Rafael Meira de Oliveira

 

DAS FRUTAS FRESCAS À GELATINA EM PÓ: O SENTIDO DA COMIDA COMO OFERENDA NO BUTSUDAN, RETRATADO POR CRIADORES DE CONTEÚDO NA PLATAFORMA YOUTUBE (2016-2018)


O Budismo no Brasil, intimamente ligado a imigração japonesa a partir de 1908 e institucionalizado na década de 1950, tem um caráter étnico (USARSKI, 2006, p.136), ou seja, uma pratica ainda muito restrita aos grupos que vieram do Japão ou seus descendentes aqui no Brasil. Isso pode ser atribuído as suas formas de divulgação e inserção numa sociedade culturalmente tão distante, como a brasileira. Algumas escolas mantêm suas práticas “tradicionais”, por exemplo, ritos inteiramente em japonês, que acabam dificultando a inserção de um grupo leigo e etnicamente diferente.

Por outro lado, como afirma Diniz (2010, p.89): “o princípio de respeito, tolerância e gentileza para com todas as criaturas do mundo, central à fé budista, representou outro elemento crucial na dispersão budista pelo mundo.” Sendo assim, temos um conjunto de práticas religiosas com facilidade em seus princípios em inserção em outras sociedades de contexto diverso, mas com certa dificuldade em ser divulgado, pela conduta adotada por algumas escolas e líderes religiosos. Há escolas budistas que, ao contrário das mais tradicionais, assumiram um papel mais flexível e favorável à inserção no ocidente, como a escola Zen, tendo sites informativos, e criando conteúdo, como textos, palestras e vídeos. Essa estratégia de inserção é chamada, segundo André (2018, p1243-1244), de flexibilidade criativa e diz respeito a manutenção e perpetuação de um repertório religioso nas mudanças ao longo do tempo e em sociedades receptoras que não possuem as mesmas características históricas.

Dentro do Budismo, há diversos ritos, dentre eles os de caráter mortuário, como o Obon Matsuri (お盆踊り, “Festival dos Finados”), onde acontece uma série de ritos dedicados aos espíritos dos ancestrais (LUIZ; ANDRÉ, 2018, p. 895) sendo um deles o butsudan, um oratório budista de culto aos ancestrais, praticado no Brasil, sobretudo por japoneses e seus descendentes. Fábio Rambelli (s.d.) dividiu o oratório em três partes: gohonzon (ご本尊) que seria imagem ou estatueta de diferentes budas. Os ihai (位牌) que são pequenas tabuletas dos falecidos cultuados. E por último, o butsugu (仏具) que são as oferendas e itens usados no cerimonial.

Segundo Santos (2011, p.108): “o alimento constitui uma categoria histórica, pois os padrões de permanência e mudanças dos hábitos e práticas alimentares têm referências na própria dinâmica social.” Portanto, se alimentar e considerar algo alimento não é só prática de sobrevivência, mas é uma prática cultural. Paula Pinto e Silva (2018) – em participação do Seminário Internacional Conexão Comida: Saberes e Práticas na Alimentação – menciona a comida como parte de um sistema alimentar envolvido com questões políticas, étnicas, de gênero, classes, religiosas e etc. Essa abordagem ampliada da alimentação nos permite encarara-la de diversas formas como objeto de pesquisa, por exemplo, a alimentação como um ato religioso – o que se come ou oferta num rito.

O objetivo deste trabalho é analisar o sentido, dado pelos praticantes budistas, no uso do alimento enquanto oferenda no butsudan. A hipótese é que estes praticantes, não descendentes, são afiliados a escolas budistas mais “tolerantes”, ou seja, que permitam uma maior individualidade em suas práticas, sendo assim, abrindo um vasto campo para a hibridização, onde: “não é simplesmente uma mistura de duas identidades ou culturas anteriores, mas um “terceiro espaço”, um lugar para “a negociação das diferenças incomensuráveis, […]” (ROCHA, 2010, p.63) e essa hibridização sendo apresentada nos vídeos aqui analisados. Também, a outra hipótese seria o Youtube, como uma ferramenta efetiva de dispersão cultural, dada a quantidade de acessos públicos neste site, sendo assim, uma alternativa para as escolas budistas, seja mediante seus líderes religiosos ou praticantes, para compartilhar a mensagem budista e atrair novos adeptos.

Para a produção do texto, a fonte histórica primária utilizada é do tipo audiovisual, sendo vídeos postados pelos praticantes do budismo na plataforma digital Youtube. O período de tempo selecionado para a pesquisa, de 2016 à 2018, está relacionado com a data de publicação dos vídeos na plataforma aqui utilizados. Considerando o tipo de fonte, o aporte teórico utilizado foram os autores André (2018), no caso, com pesquisa semelhante, utilizando o mesmo tipo de fonte e também sua observação na estética dos vídeos analisados: “tendo em vista que não constituem apenas aspectos estéticos, mas atuam também na construção da mensagem em foco.” Outro autor destacado é Napolitano (2008), pois, no caso deste, há indicações valiosas de como se analisar tal tipo de fonte audiovisual. Segundo Napolitano (2008, p.236), o importante é: “perceber as fontes audiovisuais e musicais em suas estruturas internas de linguagem e seus mecanismos de representação da realidade, a partir de seus códigos internos.” Ou seja, compreender da forma mais completa possível o que e como é passado tal mensagem. No caso dos vídeos postados no Youtube, analisar, como já feito por André (2018), a mensagem do criador de conteúdo e suas estratégias de produção de vídeo, o posicionamento da câmera, a forma de se comportar e vestir diante a gravação, o cenário e som de fundo, se houve edição e como essa edição foi utilizada para direcionar a mensagem, o público alvo, se o vídeo é institucional ou privado, a quantidade de visualizações e padrões de comentários deixados pelos visualizadores do vídeo. Desta forma, podemos encarar a fonte tanto pela mensagem por ela passada, quanto pelas estratégias de divulgação, tornando uma análise mais profunda do documento.

O primeiro vídeo analisado tem o nome “Oratório e concessão de gohonzon”, publicado em 2016, produzido por Fabíola Souza, postado no seu canal do Youtube “Fabi por aí...”, onde, segundo sua biografia: “um canal sobre estilo de vida saudável, turismo, filosofia cotidiana, livros e cultura pop.” (SOUZA, s.d.) O vídeo, no momento da consulta constava mais de 22.000 mil visualizações, se trata da praticante, filiada à organização Sôka Gakkai Internacional, sanando as dúvidas de seus espectadores sobre como iniciar no Budismo; a demonstração da iniciação de um praticante, numa reunião onde os membros são predominantemente não descendentes de japoneses, ao receber o gohonzon e, por fim, seu butsudan.

O vídeo é produzido, no sentido que há edição na gravação, como música de fundo, no caso instrumental, enquadramento planejado como acabamento estético, cortes de gravação. Um cenário, geralmente montado para produção de vídeos no Youtube, comum a produtores de vídeos que levam isso como profissão ou desejam maior engajamento na plataforma, ou seja, toda uma estratégia para alcançar visualizações. Neste caso, toda esta produção não está necessariamente interligada a promoção do budismo e sim do próprio canal, sendo um dos seus conteúdos, a prática budista pela Fabíola Souza. A análise se atenta ao momento do butsudan, sendo os demais tópicos do vídeo conteúdo para um outro trabalho.

No momento de apresentar o alimento, a praticante difere na legenda do vídeo fruta e alimento, sendo que: “as frutas significam prosperidade para todas as pessoas” (SOUZA, 2016). Caso não haja frutas, Fabíola atenta que o praticante pode usar outros alimentos, aqui deixado de modo geral, ou seja, o próprio praticante vai definir o que pode ser o alimento, mas fica evidente que a preferência nas oferendas seriam as frutas. Após a troca das frutas no oratório, o praticante pode come-las sem nenhuma restrição. Deste modo, a partir do vídeo, podemos considerar o sentido do alimento na oferenda como pedido de prosperidade, de modo geral, para todos. Suas considerações sobre o alimento se encerram aqui.

O sentido do alimento é encarado como segundo plano. Não há uma atenção maior para este elemento que constitui o oratório, sendo esta parte do vídeo consideravelmente menor do que outros elementos, como a cerimônia de iniciação ao budismo. A praticante finaliza o vídeo afirmando que: “o que importa, na verdade, é o seu coração puro ao fazer essas oferendas. E é importante lembrar que essas oferendas a gente não faz para nenhum ser transcendental, a gente faz como uma forma de oferecer isso para nossa própria vida[...]” (SOUZA, 2016). Desta forma, essa filosofia globalizante, aparenta facilidade de inserção em diferentes sociedades, sendo palco de hibridizações, uma vez que o que se oferece tem caráter muito pessoal, dando espaços a criatividade e referências do próprio praticante.

O segundo vídeo, publicado em 2018, no canal “Nosso Apê 32B”, onde um casal publica conteúdos audiovisuais, com as temáticas “reforma, decoração e receitas” (LUCIANO; GABRIELA, s.d.) tem mais de 6.000 mil visualizações e tem o nome de “Oratório Budista”. Neste vídeo, a autora menciona ter nascido em família de tradição budista e considera o oratório um dos lugares mais importantes de sua casa. Assim como o primeiro vídeo, há uma produção na gravação realizada, como enquadramento; música, aqui no caso, do gênero eletrônica; cortes conscientes no vídeo, o tornando mais dinâmico e atrativo ao público. Mais uma vez, o canal não é voltado ao Budismo em si, sendo a prática um dos elementos na vida da autora. Portanto, a produção está mais relacionada ao engajamento na plataforma do que a divulgação religiosa. Ao falar sobre o alimento como oferenda, ela menciona somente a fruta, sem mais detalhes sobre o sentido. Porém, na parte de comentários, disponível para qualquer pessoa que tenha uma conta na plataforma Youtube, há um usuário que pergunta o sentido da fruta no oratório. A criadora do vídeo responde que: “a fruta é um oferecimento pela fartura em casa e prosperidade. Depois que ela é trocada pode ser consumida normalmente e não tem nenhum misticismo em relação a isso (tipo depois ela fica abençoada)” (LUCIANO; GABRIELA, 2018) O que vai de encontro com o sentido do primeiro vídeo aqui analisado. Porém, neste segundo não há menção para alimentos além de frutas que possam ser oferecidos no oratório.

O terceiro e último vídeo a ser analisado, intitulado “Oratório Budista – BSGI – Nitiren Daishonin”, foi publicado pelo criador de conteúdo Evandro Legramonte, em 2018. No vídeo, com mais de 7.700 visualizações, consideravelmente mais curto que os demais analisados, o autor, de modo mais direto, expõe seu Butsudan, explicando sua composição e o que ele utiliza nas suas oferendas. Já no início do vídeo, Legramonte cita seu vínculo com a Brasil Sôka Gakkai Internacional, uma instituição budista, direcionada ao culto à Nichiren. O canal tem como objetivo, segundo sua própria descrição, levar informações sobre o “mundo esotérico” (LEGRAMONTE, s.d.), ou seja, o butsudan está inserido neste esoterismo divulgado por Legramonte. O vídeo, comparado aos demais apresentados, é tecnicamente simples, pois, não há um grande tratamento de edição. Foi gravado com o próprio aparelho celular, segurado por Legramonte, e, no fundo, percebe-se apenas o som ambiente, nada de música ou efeitos pós gravação. O foco no oratório budista corresponde ao vídeo inteiro, sendo, neste caso, o assunto principal da gravação. Sobre o alimento utilizado como oferenda, foco desta pesquisa, Legramonte utiliza gelatina em pó, sendo: “alimentos que a gente coloca para ser abençoado, para receber uma energia positiva, isso aqui a gente consome depois normalmente [...]” (LEGRAMONTE, 2018). No vídeo, são citados vários alimentos, desde a gelatina utilizada, como leite, frutas, ou seja, o que se pode considerar comida pelo praticante, mais uma vez, enfatizando o caráter subjetivo da prática. O autor segue a gravação com os demais elementos do oratório e encerra o vídeo, explicando de modo geral como a prática visa receber e emanar energias positivas ao mundo. O sentido próximo dos vídeos pode estar relacionado com a escola seguida pelos criadores de conteúdo, ambas se referem a Nichiren Daishonin, monge japonês do século XIII considerado o Buda original e portador da mensagem correta (PEREIRA, 2002, p.254).

Os três produtores de conteúdos possuem vínculo com a Sôka Gakkai, e condiz com duas características desta instituição, citadas por Pereira (2002): a não descendência nipônica (p.272) e o engajamento pelas mídias sociais (p.277), no caso aqui, a produção de conteúdos privados. Os canais analisados não possuem o Budismo como tema principal, mas sim, como um elemento do cotidiano destes praticantes.

Embora a Sôka Gakkai, diferentemente de outras novas religiões budistas, não produziu um “abrasileiramento” e “sincretismo” com as religiões brasileiras (PEREIRA, 2002, p.280), por sua flexibilidade criativa, possui uma qualidade de engajamento e divulgação por meio digital, seja pela própria instituição, ou por seus membros, alguns dispostos a gravar e compartilhar suas vidas religiosas, tendo repercussão, como, por exemplo, as visualizações atingidas pelos vídeos aqui analisados, que passam dos milhares.

O sentido da comida, demonstrado aqui pelos praticantes, parece ser bem amplo, ou seja, o que pode ser considerado oferenda está ligado ao que pode ser considerado comida, desde frutas frescas, mais frequentemente mencionadas, à gelatina em pó, um alimento totalmente industrializado, e também passível de ser ofertado. O sentido da oferta, mencionado pelos três produtores de conteúdos aqui analisados, está ligado com o receber e emanar energias positivas; agradecer e desejar a todo mundo prosperidade. Essas mensagens positivistas e globais, reforçadas pela Sôka Gakkai, se mostram efetivas estratégias de divulgação religiosa – não só da doutrina de Nichiren, como outras novas religiões budistas – e aparenta atrair membros, muitas vezes não necessariamente dispostos a seguir rigorosamente a doutrina, mas por enxergarem um refúgio mental e espiritual na prática religiosa, a adicionando ao cotidiano. Palco de hibridizações, por um lado, o repertório religioso do butsudan e da oferta, e por outro, o histórico de vida do praticante que o levou a categorizar no mundo coisas como comida, é revelado o “terceiro espaço”, lugar para “a negociação das diferenças incomensuráveis, […]” (ROCHA, 2010, p.63).

 

Referências

Rafael Meira de Oliveira é graduando em História pela Universidade Estadual de Londrina (UEL)

 

ANDRÉ, R. G. O dharma na impermanência da web: difusão e transformações do zen-budismo na internet (2015-2017). Horizonte, Belo Horizonte, v.16, n.51, set/dez, 2018, p.1240-1269.

ANDRÉ, R. G. Entre a Casa, o Túmulo e as Cinzas: Permanências e transformações do culto budista aos ancestrais entre nipo-brasileiros. Religare, v.13, n.2, dez, 2016, p. 445-479

ANDRÉ, R. G; LUIZ, L. H. O retorno dos ancestrais: Bom Odori e ritos mortuários no Templo Budista Honpa Honganji em Londrina. Antíteses, Londrina, v.11, n.22, jul/dez, 2018, p. 890-915

DINIZ, A. M. A. Surgimento e dispersão do Budismo no mundo. Espaço e Cultura, Rio de Janeiro, n.27, jan/jun, 2010, p.89-105.

LEGRAMONTE, E. Oratório Budista – BSGI – Nitiren Daishonin, 2018. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=xvnXK5QGOac

LUCIANO; GABRIELA. Oratório Budista, 2018. Disponível em:

https://www.youtube.com/watch?v=kNo-vO7anGo&t=228s

NAPOLITANO, M. Fontes audiovisuais: a história depois do papel. In: PINSKY, C. B. Fontes Históricas. 2. ed. São Paulo: Contexo, 2008. p. 235-291.

PEREIRA, R. A. A associação Brasil Sôka Gakkai Internacional: do Japão para o mundo, dos imigrantes para os brasileiros. In: USARSKI, F. O Budismo no Brasil. São Paulo: Editora Lorosae, 2002, p.253-286.

ROCHA, C. A globalização do budismo. Estudos de Religião, v.28, n.2, jul-dez, 2014, p.59-73

SANTOS, C. R. A. A comida como lugar de história: as dimensões do gosto. História: Questões e Debates, Curitiba, n.54, 2011, p.103-124.

SILVA, P. P. A alimentação no Brasil com Paula Pinto e Silva e Rosa Wanda Diez-Garcia. São Paulo: SESC São Paulo, 2018. Disponível em:

https://www.youtube.com/watch?v=RJDJh4Lbt1c&list=LLfE66FkgVPhlNDC26gMlTYA&index=8&t=5149s. Acesso em: 05 maio 2020.

SOUZA, F. M. Oratório e Concessão de Gohonzon, 2016. Disponível em:

https://www.youtube.com/watch?v=53DjwqOv08c

USARSKI, F. O momento da pesquisa sobre o budismo no Brasil: tendências e questões abertas. Debates do NER, Porto Alegre, v.7, n.9, jan/jun, 2006, p.129-141.

 

4 comentários:

  1. Oi Rafael, nossa gostei muito que você tenha trazido essa visão tão alternativa e atual de se analisar as práticas budistas. O uso dos vídeos do YouTube por você trazem uma perspectiva muito atual de metodologia que meio que articula usa hibridez entre História, Antropologia e Tecnologia. Adorei! E você ainda é graduando! Espero que leve essa perspectiva para aplicar na sala de aula quando professor, pois é disso que precisamos!

    O que me deixou mais surpresa foi essa divulgação das práticas das oferendas alimentares e uso dos oratórios de forma pública. Você tem ideia do que os segmentos vinculados aos templos budistas que seguem essa linha analisada por você, na figura dos monges acham disso? Eles concordam com essa divulgação? Acreditam que a mensagem correta está sendo transmitida? Ou você vê um distanciamento e a construção de uma representação social independe dessa prática através dessas postagens no YouTube?

    No mais, parabenizo seu trabalho! Excelente!

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    1. Oi Janaína! Fico feliz que tenha gostado do texto e agradeço muito pelo tempo por você dedicado a leitura do mesmo. Embora bem recente, acredito que a plataforma Youtube é um espaço muito rico em fontes a serem analisadas.

      Sobre o seguimento budista analisado, o foco foi como os praticantes se apropriam deste rito de caráter mortuário. Acredito que haja um distanciamento e a construção de uma representação social mais pessoal por parte do praticante, uma vez que não há restrições sobre a ideia de alimento enquanto oferenda, pelo que eu pude perceber até o momento da minha pesquisa nesta temática. Portanto, é como se dentro do Budismo, esses praticantes pudessem se encontrar e praticar um ritual marcado ao mesmo tempo por tradições, como a disposição dos elemento que formam o Butsudan, e também pelo pessoal, quando um praticante decide qual será o alimento utilizado como oferenda.

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  2. Ótimo texto!
    O fato de poder usar gelatina em pó, industrializado e de origem animal, não é um contra ponto com o desenvolvimento da Ahimsa (misericórdia) o que faz das religiões indianas como hinduísmo e budismo, grandes difusores do vegetarianismo ? Essa liberdade em escolher o alimento não seria uma forma de abrandamento do budismo com fins proselitistas ?

    José Augusto Lara

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    1. José, muito obrigado pela pergunta!
      Sobre o uso da gelatina em pó enquanto oferenda é possível uma vez que a ideia de alimento me parece bem amplo, possibilitando a inserção deste tipo de alimento. Não me parece haver uma profunda atenção para o alimento no butsudan. Isso leva a segunda pergunta, acredito que seja estrategicamente uma forma de atingir um maior número de adeptos, assim como, por exemplo, no texto do NELSON, J. Household altars in contemporary Japan: rectifying Buddhist “ancestor worship” with home décor and consumer choice. Japanese journal of religious studies, v. 35, n. 2, p. 305-330, 2008, o autor demonstra como houve uma tentativa de universalizar o uso do rito mortuário, alcançando um público ocidental. Portanto, essa liberdade pode ser considera como forma de proselitismo, se mostrando efetivo, pois, os praticantes dos vídeos analisados neste trabalho não possuem descendência japonesa e possuem certo vínculo com o budismo da Sôka Gakkai.

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