Leonardo Henrique Luiz

 

TÔ BEM, TO ZEN: REFLEXÕES SOBRE AS VISÕES ORIENTALISTAS APLICADAS AO ZEN BUDISMO


 

Introdução

Esse texto objetiva estabelecer reflexões acerca da construção das representações que relacionam o zen budismo às ideias de tranquilidade, paz e calma. Buscamos sugerir que tais ideias estão associadas ao fenômeno que Edward Said (1990) chamou de “visões orientalistas” nas quais, do ponto de vista ocidental, aspectos seletivos das culturas orientais foram generalizados e transformados em verdades totais sobre o Oriente. No caso em questão, defendemos que o zen budismo japonês foi alvo de visões orientalistas por parte de intelectuais europeus e estadunidenses durante os séculos XIX e XX que se relacionaram com a religião como algo exótico, isto é, como algo estranho e ao mesmo tempo atraente aos olhos ocidentais. Tais visões se relacionaram a um processo de busca das origens do pensamento budista e a deslegitimação de uma série de práticas religiosas como o culto aos antepassados que eram qualificados como um acréscimo cultural do budismo no Japão. Nossa argumentação busca demonstrar que essa representação foi taticamente apropriada por intelectuais japoneses, principalmente os integrantes da Escola de Quioto, que sugeriram novas formas de zen budismo que atendesse essa demanda Ocidental.

O título do presente trabalho faz referência a uma música que esboça a popularidade do termo zen no século XXII, a canção foi reproduzida em diversos meios de comunicação no ano de 2013, se tratava de uma propaganda realizada pelo Ministério da Educação para a divulgação das inscrições no Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM) daquele ano. A letra, composta e gravada pela cantora Manu Gavassi era a seguinte:

Tô bem, tô zen, entrei pra faculdade com ENEM

Aluno dedicado, tá despreocupado

Tem vaga no SISU Sistema Unificado

A faculdade é bacana, mas você tá sem grana?

Com as bolsas do PROUNI cê garante o diploma

Aluno nota dez conta com FIES

Financiamento Estudantil sem se enrolar com os papéis

Tô bem, tô zen, entre pra faculdade com ENEM

Uma porta que abre, outra porta que abre

Outra porta que abre, outras portas assim

Esse futuro já é meu também

Tô bem, no ENEM esse futuro já é meu também

Cartão de confirmação, caneta na mão

Esferográfica pra não perder a questão

Alarme ligado, horário ajustado

É bom tomar cuidado e não chegar atrasado!

Uma questão por vez, nada de MP3

E não se confunda em espanhol ou inglês!

Tô bem, no ENEM, esse futuro já é meu também [GAVASSI, 2013]


O tema central gira em torno das questões do exame e o processo transitório de ingressar no ensino superior. Embora tais momentos sejam marcados pela ansiedade e estresse dos candidatos, a música visa ressaltar a mensagem de que os “alunos preparados” conseguem passar por tal processo de maneira tranquila ou “zen”. Tal termo, usado como um adjetivo, também é encontrado em outras produções da cultura brasileira, apenas mais um exemplo: em 2018 outra música, dessa vez composta por Igor Moraes e lançada pela funkeira MC Melody com participação de sua irmã e também cantora Bella Angel, o refrão é o seguinte:

[...]

Tô bem, tô zen

Vivendo e aprendendo

Não devo nada pra ninguém

Tô bem, tô zen

Tu só me esnobava

Agora te esnobo também

[…] [MC MELODY; ANGEL, 2018]

 

Essa canção foi gravado por KondZilla, dono de um dos maiores canais de músicas do mundo no YouTube, no qual a música de Melody e Bella Angel passou das 161 milhões de visualizações até o momento da escrita do presente texto. Ambas as músicas utilizam um termo de uma religião budista, o zen budismo, como um adjetivo e sinônimo de tranquilidade seja em relação à prova do ENEM ou a um relacionamento amoroso. Segundo Frank Usarski [2008] e Cristina Rocha [2016] essas construções não são recentes, no caso do Brasil, Rocha aponta que houve uma visibilidade crescente do budismo (em especial do zen budismo) nas mídias brasileiras durante a década de 1990, no qual: “Ideias comumente associadas ao Zen pela mídia são: felicidade, paz, tranquilidade, bem-estar, simplicidade, harmonia e meditação por um lado, e modernidade, elegância e moda por outro” [ROCHA, 2016, p. 176]. Usarski também apontou para reportagens em revistas brasileiras que falavam de uma “Onda zen” na década de 1990.

No presente texto sugerimos que tais tendências têm relação mais antigas e estão associadas ao processo orientalista analisado por Edward Said [1990] e Stuart Hall [2016]. Embora Said dê maior ênfase ao Oriente Médio, parte do processo de invenção do Oriente pelo Ocidente sugerida pelo autor, também pode se aplicar ao budismo, principalmente no que se refere ao interesse ao passado clássico indiano. De acordo com Said [1990, p. 62], os orientalistas acadêmicos do século XIX: “[…] em sua maioria, estavam interessados pelo período clássico de qualquer que fosse a língua ou sociedade que estivessem estudando.”. Nesse sentido, os textos tradicionais do budismo, como o Cânone Pali foram importantes fontes de estudo, sendo que as práticas budistas contemporâneas a esses estudiosos eram ignoradas. Essa atitude orientalista era acompanhada pelo dever de guardar o passado, nas palavras do autor:

“O conhecimento apropriado do Oriente começava por um completo estudo dos textos clássicos e só depois passava à aplicação desses textos ao Oriente moderno. Em face da óbvia decrepitude e impotência política do oriental moderno, o orientalista europeu considerava como dever dele resgatar uma parte de uma perdida grandeza clássica do passado oriental, de maneira a ‘facilitar os melhoramentos’ no Oriente do presente. O que o europeu tomava do passado clássico oriental era uma visão (e milhares de fatos e artefatos) que apenas ele podia empregar com maior vantagem; para o oriental moderno ele dava facilitações e melhoramentos – e, também, o benefício do seu julgamento sobre o que era melhor para o Oriente moderno” [SAID, 1990, p. 88].

Essa atitude europeia de dever em guardar o passado budista, de certa forma, levou a uma atitude de desprezo para com as práticas contemporâneas, que eram entendidas como degeneradas ou não seguindo os “verdadeiros”, que os ocidentais tinham o dever de retomar, ensinamentos do Buda. Esse procedimento foi caracterizado por uma representação do budismo de acordo com os próprios gostos ocidentais, para Said esse processo orientalista não se tratavam de um simples conjunto de mentiras que devem ser desmascaradas:

“O orientalismo, portanto, não é uma fantasia avoada da Europa sobre o Oriente mas um corpo criado de teoria e prática em que houve, por muitas gerações, um considerável investimento material. O investimento continuado fez do orientalismo, como sistema de conhecimento sobre o Oriente, uma tela aceitável para filtrar o Oriente para a consciência ocidental, assim como esse mesmo investimento multiplicou – na verdade, tornou realmente produtivas – as declarações que proliferaram a partir do Oriente para a cultura geral” [SAID, 1990, p. 18].

Nesse processo de tornar a religião no que o Ocidente esperava, os intelectuais aproximaram o budismo da ciência moderna, principalmente, via psicologia e física. Esse fenômeno pode ser percebido, por exemplo, nas discussões de Mircea Eliade sobre as “correntes culturais”, entre as quais o autor chama atenção para o “modismo” que surgiu na França da década de 1960 em relação ao ocultismo, ciência, astrologia, ficção científica e técnicas espirituais. Entre os representantes desse movimento, Eliade destaca a revista Planète que:

“[...] é construída sobre as mesmas bases e segue o mesmo padrão: há artigos sobre a probabilidade de planetas habitados, novas formas de guerra psicológicas, a perspectiva de l’amour moderne, a ficção científica americana de H. P. Lovecraft, as chaves ‘reais’ para a compreensão de Teilhard de Chardin, os mistérios do mundo animal e outros” [ELIADE, 1979, p. 15].

Essa revista, que também ganhou versão brasileira (Planeta), surgiu e:

“[…] o que era novo e estimulante para o leitor francês era a visão otimista e integral que conjugava ciência com esoterismo e apresentava um cosmos vivo, fascinante e misterioso, no qual a vida humana tinha sentido e prometia uma perfectihilidade eterna. O homem não estava mais condenado a uma condition humaine sombria; em vez disso, ele era chamado a conquistar seu universo físico e a desvendar os outros, os enigmáticos universos revelados pelos ocultistas e gnósticos. Mas, diferentemente das escolas e movimentos gnósticos e esotéricos anteriores, Planète não desprezou os problemas sociais e políticos do mundo contemporâneo. Resumindo, a revista difundia uma ciência redentora: uma informação científica que era, ao mesmo tempo soteriológica. O homem não estava mais alienado e inútil num mundo absurdo para o qual ele havia vindo por acidente e em vão” [ELIADE, 1979, p. 16].

Efetivamente, Planète representou um otimismo que deu, pela linguagem mística, uma esperança ao homem (sem abandonar a ciência). Sugerimos que as religiões orientais, no caso o budismo foram gradativamente relacionados a uma nova mística que estava de acordo com a ciência, as origens dessa experiência estaria no período clássico, isto é, durante a vida do Buda, e as práticas contemporâneas não seguiam esse “budismo verdadeiro”.

Essa visão orientalista recebeu diversas respostas, entre as quais, a do zen budismo japonês via Daisetsu Teitaro Suzuki. Esse intelectual japonês ligado a Escola de Quioto, foi um dos mais importantes divulgadores do zen budismo para ocidentais, tendo utilizados livros e palestras para expressar uma nova representação do budismo [ROCHA, 2016]. O zen budismo de Suzuki se enquadra naquilo que Martin Baumann [2001] chama de um “budismo moderno”, no qual o zen foi laicizado, destacando a racionalidade e minimizando as dimensões da piedade, ritualização e sacramentação da religião.

Essa representação do zen criada por intelectuais budistas japoneses foi uma reação ao próprio olhar ocidental para com as religiões orientias, sendo bem recebido no Ocidente. Gradativamente, ganhou novos espaços, entre os quais, conforme aponta Rocha [2016, p. 154]: “A expansão do Zen-budismo no Ocidente está historicamente associado com o movimento da contracultura dos anos 60 e com o seu desenvolvimento posterior, a Nova Era.”. Nesse mesmo sentido, o interesse no oculto discutido por Eliade é analisado como uma forma de rebelião ao mundo moderno, no qual, enquanto era exigido a agitação nas cidades, as pessoas estavam calmas, isto é, “zen”.

Nessas apropriações, o Oriente era visto como possuidor de conhecimentos ocultos, justamente pelas representações orientalistas que foram construídas, no Oriente existiriam valores anteriores ao cristianismo/judaísmo que estariam em estado puro pronto para os ocidentais, por meio desses conhecimentos milenares que o indivíduo se contrapõe aos valores das sociedades ocidentais modernas. Eliade aponta que os escritos e artistas da vanguarda romântica foram influenciados por essa visão que buscou o oculto: “Em suma, desde Baudelaire a André Breton, a influência do oculto representou para a vanguarda literária e artística francesa um dos meios mais eficazes de crítica e rejeição aos valores culturais e religiosos do Ocidente – sendo sua eficácia proveniente da suposta base histórica que se atribuía a esse fenômeno” [ELIADE, 1979, p. 57].

É com esses novos contornos que a adjetivação do termo zen passou a ser cada vez mais divulgado nos meios de comunicação, sendo inclusive, reproduzido pelos meios acadêmicos contemporâneos, por exemplo ao discutir as possibilidades do diálogo religioso, Teixeira [2003] reconhece que o Dalai Lama e o budismo em geral têm posturas favoráveis à possibilidade de diálogo. No entanto, não evidencia a enorme variedade de budismos existentes e nem como essas diferentes interpretações religiosas possuem contradições que levam a violências, conforme mostrado por Usarski [2006].

 

Considerações Finais

Esse texto teve como objetivo esboçar alguns contornos que levaram ao gradativo processo de adjetivação do termo zen, sugerimos que tal perspectiva passou por um olhar orientalizante que buscava valores no budismo, mas que rejeitou parte significativa da doutrina, ritos e sacramentos da religião. Embora, no caso do zen budismo japonês, essa construção do “budismo moderno” tenha sido realizada por intelectuais japoneses, ela ganhou significativas expressões na cultura Ocidental, aparecendo em filmes, revistas, novelas, músicas, etc., pois foi ao encontro dos interesses ocidentais em valores que possuiriam uma história milenar, mas não eram religiosos, sendo apenas uma “filosofia de vida” para o mundo contemporâneo. É preciso finalizar ressaltando que diversas pessoas se aproximam do budismo justamente devido a essa popularização e embora existam diferentes práticas que, por um lado, mantêm hábitos como o culto aos ancestrais, os ritos, cerimônias, etc., por outro, também consideramos como igualmente budistas aqueles que rejeitam tais práticas. Isto é, essas distinções não significam, do ponto de vista acadêmico, qualificações ou hierarquizações das crenças religiosas.

 

Referências

Leonardo Henrique Luiz é mestre em história pela Universidade Estadual de Londrina e doutorando em história pela Universidade Estadual de Maringá [leonardo_luiz8@hotmail.com]

 

BAUMANN, M. Global Buddhism: Developmental Periods, Regional Histories, and a New Analytical Perspective. Journal of Global Buddhism, v. 2, p. 1-43, 2001.

ELIADE, Mircea. Ocultismo, Bruxaria e Correntes Culturais: Ensaios em Religiões Comparadas. Belo Horizonte: Editora Interlivros, 1979.

GAVASSI, Manoela. Entrei Pra Faculdade Com Enem [2013]. Disponível em: https://m.letras.mus.br/manoela-gavassi/entrei-pra-faculdade-com-enem/. Acesso em: 12 de set. 2020.

MC MELODY; ANGEL, Bella. Tô Bem Tô Zen [2018]. Disponível em: https://youtu.be/XlyepbAflpE. Acesso em: 12 de set. 2020.

ROCHA, Cristina. O Zen no Brasil: Em busca da Modernidade Cosmopolita. Campinas: Pontes, 2016.

HALL, Stuart. O Ocidente e o Resto: Discurso e Poder. Projeto Históira, n. 56, 2016, p. 314-361.

SAID, E. W. Orientalismo: o Oriente como Invenção do Ocidente. São Paulo: Companhia das Letras, 1990.

TEIXEIRA, Faustino. O diálogo inter-religioso na perspectiva do terceiro milênio. Horizonte, v. 2, n. 3, 2003, p. 19-38.

USARSKI, Frank. Conflitos religiosos no âmbito do Budismo internacional e suas repercussões no campo budista brasileiro. Religião e Sociedade, v. 26, 2006, p. 11-30.

USARSKI, Frank. Declínio do budismo "amarelo" no Brasil. Tempo Social, v. 20, n. 2, 2008, p. 133-153.

 

9 comentários:

  1. Olá, Leonardo. Parabéns pelo artigo. Fico entusiasmado em saber que há cada vez mais pessoas interessadas nas representações budistas do lado dito ocidental. Achei curiosa a sua associação do budismo com o ocultismo. Não lhe parece contraditório relacionar o budismo, que visa a iluminação à um termo que pressupõe algo não visto, e que, portanto, está avesso à luz ou ao esclarecimento? Talvez algumas vertentes budistas, como o budismo tibetano vajrayana, poderiam dar novos rumos a essa perspectiva mística e esotérica de representação budista. Obrigado pela participação! -- Renan Lourenço da Fonseca

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    1. Olá Renan, obrigado pelo comentário. A associação com o ocultismo foi pensada a partir do Mircea Eliade, no sentido de que parte das apropriações ocidentais para com as religiões orientais se deram com base numa busca do oculto no sentido do inexplorado/desconhecido. Agora deixando de falar dessa perspectiva ocidental que esteve presente na França nos anos 1950, e pensando em termos da prática e do entendimento dentro do budismo do que é iluminação, certamente as vertentes esotéricas como as tibetanas e o Shingon estão mais em sintonia ao oculto.

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  2. Parabéns pelo trabalho, Sr. Luiz. As dúvidas que me ocorreram foram quanto às respostas da intelectualidade nipônica, sobre a apropriação de conceitos de seu país de origem a partir do Ocidente. Como pontuado, a reação vinda de D. T. Suzuki ao orientalismo oitocentista acabou inclusive recebendo a denominação de “budismo moderno”. Além dele, não houve outros membros da Escola de Quioto que escreveram sobre o zen?
    Fora esta, tenho outra questão. Se a década de 1960 foi marcada por um ímpeto rebelde de inovação (vide a mescla entre ciência e ocultismo na revista “Planète”, na tentativa de traçar diretrizes outras para a conduta humana), nos anos seguintes a história experimentou um arrefecimento dos ânimos. Sobre este período posterior, ou mesmo simultâneo, não existem registros de produção bibliográfica/acadêmica, em resposta à utilização de temas/conceitos nipônicos tradicionais pela contracultura?

    João Antonio Machado

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    1. Obrigado pelas questões João, são muito interessantes. Além dos membros da Escola de Quioto, alguns autores como o Martin Baumann apontam que monges imigrantes japoneses nos EUA começaram processos de flexibilização do budismo japonês em relação ao Ocidente que lembram o budismo modernista, ele cita nomes como Sokei-an Sasaki e Nyogen Senzaki. Agora dentro da Escola de Quioto, alguns autores apontam inclusive que é controverso afirmar que Suzuki teria de fato feito parte, o que é mais ou menos um consenso é que ele tinha amizades próximas com os membros, inclusive com o próprio Nishida Kitaro. Em termos de escrito, o Masao Abe também ganhou destaque, inclusive sendo o grande representante do zen no Ocidente após a morte do Suzuki. Acho que a questão é que como o Suzuki ganhou tanto destaque, ele acabou "encobrindo" outros autores budistas.

      O que me parece sobre o período posterior, talvez, seja de uma busca mais individualizada centrada na meditação. Posso sugerir duas leituras que ajudem a entender essa questão: de uma maneira bem geral o artigo "Global Buddhism: Developmental Periods, Regional Histories, and a New Analytical Perspective" do Martin Baumann e em termos de Brasil o livro "O Zen no Brasil: Em busca da Modernidade Cosmopolita" da Cristina Rocha. Se não me engano a Rocha vai apontar, como o templo sede da Sotoshu no Japão vai repensar suas políticas missionárias a partir das experiências que teve no Brasil, por exemplo, permitindo a flexibilização de práticas como os sesshins que atraíam esses indivíduos que estiveram ligados a contracultura.

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  3. Parabéns pelo artigo! Muito interessante essa abordagem. Fico me perguntando como fica a ideia dos jovens e adolescentes ao usaram esse termo "zen". Me parece que grande parte dos mesmos não entendem a real ideia por trás de tal termo. Será que quando usamos o termo, como jargão ou "dito popular" não faz com que estejamos mais longe de uma real reflexão sobre o mesmo, e logo, sobre a filosofia oriental budista? O que você acha?

    Elielton Ferreira Corrêa.

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    1. Obrigado pelo comentário Elielton. Me parece que o uso do zen, de uma maneira geral, é como um sinônimo de tranquilidade, sem necessariamente se remeter a profundas questões religiosas. Agora, como historiador das crenças e ideias religiosas, defendo que os termos estão em constante transformação. É difícil falar em "real significado" de algo, porque se pararmos para pensar: o que é o "zen verdadeiro"? O praticado atualmente em diversos templos japoneses se afasta em vários aspectos do praticado na época do Doguen. Quero dizer que os contextos mudam tanto que é impossível a religião ficar parada em um núcleo, a própria religião muda com o tempo. Cabe ao historiador, sociólogo, antropólogo, etc. estudar não o que "realmente é" de uma religião, mas sim o que os praticantes em um determinado espaço e tempo entendem que é. É a questão presente nos Reis Taumaturgos do Marc Bloch, isto é, não importa se a crença é real ou não, o importante para o historiador é o que as pessoas fazem a partir da crença.

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  4. Olá, Leonardo. Também sou da UEM e recentemente acompanhei uma apresentação sua em um evento online coordenado pela Vanda. Gostaria de parabenizá-lo pelo texto. Você escreve que - o zen budismo de Suzuki se enquadra naquilo que Martin Baumann [2001] chama de um “budismo moderno”, no qual o zen foi laicizado, destacando a racionalidade e minimizando as dimensões da piedade, ritualização e sacramentação da religião. - Minha pergunta é: além de você, existem outros autores brasileiros ou nipobrasileiros que escrevam sobre esse "budismo moderno" e façam essas reflexões a partir de como o budismo se desenvolveu no Brasil?

    Augusto Agostini Tonelli

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  5. Leonardo, primeiro parabenizo pelo texto, o título que adotaste me chamou atenção e o desenvolvimento de sua escrita me fez refletir sobre diversas realidades contemporâneas.
    Achei muito interessante quando citas Said (1990) sobre os pesquisadores do século XIX que estavam preocupados pelas questões consideradas clássicas e ignoravam o contemporâneo. Acredita que atualmente as pesquisas acadêmicas em relação ao Oriente seguem esse mesmo paradigma?
    Pensando sobre esse senso comum do Zen budismo, você acredita que os manuais de ensino ainda abordam superficialmente as temáticas religiosas orientais, dando espaço para interpretações e apelos midiáticos dessas questões? Ou seja, será o Oriente algo ainda distante e desconhecido por muitos?

    Novamente parabéns pela escolha do tema, muito relevante.

    Matheus Felipe Araujo Souza

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  6. Caro Leonardo, parabéns pelo texto instigante e que atualiza a historiografia sobre o Budismo, principalmente no Brasil em que o campo ainda se encontra em processo de estruturação. Baseado nas reflexões da professora Leila Marrach Basto de Albuquerque, penso se seria possível refletir sobre esse Zen em dois grandes momentos: por um lado, o Zen tal qual apropriado pela contracultura (principalmente norte-americana, com figuras como Allen Ginsberg e Jack Kerouac); por outro, a moda zen tal qual expressa nas letras de música do ENEM e de MC Melody. O primeiro ressignificaria os elementos do Zen japonês, incluindo a utilização de substâncias psicoativas e reagindo a um contexto histórico ainda fortemente politizado, marcado pela Guerra Fria e, mais especificamente nos EUA, pelo movimento macartista caracterizado pelo discurso ultraconservador (recomendo, nesse sentido, bater um papo com a Olívia Ricetto, que está abordando a questão sob a ótica de Ginsberg). A moda zen, por outro lado, estaria relativamente afastada dessa dimensão política, transformando o zazen, por exemplo, em prática terapêutica quase elitizada em consonância com a yoga, o reiki e outras práticas orientais. A moda zen, ao meu ver, seria uma tendência mais recente, mas que sobrevive ao lado de um zen ainda político em certo sentido. Vide, nesse caso, as diferentes perspectivas entre monges como Coen e Genshô.

    Richard Gonçalves André

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