INDUMENTÁRIA ORIENTAL – UMA PROPOSTA PARA ESTUDOS INTRODUTÓRIOS
Antecedentes
Dando continuidade ao que foi proposto no artigo ‘História da indumentária – o Oriente na bibliografia regular’, de 2019, o ensaio aqui apresentado tem como objetivo principal elaborar um percurso para iniciação em estudos da história do vestuário oriental, a partir de referências acessíveis.
Cinco livros bastante conhecidos de história do vestuário, tiveram seu conteúdo sobre povos orientais verificado – ‘A roupa e a moda: uma história concisa’ de James Laver [1989], ‘História do vestuário’, de Carl Köhler [1993], ‘A evolução da indumentária: subsídios para criação de figurino’, de Marie Louise Nery [2003], ‘História do vestuário no ocidente: das origens aos nossos dias’, de François Boucher [2010] e ‘A história mundial da roupa’, de Patrícia Rieff Anawalt [2011]. A partir dessa análise, foi constatado que, na maioria dos títulos, a menção às sociedades consideradas orientais é bastante pontual, com foco sobretudo na Antiguidade e em momentos nos quais suas maneiras de vestir influenciaram os trajes das elites europeias.
Até hoje e não raramente, costumes e indumentária de algumas culturas são apresentados em mídias diversas sob uma aura de exotismo ou controvérsia. Um exemplo nesse sentido é que “de todas as práticas do islamismo, o uso feminino do véu é o menos compreendido pelo Ocidente” [ANAWALT, 2011, p.46]. Em 2019, a emissora alemã Deutsche Welle listou os países europeus onde há restrições às vestimentas religiosas islâmicas e a francesa Decathlon sofreu ataques ao lançar um hijab esportivo – a França foi cenário de vários atritos com a comunidade muçulmana local desde o início do século XXI – [A POLÊMICA, 2019; MÜLLER, 2019].
Já em 2020, um pequeno acessório, bastante difundido no Extremo Oriente, esteve (e, no início de setembro, ainda está) no centro da discórdia – as máscaras cirúrgicas. Seu uso em público em meio à pandemia de COVID-19 tem perpassado diversos círculos – até mesmo o obscuro território dos conspiracionistas que, com o alcance das redes sociais, têm difundido ideias enviesadas e até xenófobas.
Esses exemplos reforçam a necessidade de desmistificar o Oriente, e indicam que a compreensão da indumentária como manifestação cultural é uma via importante, que conecta simultaneamente o lúdico e questões sociais mais graves.
Estruturação
A literatura introdutória foi definida a partir dos cinco livros mencionados anteriormente, atendendo conjuntamente aos critérios de abordar de maneira ampla as sociedades orientais, estar em língua portuguesa e ser razoavelmente fácil de obter. ‘A história mundial da roupa’ será a referência básica para a proposta atual. O principal complemento será a ‘História do vestuário no ocidente: das origens aos nossos dias’.
Em ambos, a divisão dos capítulos parece
percorrer um caminho cujo ponto de partida é o Antigo Oriente, seguindo em
direção ao Mediterrâneo. Boucher permanece na Europa, enquanto Anawalt ruma
para os demais continentes. Com esses modelos, uma segmentação por regiões foi
definida, conforme exposto a seguir.
1) Nordeste da África
Anawalt dedica um subcapítulo à África Oriental, apontada como a região de origem dos primeiros seres humanos, e pode ser o início desse percurso de leitura.
Não há dúvidas quanto à disponibilidade de informações sobre o Antigo Egito – Anawalt e Boucher abordam seus trajes de linho, joalheria e maquiagem, enquanto Köhler [1993] até mesmo fornece moldes de kalasiris, uma espécie de túnica utilizada tanto por homens quanto por mulheres, a partir do Novo Império (c.1000 a.C.). Boucher atribui o desaparecimento das particularidades do vestuário local às conquistas por outros povos, como gregos e árabes.
Na região do Alto Nilo, vale mencionar os núbios, um povo que desde a antiguidade partilhou eventos históricos com os egípcios. Embora existam até hoje, sua indumentária não é detalhada. Já os nubas que, apesar do nome semelhante, habitam os montes ao sul do Sudão, são descritos por Anawalt como um povo que valoriza corpos atléticos, dá atenção aos cabelos, utiliza joias, pintura corporal e pratica a escarificação – prática que consiste em marcar o corpo com cicatrizes [ANAWALT, 2011; SPAULDING et. al, 2020].
Anawalt menciona ainda os povos nômades turkana e pokot, e introduz os maasais, da Tanzânia e os samburus, do Quênia, que possuem semelhanças em sua indumentária, sobretudo quanto ao uso dos vistosos colares de contas. As mulheres maasais utilizam um colar plano, enquanto as samburus empilham vários fios entre o peito e o queixo, alongando visualmente seus pescoços. A confecção de contas no Quênia remonta a 7000 a.C., e materiais naturais eram utilizados até o fim do século XIX. Já no século XX, contas de vidro industrializadas, da Europa e da Ásia, tomaram seu lugar.
Outra região próxima mencionada por Anawalt é
a Etiópia, que possui hoje “a cultura têxtil mais desenvolvida da África
oriental” [2011, p.510]. Segundo Köhler, os etíopes da antiguidade teriam, em
momentos distintos, utilizado trajes semelhantes aos egípcios e aos assírios.
2) Oriente Médio
Cruzando o Mar Vermelho, chega o momento de analisar a Mesopotâmia, a Península Arábica e a região do atual Irã. A área entre os rios Tigres e Eufrates, no atual Iraque, foi onde surgiu a primeira civilização do Oriente Próximo (c.3000 a.C.). Nessa região emergiu o reino da Suméria. Os trajes dos sumérios têm, mais uma vez, atenção de Anawalt e Boucher. Em seguida, babilônios e assírios são descritos pelos autores. Köhler, mais uma vez, apresenta a planificação de peças do vestuário de ambos, que também se aproximava do kalasiris egípcio, segundo o autor. Boucher e Köhler comentam sírios e fenícios – o alemão novamente traz o esquema de modelagem dos trajes, enquanto Boucher descreve têxteis e corantes. Ambos citam o vestuário hebreu/judaico.
Nesse ponto, esses três autores fazem divisões bem distintas, mas convergem para os povos iranianos. Köhler sintetiza características dos trajes de medas, persas, citas, sármatas e partos ao lado dos demais povos da Antiguidade, na maioria das vezes apresentando uma ilustração de referência e um esquema de modelagem das peças. Anawalt foca em duas tribos nômades do Planalto Iraniano, os curdos e os qashqais, enquanto Boucher aborda a região montanhosa do Irã em conjunto com os países no limiar da Europa e o Turquestão, e, separadamente, as Regiões Irano-Indianas.
Anawalt é a única a abordar a Península Arábica. Ela explica que “bem antes do advento do islamismo, já era costume no Oriente Médio enrolar uma peça de tecido em volta da roupa para viajar” e acrescenta “a origem precisa do véu [feminino] é desconhecida, mas a prática foi registrada pelos assírios já em 1100 a.C.”, como uma forma de proteção e distinção entre as mulheres de classe alta e “‘escravas, criadas e meretrizes’, que por decreto eram obrigadas a andar desveladas” [2011, p.46]. A autora também apresenta turbantes e lenços masculinos. Nota-se que tanto as peças masculinas quanto as femininas possuem seus próprios significados, que precisam ser observados com bastante delicadeza, levando em consideração o olhar dos sujeitos sobre si mesmos, não apenas a noção ocidental de como os indivíduos deveriam se vestir.
Paralelamente à indumentária tradicional, algumas das marcas de moda mais luxuosas do mundo fazem parte do vestuário de algumas mulheres dessa região. Na última década, sauditas, kuwaitianas, catarianas e cidadãs dos Emirados Árabes compunham boa parte da clientela da Alta Costura francesa [WENDLANDT; FUCHS, 2011].
3) Mediterrâneo
Toda a costa do Mediterrâneo e suas ilhas podem ser consideradas espaços limiares, onde as definições do que é oriental e o que é ocidental se turvam. Boucher argumenta que Creta, por exemplo, era uma civilização mista e, por isso, não deveria ser incluída no Oriente. Partindo da mesma lógica, também não poderia ser incluída no Ocidente. O autor aborda outras regiões que podem ser tratadas como “mistas”, como a Península Ibérica, a Sardenha, a Etrúria e o Bizâncio.
Por outro lado, Anawalt menciona o domínio turco e islâmico sobre partes da Europa, Ásia e África. Nesse momento, o Magreb, ao Norte da África, pode ser observado – a região corresponde a Marrocos, Tunísia, Argélia e parte da Líbia. A autora apresenta dois povos tradicionais que permanecem na região, os berberes e os tuaregues.
“O Mediterrâneo oriental permaneceu como parte do Império Otomano por mais de quatrocentos anos”, sendo abolido apenas após a Primeira Guerra Mundial [ANAWALT, 2011, p.55]. Anawalt ressalta que muitas fotografias registram o vestuário do Império Otomano no final do século XIX e início do XX, e muitos trajes e tecidos da elite foram preservados, como as peças encontradas “no palácio de Topkapi, a corte imperial localizada no coração da Istambul muçulmana, a antiga Constantinopla dos romanos e a Bizâncio dos gregos” [ibid, p.57].
Köhler cita alguns povos que podem ser identificados com esse recorte regional – ao lado de cretenses, etruscos e bizantinos, iliri[c]os da costa mediterrânea, desde a atual Eslovênia até a Albânia, dácios dos Cárpatos e trajes da Ásia Menor, também conhecida como Península Anatólia, onde hoje se situa parte da Turquia.
4) Seda e feltro
Conforme Pezzolo “Os caminhos que no passado uniram Oriente e Ocidente passaram a ser conhecidos como Rota da Seda somente no século XIX. Embora por eles passassem não só a seda [...], provavelmente o Ocidente deu mais importância ao tecido, o que levou o barão Ferdinand Freiherr von Richtofen, [...] a dar-lhes o nome[...]” [2008, p.85]. A famosa rota de caravanas cortava a Ásia Central, onde Anawalt relata a produção da seda ikat, a manufatura de tecidos no Turquistão, que teve seu auge no fim do século XIX e a incorporação dos estilos ocidentais no decorrer do século XX.
Junto à Rota da Seda, havia um vasto território, da atual Hungria até Pequim, que os chineses do século IV a.C. descreviam como “A Terra do Feltro”, pois o tecido de lã era a matéria básica para a fabricação de tendas, cobertores, arreios e roupas dos povos nômades da região. Entre essas tribos, havia os famigerados mongóis que, por volta do século XIII, foram unificados sob comando de Genghis Khan. Anawalt destaca que ao estudar o vestuário da região, deve-se abdicar da marcação de gênero pelas roupas, pois “até meados do século XX, homens e mulheres vestiam-se de maneira praticamente igual no centro e leste da Ásia, a não ser por alguns detalhes” e “parece ser essa também a região onde surgiu a calça” [2011, p130].
Sobre a Ásia Central e os Reinos do Himalaia,
não foi localizada até o momento nenhuma referência complementar ao estudo de
Anawalt, além das menções aos tecidos feitas em ‘Tecidos: história, tramas,
tipos e usos’, de Dinah Bueno Pezzolo (2008).
5) Índia
De acordo com Anawalt, durante o século XX muitos povos não ocidentais substituíram seus trajes tradicionais por roupas ocidentais. A Índia seria uma exceção, pois lá “muitos ainda vestem as mesmas roupas sem costura usadas desde o surgimento da primeira civilização indiana no vale do rio Indo” [ANAWALT, 2011, p.216]. Essa primeira civilização teria vivido há cerca de 5 mil anos, e desta época também datam amostras de algodão encontradas na região. Tecidos de algodão já seriam trocados pelos indianos por lãs da Mesopotâmia em 2600 a.C., segundo Pezzolo.
Outro antropólogo, Daniel Miller, discute
brevemente o papel do sári na identidade da mulher indiana, e acrescenta que
“hoje, quase sempre ele é usado em associação com uma anágua, uma blusa curta
para cobrir o busto e, por baixo de tudo, calças e sutiã” [2013, p.37-38]. A
peça talvez seja um dos trajes mais conhecidos da região, mas Anawalt apresenta
outras – dhotis, turbantes e calças regionais. A cultura indiana teve forte
influência no que a autora designou como Reinos do Himalaia – Nepal, Tibete e
Butão – tanto nas religiões quanto no vestuário.
6) Sudeste Asiático
Pelo menos desde 2013, com o desabamento do edifício Rana Plaza, em Bangladesh, o sudeste asiático é associado à exploração de mão-de-obra barata pelo setor têxtil. Entretanto, muito antes da exploração contemporânea, comunidades locais pré-históricas deixaram traços de fibras processadas e até tecelagem (c.2500 a.C.). Anawalt introduz trajes birmanenses, laosianos, cambojanos, vietnamitas e tailandeses, pontuando os lamentáveis acontecimentos de violência estatal e domínio estrangeiro a que esses povos foram submetidos.
A antropóloga exalta o “insuperável virtuosismo técnico e admirável variedade” da tecelagem artesanal tradicional da Indonésia [ANAWALT, 2011, p.284], e acrescenta que a produção de tecidos local cumpre, inclusive, papel ritualístico, e que existe uma diversidade impressionante entre as ilhas – destaque para Sumatra, Java, Bali, Sumba, Flores, Timor, Sulawesi e Bornéu.
Quanto ao arquipélago das Filipinas, uma
breve menção é feita a trajes da ilha de Mindanao, onde o povo bagobo
acreditava na importância de “usar roupas bonitas, pois boa aparência era sinal
de virtude”, islâmicos dotavam as cores de seus trajes de simbolismo e um
terceiro povo, não identificado, tecia peças com motivos complexos [ibid,
p.303] – embora belas imagens exemplifiquem o que é citado pela autora, não há
muito mais informações.
7) Extremo Oriente
A China, considerada por alguns o berço da “civilização sobrevivente mais antiga do mundo” [ANAWALT, 2011, p.154], originada há aproximadamente 5 ou 6 mil anos, e que sempre teve o maior domínio da Ásia oriental “graças ao seu vasto território, sua enorme população e a antiguidade de sua sofisticada civilização” [ibid, p.153], não raramente está no centro de controvérsias variadas.
Uma das mais antigas, relacionadas ao vestuário, é quanto aos calçados. Anawalt comenta que “a partir do século X, os pés das meninas chinesas hans, das classes altas, eram firmemente enfaixados para retardar seu crescimento e criar o formato de botão de lótus, muito admirado na época”, mas a prática foi proibida sob o domínio Manchu (1644-1911) [ibid, p.166].
A autora cita várias dinastias e eventos históricos relevantes, a importância da seda, e aponta o período Han [206 a.C.-220 d.C.] como “o mais antigo a fornecer dados confiáveis sobre estilos de vestuário”, além de ter sido quando houve a abertura da Rota da Seda [ibid, p.159].
O uso de roupas ornamentadas por dragões, principalmente pela família imperial, remonta a regulamentações do século IX. No século XVIII, outras leis estabeleciam os tipos de dragão que poderiam ser bordados nas roupas conforme a posição social de quem as vestia [ibid, 2011].
Passando para a Coreia, Anawalt comenta que “seu vestuário ‘tradicional’ é fruto da decisão consciente de voltar ao passado, pulando décadas de tempos desastrosos” [ibid, p.181]. Os trajes eleitos correspondem aos da dinastia Joseon (1392-1910), mas a antropóloga também apresenta modos de vestir anteriores e que, assim como os chineses, há tempos refletem distinções sociais no vestuário. Sobre o modo de produção das roupas, pontua que divergem da padronização ocidental e “se ajustam a qualquer corpo, sendo presas por faixas” [ibid, p.186].
Por último, o Japão – hoje um país que convive com tecnologia avançada, exporta modas e práticas indumentárias como as dos cosplayers e das lolitas, mas que “ainda vivia na Idade da Pedra” enquanto a China “já desenvolvera uma cultura antiga e sofisticada”, que chegou à ilha através da Coreia, no século VI d.C. [ANAWALT, 2011, p.197].
A autora salienta o período Heian (794-1185) pela elegância e imponência das roupas aristocráticas, de seda, em contraste com a população do campo, que tecia seu vestuário de fibras liberianas. Traz ainda o vestuário do período Edo, figurinos do teatro nô e armaduras de samurai, utilizadas desde o século XVI até o século XIX. O final do período Edo seria o apogeu das artes têxteis japonesas, no qual ocorreriam, inclusive, “incessantes variações de moda” [ibid, p.209]. Os tipos de traje importados do Ocidente na época da restauração Meiji (1868-1912), como ternos e uniformes militares são mencionados, embora em ambiente doméstico normalmente fosse usado o kosode, ou quimono.
Durante o século XX, o Japão figurou entre os
locais de inspiração para costureiros ocidentais, teve novamente destaque no
universo da moda de luxo por volta da década de 1980, quando estilistas
japoneses lançaram suas marcas em Paris e, por meio de animações e histórias em
quadrinhos, conquistou espaço na cultura popular global. Paralelamente, com a
chegada dos primeiros imigrantes japoneses no Brasil em 1908, algumas regiões
estabeleceram um contato mais próximo com elementos da cultura do extremo
oriente. Na moda, é possível mencionar dois criadores brasileiros de
ascendência japonesa – Jum Nakao e Fernanda Yamamoto.
Considerações finais
A leitura orientada e complementada do livro de Anawalt proposta neste ensaio tem o intuito de ser um contato inicial sistematizado com os trajes orientais. Consequentemente, ao fim surgem mais questões do que respostas. Em etapas distintas, adições podem ser feitas quanto a grupos, lugares, épocas e referências. Há contextos que são, claramente, menos explorados que outros, o que desperta o questionamento quanto ao motivo disso.
A estruturação em sete regiões pode estimular alguns exercícios, como a elaboração de mapas, cronologias e painéis visuais que ajudem a compreender as tradições, as trocas, os impactos da globalização nos modos de vestir de determinados grupos, assim como as formas, os materiais, os métodos de fabricação e padrões de beleza aplicados aos trajes.
Certos aspectos foram deixados de fora propositalmente, pois estão enraizados na visão ocidental, mas podem ser incluídos em outro momento. São eles o Exotismo, o Romantismo, o Colecionismo, a Vanguarda Japonesa e até a recente Hallyu, a onda cultural coreana. Junto a eles, o Orientalismo no vestuário tem sido abordado ocasionalmente – o Metropolitan Museum of Art de Nova Iorque disponibiliza gratuitamente o catálogo da exposição chamada ‘Orientalism: visions of the east in western dress’ [Orientalismo: visões do oriente no vestuário ocidental], realizada em 1994, e o Victoria and Albert, de Londres, inaugurou ‘Kimono: Kyoto to Catwalk’ [Quimono: de Kyoto à Passarela], mostra focada na peça japonesa e suas releituras ocidentais, que pode ser parcialmente acessada na página do museu.
Por fim, cabe pontuar que estudos sobre
indumentária elaborados em países orientais seria uma adição de extremo valor
às referências, mas ainda são raras as obras originadas nesses lugares
traduzidas para o português, embora alguns textos já possam ser encontrados em
inglês ou outras línguas ocidentais, como os de Akiko Fukai, curadora do Kyoto
Costume Institute.
Referências
Natália de Noronha Santucci é mestra em
História pela PUCRS, especialista em Moda, Mídia e Inovação pelo Senac/RS e
bacharela em Design de Moda pelo Centro Universitário Belas Artes de São Paulo.
Atua como pesquisadora independente de História do Vestuário, sendo as roupas
para práticas esportivas, os trajes orientais e a historiografia brasileira
sobre indumentária seus principais interesses de pesquisa.
E-mail: nataliasantucci[at]gmail.com
ANAWALT, Patricia Rieff. A história mundial
da roupa, tradução Anthony Cleaver e Julie Malzoni. São Paulo: Editora Senac
São Paulo, 2011.
A POLÊMICA que levou loja de artigos
esportivos a suspender venda de hijab para corredoras na França. BBC, 27 fev.
2019. Disponível em: https://www.bbc.com/portuguese/internacional-47364689.
Acesso em: 08 set. 2020.
BOUCHER, François. História do vestuário no
Ocidente: das origens aos nossos dias, tradução André Telles. Edição ampliada
por Yvonne Deslandres. São Paulo: Cosac Naify, 2010.
KÖHLER, Carl. História do vestuário. São
Paulo: Martins Fontes, 1993.
MILLER, Daniel. Trecos, troços e coisas:
estudos antropológicos sobre a cultura material. Rio de Janeiro: Zahar, 2013.
MÜLLER, Marco. Onde é proibido ocultar o
rosto na Europa. Deutsche Welle, 01 ago. 2019.
Disponível em:
https://www.dw.com/pt-br/onde-%C3%A9-proibido-ocultar-o-rosto-na-europa/a-49849482.
Acesso em: 08 set. 2020.
PEZZOLO, Dinah Bueno. Tecidos: história, tramas,
tipos e usos. Editora Senac São Paulo, 2008.
SANTUCCI, Natália de N. História da
indumentária – o Oriente na bibliografia regular. In: BUENO, André; ESTACHESKI,
Dulceli; CREMA, Everton; NETO, José Maria de Sousa [orgs.] Orientalismo
Conectado. Rio de Janeiro: Edições Especiais Sobre Ontens, 2019. pp.129-139.
Disponível em: https://simporiente2019.blogspot.com/ e
https://simporiente2019or.blogspot.com/p/historia-daindumentaria-o-oriente-na.html
SPAULDING, Jay L. et al. Sudan. Encyclopædia Britannica, 02 set. 2020. Disponível
em: https://www.britannica.com/place/Sudan/Plant-and-animal-life#ref24338. Acesso em: 08 set.
2020.
WENDLANDT, Astrid; FUCHS, Martina. Out of public eye,
Arab women power haute couture. Reuters,
05 out. 2011. Disponível em: https://www.reuters.com/article/us-fashion-middleeast/out-of-public-eye-arab-women-power-haute-couture-idUSTRE7942YG20111005.
Acesso em: 08 set. 2020.
Olá Natália! Gostei do seu texto pois parte de uma analise da indumentaria e a relação desta com cada etnia. Logo minha duvida é quanto a apropriação destas vestimentas pelos ocidentais e consequentemente as grandes grifes, se há um esvaziamento dos valores culturais construidos?
ResponderExcluirGuilherme Augusto Pereira Barbosa
Oi, Guilherme! Obrigada pela leitura e pelo comentário.
Excluir"Apropriação cultural" atualmente é uma expressão bem complicada, pois se tornou muito comum vê-la distorcida em incontáveis páginas da internet, mas vou tentar responder da melhor forma possível.
Na moda contemporânea existe um debate constante sobre os limites éticos do que as marcas podem alegar ser 'inspiração', seja no sentido do plágio, seja no sentido de utilizar elementos visuais, sobretudo de culturas não-ocidentais, em seus produtos. A descontextualização de símbolos e peças de seus significados originais é, de fato, um dos problemas envolvidos nesse caso.
Parabéns pelo trabalho.
ResponderExcluirAchei interessante a sua proposta de um artigo que buscasse contribuir para que mais pessoas tivessem um conhecimento mínimo sobre o assunto, além de propor biografias acessíveis para isso.
Na maioria das vezes as vestimentas orientais são tratadas como algo exótico ou são vistas como folclóricas apenas. É comum nos depararmos com as vestes orientais apenas sobre essa designação genérica, não havendo uma preocupação com a trajetória desses povos.
Na sua opinião o que causa essa abordagem tão rasa e, em que medida, ela contribui para perpetuar o preconceito contra essas culturas?
Obrigada!
Milena Calikoski
Oi, Milena! Obrigada pela leitura e pelo comentário.
ExcluirEu concordo muito com o que você pontuou, e uma das minha motivações para investigar o tema é justamente furar essa bolha do exotismo e compreender o papel social desses trajes em seu contexto original.
Até onde minhas leituras indicam, um momento crucial para a formação dessa noção de 'exótico' foi o século XIX, quando a Europa avançou sobre os outros continentes, não só com objetivos econômicos, mas também por turismo (uma novidade na época) e para utilizar como pano de fundo para a criação artística. Paralelamente, também emergiu a eugenia que, propagada como ciência, promoveu uma perspectiva racista. Parece tudo muito antigo, mas são noções que atravessaram o século XX e ecoam ainda hoje.
Olá, Natália! Parabéns pelo trabalho de trazer tantas informações sobre vestimentas de culturas, como já dito acima, são tratadas apenas como exóticas e folclóricas em contraposição à modernidade ocidental. E também por trazer a relação entre esse campo e aspectos contextuais mais amplos, já que questões culturais como essa normalmente são tratadas como menores em relação à outras áreas da história.
ResponderExcluirGostaria então de te perguntar como tu acreditas que o estudo da moda e da vestimenta pode contribuir para questionar essas narrativas essencializadoras de culturas não-ocidentais.
Oi, Naiara! Obrigada pela leitura e pelo comentário.
ExcluirDepois daquela resposta arrasadora que você me deu no seu texto, tenho uma grande responsabilidade por aqui :)
Creio que recontextualizar a indumentária, entender seu papel social, sua produção e circulação possa ser um dos contrapontos para definições que reduzem povos com milênios de história a estereótipos criados pelas mídias ocidentais.
As roupas e os adornos costumam expressar muito das culturas, nos contam sobre os valores da sociedade, relações de trabalho, domínio de técnicas, padrões de beleza, uma infinidade de aspectos que, muitas vezes, permanecem silenciados.
Por serem objetos de uso cotidiano, ainda que em formatos diferentes, podem gerar identificação nas pessoas e facilitar a abordagem de diversas questões além da roupa em si.
Espero ter conseguido explicar satisfatoriamente.
Um abraço!
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirOi, Francisca!
ResponderExcluirObrigada pela leitura e pelo comentário. São várias questões, então vou tentar resumir. Caso algo não fique claro, sinta-se à vontade para me mandar um e-mail, ok?
Vamos lá:
1) Boa parte do que as pessoas vestem, tanto no oriente quanto no ocidente, tem uma relação muito estreita com os valores da sociedade na qual essas pessoas foram criadas, com o que é entendido como adequado, entre outros fatores.
2) Uma perspectiva que pode parecer positiva, mas é no mínimo ambígua, é a do 'exotismo' - em um primeiro momento, pode parecer que ele enaltece a cultura de povos distantes, mas é carregado de etnocentrismo, colocando a cultura do outro num patamar de diferença, estranhamento. As indumentárias tradicionais orientais muitas vezes são postas sob essa designação diante da moda ocidental.
3) Na etapa atual da minha pesquisa, ainda não me aprofundei individualmente nas dinastias chinesas, mas a autora que mais usei nesse artigo, a Patricia Anawalt, menciona que o "período Tang é considerado uma idade de ouro, a fase em que o Estado chinês atingiu a maturidade" (p.159), o que pode nos permitir a hipótese que a motivação de mudanças frequentes na indumentária pudessem estar vinculadas à expressão desse auge.
4) De maneira muito geral podemos falar desde as formas dos trajes, padrões de ornamentação, até o modo de fabricar e colorir os tecidos.
ResponderExcluirEspero ter conseguido esclarecer um pouco as suas dúvidas.