Ronyone de Araújo Jeronimo

 

“UM COPEIRO REAL”: O REINO DA PÉRSIA TRANSPORTADO PARA CAMPINA GRANDE-PB NAS PÁGINAS DA REVISTA EVOLUÇÃO

 

“Há muito e muitos anos, viveu na Pérsia um pequeno príncipe chamado Ciros. Não era orgulhoso, nem arrogante como os outros príncipes. Apesar de ser filho do rei, Ciros foi educado com toda simplicidade. Ensinaram-lhe a trabalhar. Sua alimentação era muito simples. Dormia em cama muito dura e teve de aprender a suportar o frio e a fome. Aos doze ele foi até a Média, que era outro país, visitar o seu avô, Astiages, um rei muito rico e poderoso. Ciros era tão alto e forte que seu avô se sentia muito orgulhoso dele. Desejava que o rapaz ficasse na Média e por isso dava-lhe muitos presentes e fazia tudo o que podia para o agradar.” [REVISTA EVOLUÇÃO, 1931, nº3, p. 31]

Folheando as páginas da Revista Evolução me deparo com um conto intitulado “Um copeiro real” que apresenta personagens históricos inseridos em um cenário diferente do vivenciado por esses sujeitos. A trama tem como cerne a relação familiar entre um avô e um neto, que nutre um pelo o outro um carinho recíproco que pode se assemelhar a qualquer relação existente entre indivíduos de uma mesma linhagem tanto para época que essa história fora publicada, quanto para os dias atuais. Essa abordagem buscava inspirar em seus leitores proximidade, mesmo se tratando de personagens que viveram há muitos anos em outra cultura, distante da Campina Grande da década de 1930. Todavia, o autor que construíra essa narrativa nutria o desejo de aproximar essas duas culturas [separadas pelo tempo e pelas tradições], com o intuito de apresentar similaridades que convergissem para que sua estória fosse coerente, e proporcionasse aos seus leitores empatia pelos personagens e aprendessem com o desfecho do enredo, que por sinal é carregado de valores morais que incitam o cuidado com o corpo e a mente. Considerando que esse meio de comunicação tinha como sede o Instituto Pedagógico Campinense, escola particular centenária de Campina Grande [Hoje em dia a escola recebe o nome de Colégio Alfredo Dantas, nome do primeiro proprietário da instituição e diretor da revista em questão], era de se imaginar que a conclusão tivesse um caráter educativo.

A própria Revista enfatiza através de um texto de apresentação produzido por sua equipe editorial que a mesma era um “reflexo pedagógico do Instituto”. Porém, apesar de ser um espelho das práticas e metodologias que circulavam nas dependências da referida escola, a priori, havia o desejo evidenciado no editorial de não se restringir apenas a veicular ideias e fatos de seu interesse, pois o seu propósito seria “mais nobre: agremiar inteligência culta no intuito de coordenar esforços no apiário das letras” [REVISTA EVOLUÇÃO, 1931, nº1, p.9]. Logo, a intenção desse impresso era fomentar em seus leitores e assinantes o gosto pela leitura, para que esses sujeitos não parassem apenas nas páginas de sua Revista, mas continuassem a percorrer outras, principalmente as referências que eram apresentadas em seus textos. É importante destacar que os autores que contribuíam com artigos para esse magazine eram na sua maioria membros do corpo docente e discente do Instituto Pedagógico Campinense. Por consequência disso, as opiniões que circulavam naquele ambiente educacional eram observadas. Como era o caso dos debates acalorados a favor da escola laica e contra o ensino confessional, principalmente com a instalação de duas grandes escolas dessa vertente em Campina Grande no ano de 1931, que surgiam para contrapor as iniciativas da Instituição dona da Revista Evolução. Nesse cenário, outro tema que se destacava no impresso era a defesa da pedagogia da Escola Nova em oposição a pedagogia Tradicional:

“A Escola Nova também emerge nesse sentido para trazer novas estratégias da política educacional, rebatendo os princípios da pedagogia tradicional e discutindo os benefícios de uma escola laica. Com isso, a direção do Instituto Pedagógico mostrava-se favorável a esse novo modelo de educação escolanovista e laica, exercendo um papel muito forte na construção de uma educação livre de ensinamentos dogmatizados, principalmente pela Igreja Católica.” [COSTA, 2019, p. 26].

Nesse sentido, o apoio a essas novas formas de pensar a educação motivaram a escrita dos diversos artigos que foram publicados na Revista, inclusive o conto que apresentamos no início desse trabalho, e retomamos aqui com intuito de destrincha-lo para entendermos a proposta que essa abordagem nutria. É perceptível que para a produção dessa estória o autor fosse um conhecedor ou um voraz leitor de obras correspondentes das civilizações antigas. Pois, este constrói uma narrativa que explora personagens históricos, retirando de suas vivências conflituosas, para criar um cosmo no qual esses sujeitos evidenciam uma relação familiar análoga às existentes para sua época. O autor que não tem a sua autoria identificada ao final da estória, é um indício que o mesmo não fazia parte do corpo docente da Instituição. Pois, comumente quando os professores escreviam para o impresso os seus nomes eram exibidos ao fim de cada texto, já os discentes tinham um tratamento diferenciado, tendo seus nomes revelados em iniciais ou até mesmo sendo excluída a sua autoria. A Evolução não explica os motivos que a levaram a fazer essas distinções. Todavia, uma das motivações que poderiam explicar essa prática pela Revista, poderia ser com intuito de preservar os seus educandos de possíveis críticas que fossem danosas para seu amadurecimento no campo das letras. O anonimato poderia ser também um incentivo para superação da timidez de alguns discentes que dominavam a escrita e temiam que seus textos fossem expostos em público. Essa política pode ter contribuído para uma colaboração maior dos educandos(as) com a magazine, sem nenhum pudor de serem questionados por seus colegas ou pelos leitores do meio de comunicação, já que suas identidades eram omitidas, e esse poderia ser o caso do autor de “Um copeiro real”.

Em virtude do apoio oferecido pela escola para criar conteúdo para sua Revista, que o Oriente desembarcaria no interior paraibano em um conto que traria como protagonista o jovem Ciros, um príncipe persa que deixaria sua pátria para visitar o seu avô, o rei da Média. O texto apresenta as qualidades do menino que apesar de ser um herdeiro real, possui uma natureza simples, devido a sua criação. Essas inclinações e o senso de justiça misturado com a pureza da juventude de Ciros, despertava no seu avô o desejo de que o jovem permanecesse na Média e não mais retornasse para sua pátria. Pois, o rei dos medos observava em seu neto um sucessor para seu trono. Logo, temendo perder o herdeiro para outro reino, Astiages buscava sempre agradar o jovem com presentes e festas, para que ele decidisse permanecer ao seu lado.  É perceptível nessa trama a relação afetiva entre Ciros e Astiages que dentro desse universo imaginativo construído pelo o escritor dessa estória, evidencia uma relação que esses dois sujeitos nunca demonstraram um pelo o outro, em razão dos acontecimentos que antecederam o nascimento de Ciros. Sobre esse assunto Heródoto [1989, p.54] nos revela que:

 “Astiages tinha uma filha, chamada por ele de Mandane; ele sonhou que a urina dela inundava a sua cidade e depois transbordava toda Ásia. Astiages relatou a visão que tivera em um sonho aos intérpretes magos, e ficou apavorado ao ouvir as suas palavras. Mais tarde, quando essa Mandane chegou a idade de casar, ainda sob a impressão do sonho ele teve receios de dá-la em casamento a qualquer medo digno de junta-se à sua família, preferindo casá-la com um persa chamado Cambises, um homem que ele sabia ser bem nascido e de temperamento tranquilo, e que em sua opinião  estava muito abaixo  de um medo de condição regular. Mas no primeiro ano do casamento de Mandane com Cambises, Astiages teve outra visão; pareceu-lhe que das partes pudendas de sua filha crescia uma vinha, e que essa vinha cobria toda Ásia. Após relatar sua visão aos intérpretes de sonhos ele mandou vir da Pérsia a sua filha, cujo parto estava próximo, e quando ela chegou mandou que a vigiassem de perto; ele pretendia matar a criança esperada pela sua filha, pois segundo os magos intérpretes de sonhos sua visão significava que o filho de sua filha reinaria em seu lugar”.

Por consequência desses presságios, o rei dos medos tomara medidas drásticas para manter o seu trono, que incluía matar o seu neto recém-nascido. Essa atitude tomada por Astiages teria um efeito negativo para si e para os medos que subjugavam os persas. Pois, a criança que estava por nascer era fruto da mistura desses dois povos. Mandane teve seu filho retirado de seus braços por um dos servos de seu pai, para se cumprir o triste desígnio que estava decretado antes dele nascer. Contudo, o desenlace dessa história se assemelha a muitas narrativas míticas de crianças que foram condenadas à morte, devido a maus presságios descritos por oráculos. Como nas histórias de Édipo e dos irmãos Romulo e Remo, Ciros também sobreviveria ao destino que foi imposto por seu avô. Em ambas, o sujeito encarregado de cometer o infanticídio é dissuadido do ato por uma crise de consciência ou por uma sugestão de uma terceira pessoa. No caso do filho de Mandane não foi diferente, Astiages convocou o seu parente Hárpagos para que este se encarregasse do assassinato da criança. De acordo com Heródoto [1989], esse temendo algum tipo de represália futura, já que o rei dos medos era velho e não tinha descendentes homens para suceder, só restando a sua filha que poderia assumir o poder e impor ao carrasco de seu filho [caso fosse descoberto] uma pena severa. Hárpagos decide então convocar um criado do rei para que este colocasse fim na vida do menino, para que a responsabilidade pelo infanticídio caísse sobre o verdadeiro arquiteto do ato. Mitradates que deixara a sua esposa prestes a parir seu filho, ficaria encarregado de matar o descendente do trono da Média. Mas, por objeção de sua esposa que teria gerado uma criança sem vida, decide criar o menino como fosse seu próprio filho. Mitradates apresenta Hárpagos o corpo de seu filho como se fosse o neto de Astiages e este leva ao próprio. E assim Ciros (que recebera outro nome pela família de criação) sobrevive a uma condenação real, mas o desenrolar dessa história não se encerra dessa maneira.

Nesse interim, é importante retomar a estória publicada pela Revista Evolução, quando a mesma destaca que Ciros tivera uma criação baseada em privações de mordomias para a construção de seu caráter. O autor da narrativa omite de seus leitores que o príncipe de natureza simples, fora criado por uma família de cativos, tratados segundo Heródoto (1989) enquanto cachorros. Essas omissões fazem parte da liberdade criativa adotada pelo mentor do enredo que fora publicado no impresso campinense.  A sua abordagem enquanto escritor não era de expor os fatos baseados nas fontes, e sim extrair destes eventos a imaginação necessária para se obter uma narrativa ficcional sobre esses acontecimentos. Para Rezende [2010, 113] brincar com as palavras é o mesmo que examinar como funciona nossa mente, diante do processo de criação que a linguagem se utiliza para transpor para o mundo uma obra do inconsciente, fruto de devaneios que a escrita e os processos artísticos permite ao ser humano expressar. Bachelard [1988, p.21] por outro lado ressalta a importância de manter viva a criança que fomos, pois é através da inocência dessa época que alguns processos imaginativos são explorados. “Talvez possamos dizer que toda criança quando brinca se comporta como um escritor de ficção” [REZENDE, 2010, 113], construindo para si um universo de possibilidades que não se restringe a realidade a qual estamos acostumados. O brincar é um eterno faz de conta, no qual um sujeito de uma classe social subalterna pode ser um rei e impor a sua lei para um sujeito de uma estirpe maior, como foi o caso de Ciros que foi descoberto em uma dessas atividades da terna infância.

De acordo com Heródoto [1989, p.56] quando Ciros tinha aproximadamente dez anos, ele “costumava brincar no povoado onde ficavam os currais do rei”. Certo dia as crianças da região em uma das brincadeiras decidiram escolher entre eles, um rei. O escolhido foi Ciros que logo demonstrara desenvoltura nessa arte, distribuindo posições para as demais crianças. Uma delas não aceitou as ordens de sua alteza e fora castigada. A criança em questão era filho de um medo importante que ficara ultrajada com a violência que seu herdeiro tinha sofrido, buscando imediatamente Astiages para que o mesmo punisse o garoto e sua família. O soberano mandou chamar Mitradates e seu filho para efetuar a punição pela agressão a um de seus cortesãos. Todavia, o monarca teria uma surpresa: o garoto interrogado era seu neto, os modos de agir e falar e as semelhanças com a sua família o impactaram. O rei então impeliu Mitradates para que este contasse a verdadeira identidade do menino, a princípio não revelara. Porém, quando o mesmo fora ameaçado de ser castigado, toda história veio à tona. Hárpagos sofrera as consequências da sua omissão, e a punição que tanto temia, veio de uma forma cruel e degradante. A pena pelo não cumprimento das ordens do rei dos medos caíram sobre seu filho, que fora degolado e cozinhado para que o próprio Hárpagos comesse. Essa atitude tivera um efeito danoso para os medos, pois Hárpagos começara a conspirar contra o rei, buscando vingança para seu filho. Astiages ainda não sabia o que fazer com seu neto, buscou ajuda novamente dos magos, e estes revelaram que na brincadeira ele já tinha governado e despreocuparam o soberano.  Contudo, as ações impetradas pelo rei tiveram, como já destacado aqui, consequências que levaram os medos a tornarem-se escravos dos persas antes subjugados. Devido aos arranjos de Hárpagos que convencera Ciros de que seu avô era uma ameaça, esse incitou os persas a derrubar o julgo e a conquistar a Média.

Em contraste com essa narrativa de Heródoto, o autor do conto “Um Copeiro Real” ressignifica esses personagens históricos, buscando envolver o leitor da Revista com uma trama de um sujeito de certo reconhecimento nos estudos do mundo antigo, para obter dos consumidores do impresso uma aproximação com seu enredo, que nutria o desejo de educar os sujeitos que tivessem acesso as leituras aos maus hábitos que degenerava o corpo e a mente. Ciros nessa estória é um pequeno sábio que repreende o avô por excessos no consumo de bebidas e no desperdício de comida na festa que este tinha organizado para celebrar a sua presença. Todavia, nessa ocasião é verificado o desconhecimento do rei dos medos de alguns costumes e práticas do povo persa que seu neto comunga. Como por exemplo de não ofertar banquetes, pois os sujeitos dessa cultura são avessos a essa prática, e só consomem alimentos para se saciar e não para esbanjar. É por esse motivo que o jovem persa não convida ninguém para sua festa. “O rei Astiages não sabia se devia zangar-se ou não” e perguntou ao seu neto o que deveria ser feito com as iguarias preparadas para aquela oportunidade, sem hesitar este decidiu “repartir entre nossos criados” [REVISTA EVOLUÇÃO, 1931, nº3, p. 31]. Sem oposição do monarca da Média, o banquete fora repartido, quase todos os “criados” receberam uma porção, exceto Sarcas que era o copeiro real.

O rei dos medos estranhou a atitude de seu parente e logo o interrogou por aquela falta “para dizer a verdade, respondeu Ciros, não gosto dele. É muito presunçoso e arrogante. Está convencido que é muito elegante quando serve ao senhor [REVISTA EVOLUÇÃO, 1931, nº4, p. 10]. O rei de fato comprova as qualidades do copeiro, e o neto não discorda. Contudo, pede para que no dia posterior exerça essa função, para mostrar que poderia fazer a mesma coisa que Sarcas. Sem objeção de seu avô, este incorpora-se em um copeiro real, e demonstra toda graça ao servir ao rei, a taça de vinho, os seus gestos e finezas surpreende a todos. Uma salva de aplausos é efetuada, porém Astiages aponta um erro de Ciros: esse não experimenta o vinho. Pois a função do copeiro real é constatar se a bebida consumida pela alteza não está envenenada. O menino admite o erro, e revela sua inocência ao dizer que a bebida possui veneno. Todos ficam perplexos com aquela afirmação. Quem estaria tentando contra a vida do rei? A resposta é de que no dia anterior o monarca tinha consumido e procedera de forma estranha que não correspondia a altura do cargo que exercia. Constrangido, Astiages indagara o neto se este nunca vira o seu pai nessa condição. E este respondeu espontaneamente que não, pois na “Pérsia não se bebia simplesmente por beber e sim para satisfazer uma necessidade.”

Em suma, podemos perceber que o autor que produziu essa narrativa que foi publicado pela Revista Evolução introduziu esses personagens históricos, mirando construir uma trama que abordasse a importância dos valores morais e do cuidado do corpo e da mente. Logo, a cultura persa é apresentada nessa estória enquanto um referencial a ser seguido.  Pois, as atitudes tomadas por Ciros são reflexos de uma cultura que não tolera nenhum tipo de vícios e de desperdícios, que corrobora com os aprendizados que o Instituto Pedagógico estimava, e que foram traduzidos nesse enredo com a intenção de formar sujeitos sadios e habilitados para a vida em sociedade. Contudo, “o autor parece convidar o leitor a permanecer na camada imaginária que se sobrepõe e encobre a realidade histórica” [ROSENFELD, 2009, p.13]. Dessa maneira, fatos que evidenciam eventos ou atos que não condizem com a sua narrativa são omitidos, com a intenção de construir no imaginário dos leitores um cosmo de possibilidades que engloba até mesmo os personagens históricos. Analogamente “Um Copeiro Real” se utiliza da narrativa fantástica para transportar sujeitos de uma realidade para outra mais palatável, para aproximar leitores do interior paraibano com as tradições advindas do oriente, mesmo que deturpada, pois a intenção da Revista era essa: incentivar os seus  possíveis leitores a se interessarem pela leitura, e através desse conto, naturalmente, buscassem mais sobre a história do povo que possibilitou essa narrativa.

 

Referências

Ms. Ronyone de Araújo Jeronimo pela Universidade Federal de Campina Grande – UFCG.

 

BACHELARD, Gaston. A Poética do Devaneio. Tradução: Antônio de Pádua Danesi. São Paulo; Martins Fontes, 1988.

COSTA, Alisson Pinheiro. “Escola Leiga”: A Defesa do Ensino Laico no Instituto Pedagógico Campinense Pelo Olhar Escolanovista. In: A Cultura Escolar e Práticas Educativas: Modos de Viver e Pensar a História da Educação. Org: Alexandro dos Santos, Elson da Silva Pereira Brasil, José dos Santos Costa Júnior, Regina Coelli Gomes Nascimento, Ronyone de Araújo Jeronimo. Campina Grande; EDUFCG, 2019. [p.13-34].

HERÓDOTO. História, Trad. Mário da Gama Koury. Brasília; UNB. 1989.

REVISTA EVOLUÇÃO. Campina Grande - PB: Edição de 1931 -1932. Arquivo da Biblioteca Atila de Almeida – Universidade Estadual da Paraíba – UEPB. Publicação Mensal, n. 1 a 9.

REZENDE, Antonio Paulo. Ruídos do Efêmero: Histórias de Dentro e de Fora. Recife; Ed. Universitária da UFPE, 2010.

ROSENFELD, Anatol. Literatura e Personagem. In. A Personagem de Ficção. São Paulo; Perspectiva, 2009.

3 comentários:

  1. Olá, Ms. Ronyone, primeiramente parabéns pelo seu rico texto. Muito bom ver a História de Campina Grande sendo abordada nesse simpósio por meio deste seu trabalho. A Revista Evolução é incrível. Entretanto, em relação a defesa da pedagogia da Escola Nova, em contraposição ao ensino tradicional, podemos afirmar que o corpo diretivo da Revista fazia isso preocupada com a educação dos estudantes, ou atendia e reafirmava o interesse das elites locais da época?

    Anderson Gonçalves do Nascimento Sousa

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Olá Anderson, é um prazer te ver por aqui, fico muito feliz em responder a sua questão, que por sinal representa um dos principais pilares pedagógicos aplicados pelo Instituto Pedagógico Campinense, na época que esse artigo foi produzido. É importante salientar que a própria Revista Evolução surgiu com intuito de ser um reflexo das opiniões e ideias que circulava naquele colégio, que eram compartilhadas pelos profissionais que compunham essa instituição e principalmente pelo seu gestor e fundador da escola o Tenente Alfredo Dantas. Na época que surgiu a Revista Evolução, o instituto Pedagógico Campinense já era a principal escola da cidade de Campina Grande, isso desagradava uma parte da elite campinense que não aceitava os modelos adotados por esse colégio que possuía práticas modernas, diferentes das outras instituições existentes na cidade. Só para ilustrar, a defesa da prática de exercícios físicos para as discentes do gênero feminino, algo incomum para a década de 1930 no interior paraibano, sendo alvo de críticas severas nos meios de comunicação de Campina Grande, e principalmente por autoridades ligadas a Igreja Católica, que desaprovavam as novas modalidades de ensino aplicadas pelo IPC. Um outro aspecto que também desagradava essas autoridades era o fato do Tenente Alfredo Dantas e sua família serem protestantes, tendo entre os membros que formavam a equipe de docentes alguns professores que também compartilhavam desse credo. Logo, a Igreja Católica observava no IPC uma ameaça que deveria ser combatida por meio de uma educação confessional. Nesse sentido uma ofensiva foi efetuada no ano de 1931 com a instalação de duas escolas em Campina Grande ligadas a igreja Católica, uma especifica para gênero masculino “O Pio XI” e outra para gênero feminino “Imaculada Conceição (As Damas). Em razão do surgimento dessas duas escolas que o Tenente Alfredo Dantas reafirma sua intenção por difundir e defender o ensino leigo, deixando para os pais a responsabilidade pela parte religiosa de seus discentes, e afastando do ambiente de sua escola discussões religiosas. O próprio surgimento da Revista Evolução surge com essa intenção de explanar a importância dos valores e das metodologias que estavam sendo aplicadas em sua instituição que se diferenciava do modelo tradicional. Em suma, é evidente que existam intenções por trás da implementação do modelo da Escola Nova no IPC, haja vista, que quando a escola foi fundada em 1919 o modelo da mesma era o tradicional. Todavia, a partir de 1926 observamos que a instituição do Tenente Alfredo Dantas adota o modelo da Escola Nova, justamente no mesmo ano que começa a brotar os primeiros defensores desse método entre os docentes da escola pública de Campina Grande o Sólon de Lucena. Observando a História do IPC com a época que surgiu a Revista Evolução, a qual foi alvo de sua pergunta. É de se concluir que existia a preocupação da equipe diretora com seus estudantes, tendo em vista, que estes difundiam valores que eram disseminados na instituição, como por exemplo a importância da educação feminina, como parte de sua emancipação. Contudo, a intenção por trás da criação da Revista Evolução era a defesa do modelo adotado pelo IPC perante as novas casas de ensino que surgiam com intuito de contrapor o Colégio do Tenente Alfredo Dantas.

      Att:

      Ronyone de Araújo Jeronimo

      Excluir

Observação: somente um membro deste blog pode postar um comentário.