceram exponencialmente, em vários países no século 21, com a Revolução 4.0 que trouxe as tecnologias disruptivas de aplicativos (App), armazenamento em nuvens (cloud), Inteligência Artificial (IA), Internet das Coisas (IoT), escaneamentos e impressões 3D, georreferenciamento via drones e satélites para digitalização de espaços.

Em 11 de março de 2020, a Organização Mundial da Saúde (OMS) anunciou que o surto de Covid-19, doença causada pelo novo coronavírus (Sars-Cov-2), identificado pela primeira vez em seres humanos em dezembro de 2019, na cidade de Wuhan, província de Hubei, na China, se tornou uma pandemia [Magalhães, 2020]:

“Um relatório do Banco Mundial aponta que cerca de 1.4 bilhão de estudantes estão fora da escola em mais de 156 países. Na América Latina e no Caribe, mais de 154 milhões de crianças e adolescentes se encontram na mesma situação, número que representa cerca de 95% dos alunos matriculados na região, segundo estimativa do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef)” [Magalhães, 2020].

O levantamento da criação e atuação das EdTechs, realizado pelo site The Edvocate, evidencia o papel da Ásia nesse contexto, tendo a China ocupado o mercado de E-learning com velocidade. O Goldman Sachs, em 2016, previu investimento em EdTechs na China na ordem de US$ 1,2 bilhão nos anos seguintes, crescimento anual de 20% das startups educacionais, com US$ 90 bilhões no ensino, cuja população online configura 53% se ampliando [Fonseca, 2019].

 

Imagem 1: Fundação de EdTechs na China (2012-2015)


Fonte: CBInsights, “Mega-Rounds Boost Global Ed-Tech Funding to New Record” in QI, 2020.

 

As imagens 1 e 2 mostram os investimentos ascendentes em EdTechs, seu crescimento em usuários da Educação online e plataformas digitais de formação continuada na China. Diversos sites, bancos de dados e apps educacionais (Yuanfudao [Yuantiku], 17zuoye, VIPKid, DaDaABC, Makeblock, CCtalk, Changing Edu, Huikedu Group, dentre outros) movimentaram vultuosos valores em 2012 e ultrapassando o primeiro bilhão de dólares em 2015. Atualmente, somente o Yuantiku têm seu capital estimado em US$ 7,5 bilhões na bolsa de valores. Mais de 400 milhões de estudantes chineses foram inseridos no processo de digitalização da educação [QI, 2020].

 

Imagem 2: Educação online/Plataformas de treinamento de usuários na China

(2016-2020) – dados em milhões

Fonte: Questmobile, CNNIC in QI, 2020.

 

A transformação digital em diversos campos e geografias já estava em curso e foi acelerada pela pandemia da Covid19, o isolamento social e a necessidade de responder ao segmento educacional, dado o fechamento de escolas e universidades em todo o mundo. A China estava nesse processo desde 2012 e o impulsionou em junho de 2019 alcançando o auge em março de 2020, na quarentena.

Várias bolsas de pesquisas foram disponibilizadas para acompanhar a transformação digital da Educação na China, evidenciando-se aquelas voltadas para a criação de apps e sistemas de e-learning do mandarim, ensino com Storytelling contextualizando história e tradição chinesas,  desenvolvimento de plataformas digitais formais e informais, aulas presenciais expositivas versus aprendizagem online nas universidades e a alternativa digital como solução para a paralisia educacional presencial no mundo da Covid19.

Norizuandi Ibrahim e outros (2017) estudaram as trocas de conhecimento entre professores e alunos através do ensino aliado à tecnologia. Ressaltaram as aplicações móveis educacionais com o sistema operacional Android. Porque, ao contrário do sistema operacional de desktop, o Android oferece mais vantagens como mobilidade, simplicidade, facilidade e flexibilidade na usabilidade. A partir de códigos abertos, gratuitos e a oferta de diversas ferramentas para construção de softwares, oportunizando o desenvolvimento de apps educacionais. Os autores relatam a dificuldade no aprendizado do mandarim por alunos não nativos de chinês. Até mesmo os próprios chineses nativos, especialmente no estágio inicial de aprendizagem, enfrentam dificuldades. Normalmente, o instrutor de línguas demonstra a ordem dos traços dos caracteres chineses no quadro branco ou quadro-negro e os alunos imitam e seguem os traços. A maioria dos instrutores incentiva os alunos a praticar a escrita através da cópia, com planilhas de reconhecimento e memorização dos caracteres chineses. Prática ineficaz, pois os alunos ainda não serão incapazes de reconhecer, ler ou escrever bem devido às complicadas estruturas dos caracteres chineses. Ibrahim e outros propõem o desenvolvimento de um software específico de e-learning para a escrita dos caracteres chineses: o “sistema de Hanzi Swype Learning” (HSL).

Ee Hui Li e Soon Hin Hew (2017) partiram do “Storytelling Digital”, entendendo que a “Contação de histórias” é fundamental na transmissão de tradições, crenças culturais e histórias para as gerações futuras. Sendo um recurso para compartilhar ou trocar informações, permitindo difundir as mensagens facilmente. A narração de histórias atua como uma ferramenta de interação social humana e é geralmente usada na educação para aprender, explicar e divertir. Testando a eficácia da aprendizagem pela narrativa, buscou comparar e diferenciar a viabilidade da narrativa tradicional e da narrativa multimídia para motivar e alavancar a aprendizagem dos não nativos de idiomas chineses. A pesquisa incluiu dois grupos de não nativos do curso de chinês em uma universidade privada da Malásia. Metade foi colocada no grupo experimental e estudaram os idiomas chineses com um protótipo de narrativa multimídia (MSP), enquanto a outra parte integrou o grupo de ensino convencional da narrativa tradicional. Os resultados mostraram que os alunos do grupo experimental pontuaram mais alto e tiveram maior satisfação com a aprendizagem do idioma chinês do que o grupo convencional. A fim de ajudar os não nativos a compreensão mais facilitada, as origens dos idiomas chineses foram projetadas em histórias digitais com cinco elementos essenciais da história: cenário, enredo, personagens, conflito e resolução. Com os elementos da história, os alunos foram capazes de entender a derivação dos idiomas chineses em detalhes. Uma linha do tempo da dinastia chinesa foi criada para fornecer aos não nativos uma melhor apreensão do cenário (tempo e local) do evento histórico. A linha do tempo ajuda os não-nativos sobre “onde” e “quando” ocorreu o incidente histórico do idioma chinês. A história de fundo do idioma chinês foi apresentada como narrativa digital. Na apresentação da história, o enredo, os personagens, o conflito e a resolução da história de fundo foram ilustrados. Os alunos foram capazes de estudar o fundo do idioma chinês ao saber "sobre o que" era o incidente, "quem" eram os personagens do incidente, “por que” o idioma chinês foi denominado dessa maneira e “como” o incidente gerou o idioma chinês. O estudo do incidente histórico facilita aos não nativos compreender a tradução literal e o significado exato do idioma chinês. As teorias cognitivas de aprendizagem multimídia, com os princípios: multimídia, redundância, modalidade, contiguidade temporal, coerência, personalização, sinalização e voz foram aplicadas à composição da história digital para ajudar os alunos na melhor aprendizagem do idioma chinês.

David McConnell (2017) trouxe sete temas emergentes: 'centralidade da aula', 'aprendizagem cooperativa online', 'aprendizagem em rede', 'aprendizagem do aluno', 'aula mais trabalho online', 'infraestrutura e acesso' e 'desenvolvimento profissional'. A discussão destes temas ajuda a compreender o pensamento dos professores sobre e-learning e ensino, suas crenças sobre a sua prática, como implementam o e-learning, os problemas ao incorporar o e-learning em seus cursos e como percebem os e-formandos. Fornece uma visão singular do e-learning no ensino superior chinês. As evidências mostraram uma área complexa com muitas influências, algumas atribuídas a fatores sociais, culturais e de herança confucionista. Apesar do entusiasmo de alguns por inovar o e-learning, o domínio dos métodos tradicionais de ensino na China revelava poucas condições para a integração do e-learning no futuro próximo. Os professores universitários chineses, até 2017, preferiam o método de aulas expositivas, através de palestras informativas dos conteúdos e teorias. Mesmo para alunos com acesso online e domínio tecnológico, a maioria dos professores resistia ao universo virtual de aprendizagem, enfatizando as aulas presenciais. A transmissão do conhecimento formal era central nas abordagens educativas, sendo o e-learning considerado um instrumento auxiliar. A aprendizagem cooperativa online (ACO) surgiu como um tema importante, envolvendo a incorporação de métodos de aprendizagem colaborativa no e-learning. Os professores chineses entrevistados acreditavam que a introdução da ACO em sua prática de ensino ajudava no ensino e aprendizagem de maneiras úteis. Posto que 'excita' e estimula os alunos, exigindo que eles usem novas tecnologias, como plataformas virtuais e grupos de discussão online, despertando interesse e motivação no processo de aprendizagem. Esses métodos poderiam superar parcialmente o aprendizado “doloroso” e “enfadonho” associados às aulas tradicionais. Os entrevistados disseram que a ACO fornece meios para a introdução de métodos de aprendizagem social em que os alunos são capazes de discutir questões teóricas e conceituais e realizar projetos cooperativos de pequena escala. Os entrevistados expressaram a visão de que a tradicional aula presencial não incluía oportunidades mais efetivas e dinâmicas na comunicação professor-aluno ou aluno-aluno. Ao cooperar em sua aprendizagem, os alunos têm a oportunidade de desempenhar ações exploratórias ou obter conhecimento pela discussão com colegas, além do acesso a materiais de aprendizagem mais ricos. Os professores previam que a ACO levaria a melhores resultados de aprendizagem. Os alunos também teriam a oportunidade de aprender “como se comportar” em ambientes sociais e como formar relacionamentos uns com os outros. Nas entrevistas, os professores discutiram o uso de ‘aprendizagem em rede’ no uso de novas tecnologias no ensino e aprendizagem. A aprendizagem em rede foi descrita como baseada em recursos, onde o material (muitas vezes na forma de livros eletrônicos) é colocado online e espera-se que os alunos aprendam por conta própria, com pouca ou nenhuma interação do professor e alunos. Na China esses recursos são projetados para aulas presenciais e são usados na educação a distância, sem questionar aos professores se eles são adequados para esse fim. “Rede” aqui referenciada como “tecnologia de redes”, não à troca de conhecimento em uma rede de pessoas. Aspecto que remonta à necessidade de o estudante chinês participar de formas de e-learning com aprendizagem autorregulada e de “autoestudo”. Os indicadores revelam que, em sua maioria, os alunos chineses não estão preparados para este tipo de aprendizagem e, em muitos casos, ainda esperam que o professor lhes ensine tudo. A implicação está na dificuldade de envolver alunos com origens, expectativas e abordagens de aprendizagem tão diversas nesses métodos de e-learning norteados no autoestudo e na autonomia. A mudança cultural exigida dos alunos para lidar com o autoestudo ou reavaliar seu papel no processo de ensino e aprendizagem seria enorme e, para muitos, além de sua capacidade atual. Para os entrevistados a mudança dos métodos liderados pelo professor e focados no professor para métodos "inovadores" que impelem os alunos a exercer maior agência em sua aprendizagem demoraria a surgir, mesmo em contextos face a face. Os resultados das entrevistas sugerem que aqueles que já estão no e-learning na China compartilham um futuro modelo comum de e-learning, ou seja, o modelo 'Palestra + Online Work'. Este modelo mescla aula presencial do professor sobre questões teóricas ou conceituais, seguida de ‘trabalhos de casa’ realizados pelos alunos em uma plataforma online. O dever de casa online pode envolver os alunos em tarefas e discussões em grupo, com oportunidades para os alunos perguntarem ao professor. Muitos dos entrevistados disseram que este era o caminho mais provável para o e-learning no ensino superior chinês, já que apoia o método de aula tradicional, ao mesmo tempo que oferece aos alunos oportunidades de interagir e se comunicar de modo inovador. Este modelo parece se adequar melhor ao tamanho da turma grande, pois permite aos professores organizarem os alunos em grupos menores, com foco na interação e comunicação online. Uma mudança desse tipo equivaleria a uma mudança radical nos processos de ensino e aprendizagem do ensino superior chinês. Há sinais de que essa mudança está ocorrendo, mas ainda em uma minoria de professores. Relatórios informavam que a situação quase não mudou nos últimos 20 anos. Sobre a infraestrutura e o acesso, o e-learning eficaz depende da existência da base técnica bem equipada com acesso consistente e estável às tecnologias e aos sistemas de suporte e comunicação. De acordo com os entrevistados, a infraestrutura institucional local era muito irregular e dependia dos recursos, do contexto social e político de cada instituição. Deveria melhorar não apenas os hardwares, mas também incluir algumas ideias (como fazer o e-learning funcionar), achados teóricos, construções de softwares e materiais de compartilhamento bons para o aprendizado do curso. O desenvolvimento profissional é outra característica do sistema de ensino superior chinês que pode impactar a incorporação do e-learning na prática regular a partir da forma como o ensino é organizado. Os professores entrevistados organizam e administram cursos por conta própria. Existe pouca compreensão do ensino em equipe ou de como os cursos podem ser produzidos e ministrados via cooperação de equipes de professores e tecnólogos da aprendizagem. As instituições de ensino superior fornecem pouco apoio ao trabalho colaborativo. Há poucas oportunidades para os professores se beneficiarem de iniciativas de desenvolvimento profissional.

Elaine Jing Zhao (2019) evidencia como, ao longo de 2010, as plataformas digitais desempenharam um papel cada vez mais central no desenvolvimento das tecnologias de informação e comunicação (TIC) na República Popular da China. O maior alcance da internet pôs em relevo as plataformas digitais na sociedade chinesa. O livro de Zhao aborda as novas entidades sociotécnicas de um ponto de vista original - o da informalidade. A economia informal tem uma longa história na China, pois “seus circuitos digitais de circulação e troca estão se tornando mais relevantes e visíveis junto com o sucesso do modelo de plataforma: 'comércio paralelo, compartilhamento não autorizado de arquivos, software livre e desenvolvimento de código aberto, produção cultural amadora e trabalho sob demanda são apenas alguns exemplos”. Concentrando-se em tecnologias específicas, práticas de mídia e mercados de trabalho, ao mesmo tempo em que traça os fluxos de pessoas, tecnologias e capital em desenvolvimento em torno deles, procura delinear as implicações dos circuitos informais de troca para a sociedade, economia e governança chinesas. Salienta as mudanças nos arranjos de formalidade e informalidade das plataformas digitais com o design do smartphone e a distribuição do aplicativo, passando por streaming de vídeo e literatura online. A problematização de Zhao quis entender “como vários atores desempenham seus papéis e interagem uns com os outros na formação da coevolução do informal e do formal na economia de plataforma da China”. Confere atenção aos papéis difratores dos usuários (superando obstáculos na disseminação da informação digital), sensibilidade crítica às estratégias narrativas das empresas de plataforma e capacidade de conectar fluxos de dados digitais à vida cotidiana.

John Demuyakor (2020) pesquisa no bojo da pandemia da Covid19, envolvendo as partes interessadas e a gestão das instituições de ensino superior que não tiveram outra opção além da internet, tornando o aprendizado online uma resposta (mesmo parcial) para a continuidade das atividades acadêmicas. Avaliou se os estudantes internacionais de Gana estavam satisfeitos com a alternativa de aprendizagem online em instituições de ensino superior em Pequim, China. Realizou uma pesquisa online para compreender o nível de satisfação do aprendizado online em instituições de ensino superior e como os estudantes internacionais ganenses lidavam com essas ‘‘novas iniciativas’’. A aprendizagem online inclui textos, software, vídeos e outros materiais recomendados pelo professor para ajudar o aluno a atender às expectativas exigidas. Os resultados do estudo sugerem que a implementação de programas de aprendizagem online foi uma ótima ideia, pois a maioria dos alunos da amostra apoiou a iniciativa. O estudo revelou que os alunos obtiveram conhecimento adequado sobre a pandemia COVID-19 através do ensino online. Um grande desafio do aprendizado online foi transmitir um sentimento de união na comunidade via um ambiente online. Outra constatação foi o alto custo do ensino online. Os resultados mostraram que os alunos fora da China, devido ao COVID-19, gastam muito dinheiro com dados da internet para aprendizagem online. Outro problema foi a diferença de fuso horário. Os alunos que ainda estavam na China, hospedados em dormitórios universitários, reclamaram da lentidão da internet. As evidências mostram que tecnologias como a World Wide Web (WWW) e e-mails desempenharam um papel significativo no desenvolvimento rápido do e-learning. Todavia, a padronização e a inflexibilidade dos produtos online podem dificultar a aprendizagem individualizada. O e-learning bem-sucedido e eficaz depende da elaboração dos conteúdos do curso, do plano de curso, da interação entre o aluno e o professor e da disponibilidade de materiais de aprendizagem. A interação com o professor, auxiliando nas dúvidas, orientando no uso das ferramentas e produção do conhecimento demonstra que a tecnologia não substituirá seu trabalho. Porém, a sobrecarga de trabalho na quantidade elevada de alunos, a baixa remuneração e a falta de apoio são complicadores à incorporação tecnológica.

A cronologia das pesquisas mostra que se em 2017 havia um avanço das tecnologias nos métodos de ensino, a resistência era muito grande por parte de alunos e professores. A autonomia nem sempre bem gerida pelos alunos, ausências de qualificação, salário compatível e infraestrutura afetavam professores e só os entusiasmados buscavam os recursos digitais, muitas vezes utilizados como um “ensino híbrido” (aulas presenciais, conteudistas tradicionais, articuladas às tarefas de casa com pesquisa colaborativa entre os alunos na internet). A pandemia da Covid19, em 2020, impôs o desafio de retirar as tecnologias digitais do posto de coadjuvante para um protagonismo urgente. Se sucessos foram identificados na aprendizagem através das tecnologias digitais de informação e comunicação (TDIC), também existem muitos problemas e abismos a serem superados pelos chineses. O acesso aos equipamentos e à internet, a formação de professores, o amadurecimento dos alunos para o ensino digital, a superexploração do trabalho e a desigualdade socioeconômica atingem tanto a China como os demais países do mundo, incluindo o Brasil. Olhar para a China na contemporaneidade significa “aprender a aprender” com uma civilização milenar, cujas tradições permitem que as tecnologias derivem em pontes e não em abismos.

  

Referências

Dra. Janaina Cardoso de Mello é professora de Ensino de História e Patrimônio Cultural na UFS, do Mestrado em Ensino de História – ProfHistória/UFS e Coordenadora do Laboratório Virtual de Tecnologias Exponenciais no Ensino de História e Patrimônio Cultural [http://tecnohistory.com] e vice-líder do GET/UFS.

 

FONSECA, A. Edtechs: qual país está liderando esse movimento?, 2019 Disponível em: https://www.whow.com.br/startups/pais-liderando-edtechs/

IBRAHIM, N., KAMARUDDIN, S. F., & LING, T. H. Interactive educational Android mobile app for students learning Chinese characters writing. International Conference on Computer and Drone Applications (IConDA), 2017.

LI, E. H; HEW, S. H. Better Learning of Chinese Idioms through Storytelling: Current Trend of Multimedia Storytelling. Electronic Journal of e-Learning, v15 n5 p455-466, 2017.

MAGALHÃES, R.C.S. Pandemia de Covid-19, ensino remoto e a potencialização das desigualdades educacionais. Blog de História, Ciências, Saúde – Manguinhos. Publicado em 26 de maio de 2020. Acesso em 27 de maio de 2020. Disponível em: http://www.revistahcsm.coc.fiocruz.br/pandemia-ciencia-e-sociedade-a-covid-19-no-parana/

MCCONNELL, D. E-learning in Chinese higher education: the view from inside. Higher Education, 75(6), 1031–1045, 2017.

DEMUYAKOR, J. Coronavirus (COVID-19) and Online Learning in Higher Institutions of Education: A Survey of the Perceptions of Ghanaian International Students in China. Online Journal of Communication and Media Technologies, 10(3), e202018, 2020.

QI, J. 8 Chinese EdTech start-ups leading the global educational technology industry. 23 jun. 2020. Disponível em: https://daxueconsulting.com/china-edtech-educational-technology-market/

ZHAO, E. J. Digital China’s Informal Circuits: Platforms, Labour and Governance. Abingdon, UK/ New York: Routledge, 2019.

19 comentários:

  1. Oi professora, gostei muito das informações no seu texto. Gostaria de fazer três perguntas: 1) Vc acha que com a redução de concursos públicos, falência e demissões em massa nas escolas privadas por causa da pandemia da covid19, as Edtechs são um bom caminho para os alunos que se formarem em professores não acabem no call center ou no comércio? 2) No seu texto diz que mesmo na China, antes da pandemia, havia resistência ao modelo de ensino online e as aulas tradicionais ainda eram as preferidas pelos professores e alunos. Agora com a pandemia e no pós-pandemia, como vc vê esse quadro? 3) A China é a nova Finlândia na área de ensino, no que diz respeito às Edtechs? Parabéns por sua pesquisa. Precisamos ver a quantas andam essas Edtechs aqui no Brasil!

    *Juliano Alves Martins. Graduando em História (UNICAMP).

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    1. Oi Juliano, que bom que você gostou. Vamos às suas perguntas, espero que eu consiga responder à contento! 1) Eu acredito que as Edtechs são um novo nicho de mercado para os professores sim. Tenho visto muita gente sem formação em Licenciatura atuando nessas Edtechs na qualificação de professores, vendendo material didático virtual e penso que quem melhor pode fazer isso são os professores que possuem formação para isso e muitas vezes pela falta de concursos ou a peneira das escolas particulares termina não exercendo a docência. Há várias formas de ensinar e as Edtechs são sim uma modalidade que deveria ser apropriada pelos professores. 2) Sim, mudam-se os endereços mas as resistências continuam as mesmas. Aulas que fujam ao modelo tradicional expositivo onde o professor transmite o saber e os alunos assimilam (ou fingem assimilar!) são mais familiares, mantêm uma tradição de divisão de poderes bem estabelecida e dão menos trabalho na preparação. O uso de e-lerning requer que professores e alunos se apropriem da tecnologia e da prática do mundo virtual voltada para a Educação. São novos comportamentos sociais que devem ser desenvolvidos por ambos. O professor não pode simplesmente só transportar sua aula tradicional para o meio online, por exemplo, se filmar ministrando aula numa lousa. É necessário exercer interatividade, integrar os alunos ao mundo virtual, buscar aplicativos e extensões digitais que fomentem a participação e isso ocupa tempo, estudo e preparação. E o aluno precisa se comprometer em ser um elemento ativo nesse processo, e gerenciar sua autonomia. Penso que são desafios para ambos os lados, mas que podem dar excelentes frutos se houver interesse as partes. A pandemia só acelerou a transformação digital em curso, agora, imagino que até as contratações nas escolas particulares irão dar maior peso ao domínio da tecnologia por parte dos candidatos à professor daquelas instituições. 3) Possivelmente! A Finlândia cresceu muito economicamente quando começou a "exportar o negócio da Educação" para Dubai e até para o Brasil (grandes escolas particulares de SP, BH, RJ são um exemplo disso). Deixaram para trás a indústria predatória da celulose e do celular (Nokia) para investir em novos métodos, qualificações, aplicativos e demais recursos digitais educacionais e têm ganho muito dinheiro com isso. A China segue esse mesmo caminho porque entendeu que há aí uma mina de ouro. Há ainda muito o que ser feito internamente, mas essa pandemia acelerou os processos de integração das escolas ao mundo digital na China. Não penso que haverá um recuo e nem que nos tornaremos totalmente digitais, mas acredito que o ensino híbrido veio para ficar, gostemos ou não.

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  2. Nossa! Eu nunca tinha parado para pensar que grandes empresas como Google e Lego também tinham Edtechs, para mim eram só as startups. Professora, a senhora acha que depois dessa pandemia, com o avanço do ensino online no mundo, a médio e longo prazo, as Edtechs podem substituir os professores nas escolas, por oferecerem serviços educacionais sem gastos com concurso, aposentadoria, direitos trabalhistas e tal? Qual seria o caminho das pedras pra abrir uma Edtech? Precisaria tirar o MEI, CNPJ, seguir os passos das empresas de Consultoria? Mariana Farias - aluna da Licenciatura da UERJ São Gonçalo.

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    1. Boa tarde, Mariana! Pois é, e agora com a pandemia a Google se agigantou ainda mais nesse segmento com as modalidades do Google Classroom, Google Enterprise Education e por aí vai. Várias escolas particulares já trabalhavam com as salas Google e seus professores precisavam apresentar o certificado de aprovação no curso dado por eles. Agora surgiram várias startups oferecendo cursos pagos de Google for Education para professores, não é uma surpresa não é mesmo? A Lego possui mais de 400 sequências didáticas, aliando a metodologia STEAM e a robótica ao ensino e esse segmento tende a dar mais valor à empresa do que se a mesma tivesse se limitado somente à produção dos blocos de encaixe. Vários colégios particulares têm contrato com a empresa e usam os blocos e a metodologia junto aos seus alunos. Um professor que não souber dar aulas de História usando STEAM, blocos de Lego e robótica conseguirá se inserir nesse mercado? As coisas começaram a mudar muito rápido na nossa área a partir do início dos anos 2000 e agora houve uma aceleração exponencial com a pandemia. Precisamos estar preparados para isso ao invés de bradar contra ou simplesmente ignorar.

      Não acredito que as Edtechs "substituam" os professores, mas sim que tornem as seleções nas escolas mais aprimoradas com exigências de domínio dessas metodologias de ensino do século 21. Penso que no entanto, haverá uma redução da quantidade dos professores, pois se as tecnologias digitais trazem uma otimização do ensino e maior autonomia ao aluno, o papel do professor passa por uma transformação. Sua demanda tende a ser cada vez mais por profissionais especializados em metodologias ativas de ensino. Espero que os cursos de Licenciatura acordem para isso, pois precisamos com urgência repensar a formação dos professores que saem das instituições todos os semestres. E ainda temos a automação, a Inteligência Artificial que tende a sim o trabalho repetitivo, seja do advogado ao professor que só dá aula teórica e aquela mesma de 20 anos atrás.

      Bom, acredito que o passo para abrir uma Edtech seja seguir o caminho das Startups, tirar sim os registros de MEI, CNPJ, buscar editais como os da FINEP, do MCTI, que têm se voltado para essa linha de Tecnologias Educacionais para ter um capital inicial que leve os planos para a realidade. É bom pesquisar antes os nichos de mercado à serem atendidos (escolas públicas, particulares, professores, formandos em Licenciatura) e ver qual a demanda de produtos e metodologia destes. Para os formandos das Licenciaturas eu aconselho: criem uma Empresa Júnior Educacional, assim têm o apoio e a orientação da universidade e vão aprendendo, vivenciando, enfrentando os dilemas, fazendo o nome no mercado.

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  3. Como a gente recebe pouca informação dessas novas tendências na Educação. Eu gostei muito dos textos que a senhora usa, muitos internacionais que já mostram como está antenada com o que andam discutindo lá fora. Nós das Licenciaturas fazemos pouco isso, ir para textos internacionais sobre ensino, metodologias de ensino e ficamos com uma formação muito pobre, só repetindo Gadotti, Circe Bittencourt como se só existissem esses estudiosos que se repetem sempre e não trazem essa ampliação do olhar sobre o Ensino. Adorei a parte que a senhora fala do Storytelling Digital.

    Meu TCC é sobre HQs e eu estou trazendo pra esse formato a História da Revolução Russa. Antes da pandemia, lei para a sala de aula no estágio e os alunos gostaram demais, a aprendizagem é outra coisa, muito melhor do que só ficar usando textos ou livros didáticos.

    Mas então, como a senhora tem visto essas metodologias mais dinâmicas na China e no Brasil, antes, durante e depois que a pandemia acabar? Acha que os cursos de graduação vão estar mais abertos para ter mais prática e menos teoria? Acha que vão dar um tempo no modelo Licenciatura que é Bacharelado disfarçado para realmente ensinar os futuros professores a trabalhar com Storytelling Digital, Apps no ensino (como aquele que a senhora falou no texto para o ensino de Mandarim), ensino híbrido, e-learning e essas coisas? Eu, pelo menos fico cansado de chegar nas aulas e só ter conteúdo ou discussão conceitual, análise crítica de texto e nada de prática docente nas disciplinas da minha Licenciatura! Aí a gente sai mal formado, sem preparo pra sala de aula do ensino fundamental e médio e sem formação específica pra ser pesquisador, área que nem emprego tem! É um contrassenso! Um abraço!

    >>> Caíque Reis Antunes - Licenciatura em História/UFPE


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    1. Olá Caíque, que boa a sua interação aqui! Hoje, com a internet e os acessos que temos aos bancos de periódicos da Capes, ao Google Schoolar, não dá para ignorar o que têm sido produzido lá fora sobre o ensino, principalmente envolvendo as tecnologias digitais, pois há um avanço e um investimento muito maior na Ásia, na Europa, na América do Norte e por aí vai. Quem não dialoga com o novo, fica só repetindo "um museu de velhas novidades". Somos historiadores, trabalhamos com o passado, mas não vivemos nele, não é mesmo?!

      Que bacana o seu trabalho de TCC. Meu primeiro orientando no ProfHistória da UFS (Luciano Ferreira) criou uma HQ digital sobre a História da África. O Instituto Federal de Educação de Sergipe (IFS), gostou tanto que publicou no formato digital e impresso. Acredito que você fará um trabalho maravilhoso e com muito potencial de aplicação pedagógica.

      Sobre suas perguntas: penso que as metodologias ativas já são uma realidade antes e durante a pandemia e não vão recuar. Os professores vão ter que aprender com elas e aplicá-las para garantir sua continuidade como professores porque até mesmo os alunos das universidades já ficam entediados com aulas puramente teóricas. Tanto na China, como no Brasil, a adaptação vai ser a regra. As graduações ainda têm professores muito tradicionais que pensam que uso de texto e reflexão sobre estes é o suficiente, se pensarmos na quantidade de alunos semi-alfabetizados vemos porque essa metodologia falha miseravelmente, ainda mais quando não temos grandes incentivos à leitura. Uma metodologia que articule teoria e prática é essencial nas graduações. As universidades européias já fazem isso até em cursos de Mestrado e Doutorado. Aqui no Brasil são os alunos que vão ter que começar a exigir nos Departamentos uma mudança de metodologia de ensino, ainda mais agora no pós-pandemia, vão ter todas as justificativas possíveis. Se não fizerem isso, continuarão sendo formados para a década de 1990 e aí as chances de empregabilidade na Educação serão bem mais reduzidas. Cobrem isso! Nesse período de pandemia, muitos professores universitários receberam cursos online de como criar podcasts, fazer edição de vídeos, usar ferramentas como storytelling, mentimeeter e tantas outras coisas, ou seja, já sabem que as ferramentas existem e como usá-las, agora é só repassar aos seus alunos! Boa sorte na sua conclusão de curso e um abraço!

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  4. Professora, obrigada por trazer esse assunto que a gente não vê na nossa formação em Licenciatura em História. A senhora poderia falar mais sobre a "Aprendizagem Cooperativa Online (ACO)" a qual a senhora traz através do texto do David McConnell de 2017? Fiquei muito interessada. Para esses tempos que vivemos, estou querendo escrever minha monografia de final de curso sobre o ensino de História online. A senhora pode disponibilizar seu e-mail? Gostaria de convida-la para minha banca!

    Bianca Santos Oliveira Neto. Universidade Estadual da Bahia (UNEB)

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    1. Bianca, eu que agradeço essa oportunidade de ser lida e de debatermos essas ideias! O que McConnell traz no seu texto, com pesquisas por amostragem de professores entrevistados na China, demonstra que a ACO possui pontos positivos e negativos, precisando de um melhor entendimento, aceitação e compromisso tanto por professores quanto por alunos. Uma coisa importante é a preocupação em sair do modelo "palestra online" (que vimos muito nesses tempos com as Lives ou em aulas que usam o Google Meet ou o Teams) e fomentar a participação dos alunos entre eles próprios, orientando sua integração. Esse é um dos maiores desafios do ensino online, que não seja algo totalmente individualizado porque perde-se a sociabilidade necessária aos processos de ensino-aprendizagem e também não vire o "trabalho de grupo" onde só um faz e carrega todos os demais nas costas. Penso que o texto do autor nos faz refletir sobre o problema e tentar criar soluções para essa dinâmica mais integradora entre os alunos através dos recursos virtuais.

      Parabéns pela iniciativa da escolha do assunto da sua monografia, pois penso que agora é extremamente necessário termos trabalhos de vocês, a geração que está se formando agora, tratando desse tema que é o mundo que irão encontrar no mercado do trabalho atual. Se me convidar para a banca, ficarei muito feliz. Meu e-mail é janainamello.ufs@gmail.com. Pode entrar em contato e te passo algumas outras leituras que podem te ajudar na escrita.

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  5. Professora, boa tarde. Belo estudo sobre algo tão importante. A gente devia estar debatendo mais sobre isso em todas as universidades. Minhas perguntas são: No seu texto, dá pra ver que até na China tem problema com conexão à internet, e eles estão muito à frente da gente no campo das tecnologias de ensino. Aqui no Brasil estamos vendo a complicação que é o ensino remoto para jovens e adultos das periferias, sem conexão ou com conexão ruim, sem equipamentos, sem apoio do governo. Como é que com essa realidade vamos ter e-learning sem excluir a maioria dos alunos? A senhora é favorável ao ensino remoto emergencial? Como é que vamos falar de tecnologia para os meninos das áreas rurais que nem tem torre de celular? Ou para os meninos das favelas que muitas vezes não têm o que comer, que dirá um computador em casa? Como esse crescimento das Edtechs ocorre com tanta exclusão socioeconômica na China e aqui no Brasil? Não há uma incoerência aí? Pra quem é essa educação online?

    Obrigado pela atenção.

    Sérgio da Silva Souza/Universidade Federal do Ceará - UFC/ Curso de História.

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    1. Sérgio, seja bem vindo! Os problemas com a conexão da internet e acesso não são novidades de agora, existem desde que começamos à usar esses recursos. O problema maior é que nos furtamos de encampar uma luta forte, corajosa e propositiva por uma internet universal e gratuita, por acesso facilitado aos equipamentos tecnológicos para toda a população. Há mais de 20 anos encontramos artigos, monografias, TCCs, dissertações, teses, livros, tratando de TICs, NTICs, TDICs na Educação. Agora a evidência da exclusão se tornou mais gritante porque as tecnologias digitais, em tempos de pandemia e isolamento social com fechamento de escolas e universidades, saíram do papel de coadjuvante para ser protagonista. Mas mesmo antes, quantos alunos entregavam seus trabalhos em folhas de caderno, manuscritos porque não tinham um computador ou impressora em casa? Quantos alunos faziam apresentações de seminários sem power point por não ter acesso ao Office? Muitas vezes os laboratórios das universidades estão lotados, nem todos os alunos conseguem um horário para utilizá-los ou têm dinheiro para pagar pelo uso em uma papelaria, não é? Onde estavam os gritos sonoros da exclusão por parte dos professores desses alunos? Porque havia exclusão, sempre houve, não começou agora! A única saída ao meu ver é o que falei antes: internet universal gratuita e acesso aos equipamentos facilitado. Isso não virá sem luta, mas também não virá com negativas em usá-los ou ignorando tal situação achando que a aula presencial não exclui. E te digo, há muitos trabalhos sobre formas de implementar as NTIcs nos meios rurais, nas periferias, em sociedades altamente desiguais como as da África do Sul e da Índia, existe gente pensando sobre isso e sendo propositiva! Não adianta apontar o problema e não propor caminhos de resolvê-los! O ensino híbrido é uma realidade que veio para ficar e vamos ter que lidar com ele da melhor forma possível. Outra coisa, o mercado de trabalho está cada vez mais cobrando conhecimentos tecnológicos que não sejam só manuseio de whatsapp e facebook, então, se não usarmos os recursos digitais no ensino para formar habilidades computacionais em nossos alunos, quais chances eles terão de empregabilidade? Não os estaremos excluindo do mesmo modo? Eu sou favorável ao ERE que não é EaD, pois não tem a infraestrutura, a escolha ou a formação da última, mas diante de um quadro de "urgência" não podemos esperar até 2026 talvez para ofertar qualquer modelo de aula para os alunos. Penso que o ERE não deve ser todo focado na internet, mas sim precisa fazer uso das rádios, das TVs, tudo que possa alcançar o maior número de alunos possíveis e devemos pressionar os governos para assumirem sua responsabilidade ofertando condições para o acesso dos alunos. Problemas socioeconômicos de desigualdade sempre tivemos no país, o foco deles não deve ser a negação do ERE, mas uma conscientização e pressão política. Ás escolas e universidades cabe oportunizar o acesso ao ensino da melhor forma possível. Aos governos cabe cumprir com o papel para o qual foram eleitos, resolvendo as desigualdades socioeconômicas. Se como instituições de ensino crítico nos mantivermos afastados dos alunos por muito tempo, tiramos deles até a oportunidade de desenvolver seu pensamento cidadão e ativo na sociedade através de informação qualificada. Existe um mercado para os produtos e serviços educacionais digitais das Edtechs, tanto na Ásia quanto aqui no Brasil e ele abrange escolas particulares, pelas faculdades particulares e pelas escolas públicas federais com maiores recursos. E as outras? Se não lutarmos pela universalização da internet e do acesso tecnológico teremos a exclusão das demais. Deixo como indicação de leitura para você o livro do historiador israelense Yuval Noah Harari, 21 Lições para o século 21. Vale a pena prestar atenção quando ele fala dos inimpregáveis, ou seja, aqueles que por causa da marginalização das tecnologias digitais não serão nem desempregados, porque sequer conseguirão se inserir no mercado de trabalho.

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  6. Não sei se estou mais assustado ou mais encantado com seu texto! A impressão que dá é que os anos que já fiz da Licenciatura não estão servindo de nada para o mundo aí, para esse nosso tempo presente. Os professores da minha graduação pararam no tempo, ainda com aquela história de texto e seminário, texto e resenha, texto e artigo, texto e prova. Vamos repetir isso com a garotada do ensino fundamental? Não dá! Fiz PIBID, e agora Residência Pedagógica e a molecada não presta atenção no professor se ele não interagir com o smartphone! Eu dei uma prova usando QR Codes para eles acessarem um google forms e eles adoraram! A senhora podia vir dar aulas aqui na UFRJ, que tal? Estamos precisando de professores assim!!!

    Das minhas questões sobre o seu texto: Como eu acesso esse material das suas referências? Os textos em inglês. Com essa briga dos EUA com a China, a senhora acha que eles continuarão crescendo nessa onda das Edtechs? Quais os mercados que eles visam?

    A senhora tem outros textos seus sobre esse forma inovadora de Ensino? Pode compartilhar? Como faço para ser seu orientando no Mestrado????

    Renato Alarcón (História/UFRJ)

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  7. Oi Renato,

    calma, assusta e passa, rs. O importante é se informar e formar para enfrentar os desafios da atualidade. Sou carioca, há 16 anos no Nordeste, fui aluna da UFRJ no doutorado e sei que há professores excelentes para todos os gostos. É só você buscar aquele que melhor se adeque ao que deseja como formação. Lembre que o Mestrado Profissional em Ensino de História em rede nacional ProfHistória surgiu na UFRJ, sob a batuta da professora Marieta de Moraes!

    Muitos boa a sua ideia do uso dos QR Codes para acessar a avaliação. É isso! Ao invés de proibir o aluno de usar o celular em aula, fazê-lo usar para os formatos educacionais! Parabéns!

    Você encontra esses textos na busca junto ao Google Acadêmico e nos periódicos Capes. Se quiser eu os encaminho para você por e-mail é só me contatar via janainamemello.ufs@gmail.com. Quanto à briga dos EUA com a China, vejo como uma nação em decadência temerosa do crescimento e avanços da outra sobre seus domínios. Isso não vai impedir o crescimento das Edtechs chinesas. Elas têm como mercado a Ásia, o Oriente Médio (Dubai compra muita coisas nesse formato), o próprio Brasil e Europa.

    Tenho alguns capítulos de livros, e artigos sim. Sou professora de Didática e Metodologia do Ensino de História no DHI da UFS. Me mande um e-mail que os forneço à você. E para ser meu orientando no Mestrado é só vir para o ProfHistória da UFS!

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  8. Boa noite, ao ler seu texto e suas respostas aos colegas fiquei pensando: não seria necessário e até urgente que os futuros professores aprendessem linguagem de programação nas licenciaturas? Sabe, para dominar mais os recursos computacionais e trazê-los para a História ensinada nas escolas. Mas como isso poderia ser feito?

    Luana Rios Pereira - UnB/Hist.

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    1. Boa noite, Luana.

      Eu, como multiespecialista e interdisciplinar que sou, sempre acreditei que o aprendizado de novos conhecimentos podem agregar muito valor à formação de qualquer profissional, principalmente o professor que deve estar sempre aberto à aprender e não somente ensinar. Penso que a Linguagem de Programação é algo que logo vai estar nas próprias escolas. Para você ter uma ideia, em Paraisópolis, já há escolas públicas cuja a parceria com empresas de tecnologia ensinam os alunos a LP. Então imagina esses alunos chegando à universidade e se deparando com o professor universitário das Licenciaturas só trabalhando com textos e aula expositiva. Esse aluno não vai manter o interesse e vai perceber que sabe mais do que seu professor no que diz respeito à aplicação dos conteúdos de forma digital. Por isso, acredito mesmo que em breve os cursos de graduação vão sim precisar reformular seus PPCs e inserir disciplinas obrigatórias de LP. Para isso podem e devem exercer a função de "universidade" realizando parcerias com os departamentos de computação e oferecendo essa formação aos próprios professores dos departamentos. Para que as graduações continuem tendo sentido na vida dos jovens enquanto vetor de oportunidade no mercado de trabalho, elas vão ter que se adaptar a essa realidade. Não vai ser fácil, mas será isso ou a obsolência e extinção.

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  9. Bom dia professora, seu texto me deixou revoltada com a minha formação na UFAL. A maioria dos professores age como se tivessem formando professores universitários e não professores para os níveis fundamental e médio. Os professores se colocam em caixinhas, "sou professor de História Contemporânea", "sou professor de História do Brasil", "sou professor de História Antiga", como se não tivessem nenhuma responsabilidade com nossa formação didática, só com a transmissão de conteúdo e como o colega acima disse "texto-seminário-texto-resenha-texto-artigo". As discussões que a senhora traz no texto nem chega perto, muito raramente uma referência para críticas! Aff! Se estivessem ministrando parte dos conteúdos usando as ferramentas tecnológicas antes da pandemia, ao menos agora no ensino remoto no PIBID e na RP seria menos traumático. Desculpe o desabafo!

    Mas sobre o texto, a senhora acha que se as Edtechs chinesas mantiverem o crescimento e se expandirem, os EUA não vão tentar barra-las ou cooptá-las como estão fazendo com a empresa do App Tik Tok?

    Joyce Pereira Aguiar [UFAL, História/Licenciatura]

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  10. Bom dia, Joyce. Não precisa sentir raiva de sua formação, apenas busque aqueles professores que possuem o perfil mais voltado para o ensino, para as metodologias e converse com eles, peça orientações, com certeza tudo há de se resolver. A crise de identidade nos cursos de Licenciatura não é de hoje. De fato, a maioria de nós, que hoje ocupa a função de professor na graduação foi formado desse modo, onde o estilo de dar aulas era mais intelectualizado. Nos separamos das práticas didáticas por pensá-las como um recurso dos cursos de Pedagogia e isso nos empobreceu. Agora com o PIBID e a RP, e mesmo os Mestrados da rede ProfHistória, estamos nos reencontrando com a metodologia de ensino. É um processo e como tal, leva tempo.

    Sobre a pergunta, no caso da Tik Tok houve uma valorização muito grande das ações e uma disputa de mercado na venda da empresa, claro que permeada pelas bravatas do Trump, mais relacionadas ao próprio período eleitoral nos EUA. Mas as Edtechs tem um mercado externo mais amplo, como falei antes numa das resposta, atendem a Ásia, o Oriente Médio, o Brasil, a Europa, então os EUA não têm como controlar ou impedir esse fluxo.

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  11. Que texto! Você citou pesquisas, trouxe dados, citou quem está estudando o assunto. Esta é uma dificuldade, estamos no embalo aplicando as tecnologias, utilizando, e testando ao mesmo tempo. Estou assistindo minhas aulas pelo Teams, e percebo a dificuldade que todos têm. As formas de avaliação, o controle da presença, as discussões de textos, e as questões quanto ás gravações das aulas ou não, tudo isso de forma remota é um pouco diferente. Além das questões de conexão, acesso á internet, enfim, são muitos pontos que aparecem nesse ensino de forma remota.
    Pergunto sobre a possibilidade das Universidades, nos cursos de Licenciatura, trazer no currículo de cada curso uma disciplina que pense especificamente sobre as tecnologias e o ensino? Conteúdo específico na grade curricular voltado para essa questão.

    Atenciosamente;

    FRANCISCO LUCAS GONÇALVES DOS REIS

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    1. Oi Francisco, muito obrigada pelo seu interesse. Pois, é uma dificuldade imensa termos os acessos à essas pesquisas e estudiosos, embora há 20 anos existam trabalhos sobre o uso das TICs, NTICs e TDICs na Educação e muita coisa internacional sendo produzida e trazendo dados a partir de aplicações práticas que é o mais importante. Esses textos que eu trouxe não são somente teóricos, mas partem da observação das técnicas, metodologias, sucessos e dificuldades nas salas de aulas chinesas. Isso nos dá um outro enfoque, uma outra perspectiva para olhar, pensar, testar nossa realidade de ensino remoto e depois escrever sobre isso. Porque penso que temos que escrever sobre como tem sido a nossa prática, o nosso dia a dia, como estão fazendo na China.

      O Ensino Remoto, distintamente da EaD, é o que é possível fazer no momento com uma qualificação insuficiente dos professores para esse estado de urgência, em razão de não terem escolhido a modalidade EaD (diferentemente daqueles que se prepararam e têm todo o domínio da técnica) e tendo que aprender agora com rapidez e para testar (e nos testes há sempre acertos e erros), estando em casa, em ambientes não preparados (com filhos, maridos, vizinhos em obras, etc.). As questões de conexão e acesso à internet são outro dilema. Eu sinto falta de um grande movimento nacional de alunos e professores pressionando o governo por uma internet universal, gratuita e de qualidade e por acesso facilitado aos equipamentos. Esse é o momento de se fazer isso. Já devíamos tê-lo feito quando começaram as privatizações das empresas de telefonia, perdemos a deixa. Agora, se perdemos de novo, não adianta daqui há mais 20 anos as reclamações serem as mesmas. Sem luta, não teremos essa conquista necessária. E o Ensino Híbrido não será descartado após a pandemia. Ou lidamos com ele ou teremos ainda mais exclusões.

      Todas as Licenciaturas, na minha opinião, já tinham que ter incluído em seus PPCs disciplinas obrigatórias de Tecnologias aplicadas ao ensino. Estamos no século 21, não dá para ignorar ou quebrar as máquinas. E não podem ser disciplinas optativas, pois todos precisam ter esse conhecimento. Também não podem ser disciplinas teóricas, pois a aprendizagem das tecnologias se faz na prática, no uso constante, por isso a necessidade do uso de laboratórios de informática das instituições. Eu acredito que agora até a Linguagem de Programação será essencial para os professores do tempo presente e do futuro. Não imagino mais escolas particulares contratando professores sem conhecimentos digitais, para darem somente aulas tradicionais, presenciais.

      Os departamentos precisam acordar para essa realidade do século 21 e parar de formar os professores para uma temporalidade da década de 1990. Mas para isso, os alunos vão ter que cobrar isso, reivindicar a partir de todas essas dificuldades de agora para vencer as resistências. No meu próprio departamento, quando tratamos de mudanças no PPC eu defendi arduamente a inclusão de uma disciplina de Tecnologias digitais aplicadas ao ensino de História (já que não existe nada similar), mas fui voto vencido, pois acharam que uma quarta disciplina de História Antiga era mais útil. Agora, no pós-pandemia, quando voltarmos, vou retomar a questão e perguntar se eles ainda acham sem valor a disciplina de tecnologias! As vezes é preciso aprender e decidir pela experiência do sofrimento que é o que está acontecendo com todos nós, alunos e professores, por não termos lutado firmemente para o acesso de todos às tecnologias e seu uso na formação dos professores pelas universidades. Lute para mudar isso, a hora é agora!

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